Conferi o piloto de Penny Dreadful em 2014, quando a série lançou. Na época achei tudo muito confuso e abandonei. Porém, depois de ver várias pessoas insistindo que a série valia a pena, decidi dar uma nova chance. O resultado? Me arrependi de ter julgado a trama tão cedo e de ter abandonado o barco! É simplesmente FENOMENAL, gente!
Criada por: John Logan (roteirista de Gladiador e Sweeney Todd)
Canal: Showtime (US) e HBO (Brasil)
Temporadas: 3, até o momento
Elenco: Eva Green (Os Sonhadores), Reeve Carney (que vocês devem reconhecer do clipe "I Know You Were Trouble" da Taylor Swift), Timothy Dalton (007 - Permissão Para Matar
Sinopse: Em Penny Dreadful, alguns dos personagens mais famosos e assustadores da literatura mundial, como o Dr. Frankestein e sua criação, o eternamente jovem Dorian Gray e icônicas figuras do romance Dracula, estão todos vivendo nos cantos obscuros de Londres Vitoriana. Um thriller psicológico que mescla histórias de terror clássicas e histórias originais em um drama inteiramente novo.
Quando você escuta a palavra "gótico" talvez a primeira imagem que venha na sua cabeça seja daquelas pessoas vestidas de preto, usando maquiagem pesada, que escutam rock/metal e nutrem uma obsessão por cemitérios, tudo que é melancólico e "dark". Porém, no século XVIII/XIX o termo tinha uma conotação muito diferente, sobretudo na literatura. Em 1764, o escritor inglês Horace Walpole publicou o livro "O Castelo de Otranto", uma história sombria que envolve elementos sobrenaturais, visões fantasmagóricas, fatos inexplicáveis, paixões e traições e que hoje é considerado o primeiro romance da literatura gótica. Com a obra, Walpole pretendia era imprimir na literatura moderna - tida por ele como algo realista demais - algo de fantasioso/imaginativo que era encontrado nos romances medievais. A obra não foi muito bem recebida pelos críticos de sua época, porém isso não impediu que o gênero crescesse, influenciando diversos outros autores e atingindo seu ápice na era vitoriana. Foi nesse período inclusive que nasceram grandes clássicos - que hoje fazem parte do imaginário de todos nós - como Drácula, Frankenstein, O Médico e o Monstro e O Retrato de Dorian Grey.
Tá, mas o que tudo isso tem a ver com uma série de TV? Penny Dreadful bebe dessa fonte (o nome da série é inspirado pelas cartilhas com histórias de terror - daí o Dreadful - que eram vendidas à um penny - um centavo - nas ruas de Londres no século XIX), isso é, a série pega emprestado personagens desses grandes clássicos da literatura para contar uma nova história. Mas o aspecto gótico vai além dos personagens. Umas das características do gênero que mais me marcou quando estava estudando a literatura inglesa do séc XIX na faculdade é o fato dos autores conseguirem achar beleza no grotesco, o que a série consegue reproduzir muito bem. Penny tem elementos de terror psicossexual (algo que American Horror Story também tenta fazer, mas devo dizer que Penny faz bem melhor sorry, not sorry). Na história, há presença de demônios, vampiros, bruxas, lobisomens, bastante sangue, umas bizarrices, mas tudo isso é embalado numa produção impecável, de uma elegância impar. Sem falar que se você retirar todo o contexto sobrenatural, o que a série mais discute é a essência do ser humano. Tem cada diálogo belíssimo sobre o amor, a solidão, loucura x normalidade, a bondade ou a bestialidade intrínsecas ao homem (que me lembra muito a teoria de Freud sobre id x superego x ego) e muito mais... Sério, é um seriado com um conteúdo bastante rico, mas que em nenhum momento se torna complexo demais ou difícil de acompanhar. A trama é bem interessante!! Embora eu ache que o mais legal é reparar essas sutilezas do roteiro.
Outro ponto alto da série é a construção dos personagens. Eles vão muito além do que encontramos em suas obras de origem, acredito eu, com uma carga emocional e uma profundidade muito maior. Há algumas personagens que podem ser consideradas centrais, mas até mesmo aquelas mais coadjuvantes são muito bem desenvolvidas e ganham seu espaço para brilhar. E gente, é claro que para interpretar personagens tão complexos o elenco tinha que ser nada menos espetacular. E é! O destaque é sem dúvida a diva, rainha da p. toda Eva Green, que não tem nenhum medo de mergulhar de cabeça em sua Vanessa Ives, e assim captar com perfeição todas as nuances da personalidade complicada da personagem. Tenho nem palavras para descrever o quão incrível é o trabalho da Eva! Não sei como a série chegou na sua terceira temporada e a atriz ainda não está coberta de prêmios dos pés à cabeça (acorda Emmy!!!). Enfim, Eva samba, mas todo o elenco é mais do que competente.
Ah gente.. podia ficar aqui falando um monte de coisa o dia todo, mas Penny Dreadful é uma daquelas produções que só mesmo assistindo para entender o brilhantismo da coisa. Então não perca tempo! As duas primeiras temporadas estão disponíveis na Netflix. Pode dar play que garanto que você não vai se arrepender!
Trailer da Série
*Um agradecimento especial ao meu amigo Caio Lima e à Stephani Cordeiro do grupo do podmaniacos
2 comments:
Muito obrigada pelo agradecimento. Seu texto ficou maravilhoso, conseguiu captar bem as nuances da série. Parabéns Vitor
Para mim Penny é uma das melhores series já feitas, pelo desenvolvimento dos personagens. Só espero que como a maioria das series americanas não fiquem inventando "n" temporadas e acabem com todo contexto que até o momento é impecável.
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