Pequeno Segredo


Para quem têm costume em acompanhar o programa Fantástico (Rede Globo), o nome Schürmman deve soar familiar. O clã, vindo do sul do país, costumava ter um quadro no folhetim sobre suas viagens inusitadas ao redor do mundo. Mas algo que nunca fora revelado ao público era que a pequena Kat, filha do casal falecida em 2006, era protagonista de uma história comovente de adoção. A origem da menina é agora recontada por David Schürmman, irmão da garota e cineasta, através da película 'Pequeno Segredo', outra das estreias desta quinta-feira (10).

Ali, conexão entre pais e filha é revelada com desacerto e fragilidade, o que acaba levando ao melodrama fantasioso que não consegue convencer nem com as alegorias usadas.

Ao iniciar da película, o espectador é levado pelas lentes de Schürmman em takes amplos feitos no oceano, ao som de uma canção de ninar. Quando a câmera desacelera encontra-se com um grupo à beira da praia realizando um ritual maori. Heloísa, personagem de Júlia Lemmertz, começa a narrar um pedaço da história. Em seguida, a personagem vivida por Mariana Goulart, Kat, toma a posição de Júlia e conhecemos a delicadeza de uma menina doce e com preocupações distintas. Não demora muito e o ambiente se altera para o interior do Brasil onde são introduzidos os personagens Robert (Erroll Chand), um engenheiro neozelandês que está ali trabalhando em uma obra, e também a local Jeanne (Maria FLor). Robert é o narrador desta sequência e por seus olhos vemos uma paixão nascer e se desabrochar. O caminhar da trama então segue seu destino pela alternância destes personagens.

O enredo se preenche ainda com a mãe de Robert (Flannula Flanagan), seu marido (Michael Wade) e o também marido de Heloísa (Marcello Antony).



A produção é recheada de conflitos mal empregados e que soam superficiais, apesar de comoventes. O roteiro é debilitado e a edição (ou até mesmo a direção) não conseguem salvar suas disfunções delas mesmas, o que resulta em um melodrama bem mediano.

Os destaques do casting vão para as maravilhosas Júlia Lemmertz e Flannula Flanagan, esta última que escorrega no sotaque irlandês vez ou outra, mas que fora isso é magnânima. A atriz mirim Mariana Goulart tem uma conexão com a personagem de Maria Flor na história e incrivelmente os rostos das duas são bem parecidos. Marcello Anthony é o ''Rodrigo Santoro'' do filme e os irmãos de Kat são também anulados na história - um gancho que poderia ter sido melhor aproveitado. 

O roteiro tenta trabalhar ainda conflitos sobre bullying e perseguição infantil na escola, mas não é envolvente. A trilha sonora de Antônio Pinto se faz adequada em panaromas mais alegóricos e percebe-se um bom encaixe de cenas ao termos um retorno a canção de ninar inicial.

Portanto, Pequeno Segredo não se salva do seu recorte defeituoso e em seus créditos finais emprega uma mensagem um pouco torta sobre HIV. Ou pelo menos que não condiz com a trama.


Trailer


Ficha Técnica: Pequeno Segredo, 2016. Direção: David Schürmann. Roteiro: David Schürmann, Victor Atherino, Marcos Bernstein, Eliane Carneiro Ribeiro, Heloisa Schürman, Gabriela Tocchio. Elenco: Júlia Lemmertz, Michael Wade, Mariana Goulart, Marcello Antony, Maria Flor, Eroll Shand, Fionnula Flanagan. Nacionalidade: Brasil. Gênero: Drama, Biografia. Fotografia: Inti Brions. Trilha Sonora Original: Antonio Pinto. Edição: Gustavo Giani. Distribuição: Diamond Films. Duração: 01h48min.
A produção foi a escolha mais equivocada que o Brasil já fez ao enviar um filme como representante nacional no Oscar.

Avaliação:  Dois barcos sem nome e meio (2,5/5)


10 de Novembro nos cinemas.

See Ya!
B-

Escrito por Bárbara Kruczyński

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