O mangá ''Ghost In The Shell'', de Masamune Shirow, retrata um mundo futurístico em que os humanos são aperfeiçoados pelas tecnologias de ponta e se transformam em ciborgues. A obra teve sua primeira publicação, no Japão, em 1989. De lá pra cá, a trama ainda foi levada para o mundo dos animes e também foi reproduzida em séries de tevê (ver lista de produções aqui). Hollywood que não é boba nem nada foi lá e adquiriu os direitos para fazer também a sua versão e, claro, chateou muita gente por não dar os papéis de relevância para atores orientais (uma petição online movida pelos fãs da obra de Shirow chegou a ganhar 105 mil assinaturas para que a produtora voltasse atrás na escolha do elenco).
O filme traz a atriz mais lucrativa dos últimos anos, Scarlett Johansson, no papel principal. Johansson vive a Major Motoko Kusanagi. Uma ciborgue aprimorada para ser o soldado perfeito e caçar criminosos com o comando de Aremaki (Takeshi Kitano) e a ajuda de seus companheiros de trabalho, entre eles Batou ( Pilou Asbæk). Neste futuro em que o enredo se desenrola, o terrorismo ganha outra vertente. Lá os ataques criminosos começam a atingir a mente das pessoas, onde além de as invadirem, os terroristas podem as controlar e a Major é perfeita para derrotar este novo inimigo, contudo, ela descobre que a sua transformação, feita pela doutora Ouelet (Juliette Binoche), não ocorreu devido a um acidente e decide não só investigar os fatos como ainda recuperar seu passado.
A película tem direção de Rupert Sanders (A Branca de Neve e o Caçador), roteiro da dupla Jamie Moss e William Wheeler e chega aos cinemas hoje em IMAX, 3D e 2D.
Trailer
O roteiro se dá de forma bastante explanativa e adapta de forma despretensiosa um ponto importante da trama original: a transformação da Major em ciborgue e também o seu embate com a habitação de uma ''alma'' naquele corpo - algo que já é visto como um fantasma, por assim dizer. Aliás, a protagonista revela certa hora que não se sente conectada consigo mesma como o resto da humanidade, se é que os humanos realmente sentem se assim, e isso vai a levando para lugares de questionamentos mais sérios e íntimos fazendo a perceber que possuía um passado antes de sua transformação.
O espectador começa a procurar por respostas junto a personagem ao mesmo tempo que toda a ação vai se transcorrendo. O modo automático da Major a constrói instintiva e incessante e ao seu redor vemos personagens interessantes traçarem seus conflitos. A doutora Ouelet (Binoche), por exemplo, vê-se ligada a Major de forma afetiva e a protege a todo custo dos interesses corporativos de seus chefes. O superior da ciborgue, Aremaki (Kitano), é concentrado e não só demanda respostas dela como a encoraja nas missões. Aremaki também revela camadas interessantes e que ajudam a trama a fluir em outros lados. Há um sentimento de confiança muito grande na parceria que Batou (Asbæk), braço direito da Major, estabelece com ela, todavia, a narrativa dá um leve toc de que possa ter algo além. Isto se deve ao fato de que o hacker de Michael Pitt tenha também algum tipo de admiração pela Major e é quando ele adentra o jogo que inquietações diversas da ciborgue despertam.
É sabido que os mangás conseguem empregar bem os alívios cômicos, porém, a adaptação escolhe ter tom sóbrio e se mantem assim. Por ser explanativa, ela consegue se desfazer de preconceitos e cria um mundo novo onde Johansson pode sim ser uma ciborgue modelada a partir de uma japonesa.Talvez não a que agrade fãs e opinadores extremistas de plantão, pois para estes Hollywood não deveria nem ter realizado a produção, e, por mais que queiram problematizar e achar erros aqui, esse será o menor deles, porque sim a atriz está ótima (apesar de uma cena mal feita onde ela encara a si mesma e é perceptível que estamos assistindo Johansson encarar uma dublê). Ainda assim, aprecia-se sua performance robótica por se diferenciar dos papéis de destaque que já teve no passado (as heroínas Lucy e a agente Viúva Negra da trupe Avengers, por exemplo). O elenco inteiro caminha junto, na verdade. Todavia, o Batou de Asbæk sempre que aparece em cena faz o mundo tremer e Michael Pitt é também um boa surpresa ali.
A direção de Sanders dá ao espectador ótimos planos de ação e takes cheios de ângulos diferentes. É dinâmica e focada em trazer uma introdução modesta ao mundo daquela personagem e não chateia por seguir a escolha do roteiro em aplicar a velha fórmula de conexão entre vilões e mocinhos. Pelo contrário, se sai bem mostrando tal apelação de forma prática e ainda traz um plus de cenas parecidas ao anime. Como visto nos trailers, o visual é magnifico e isso é o que deixa qualquer um embasbacado com as cores e todos os efeitos especiais que se desconstroem ali.
O figurino de Kurt and Bart segue muito dos desenhos originais e dá ao live-action um tom ultra moderno. Ver Scarlett Johansson em uma 'armadura nude' é orgástico e mais sensacional ainda quando ela está destruindo tuuuuudo. Os designers das gueixas robôs aranhas também mostraram um trabalho fera, não pode se esquecer.
Com composições de Lorne Balfe e Clint Mansell, a trilha sonora ganha um clímax incrível e há destaque para a cena em que a versão que Ki:Theory fez do clássico do Depeche Mode, ''Enjoy The Silence'', soa em alto e bom som (a canção pode ser ouvida aqui).
Ficha Técnica: Ghost In the Shell, 2017. Direção: Rupert Sanders. Roteiro: Jamie Moss e William Wheeler- baseado no Manga criado por Masamune Shirow. Elenco: Scarlett Johansson, Pilou Asbæk, Juliette Binoche, Joseph Naufahu, Rila Fukushima, Takeshi Kitano, Michael Pitt, Kaori Yamamoto. Gênero: Ação, ficção cientifica. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Lorne Balfe e Clint Mansell. Figurino: Kurt and Bart. Fotografia: Jess Hall. Edição: Neil Smith e Billy Rich. Distribuidora: Paramount Pictures. Duração: 01h47min.
Uma adaptação que, se não for comparada aos animes e ao próprio mangá, pode sim ser uma ótima pedida.
Ps: A experiência em IMAX é sublime.
Avaliação: Três Gueixas robóticas (3/5).
Hoje nos cinemas!