As amigas Beatriz (Carolinie Figueiredo), Tânia (Lyv Ziese), Ivone (Cacau Protasio) e Marilu (Mariana Xavier), são mulheres confiantes. São quem são, não importa o tamanho do manequim que vestem, quem namoram ou onde e com o quê trabalham. Isto ninguém pode negar.
O grupo é o personagem central na tentativa de filme que Ernani Nunes, diretor, e Viniciuz Marques, roteirista, trazem ao público em 'Gostosas, Lindas & Sexies', produção distribuida pela Paris Filmes que ganha as salas dos cinemas brasileiros hoje.
Com alta dose de referências que vão desde a série de tevê norte-americana 'Sexy & The City' e, possivelmente, até o nacional 'A Partilha', de Daniel Filho, o longa não desvia dos caminhos tortos que decide seguir e fica difícil de defendê-lo.
Trailer
A trama é desenhada da seguinte forma: temos um grupo de mulheres que são lindas, desbocadas e estão acima do peso. Beatriz (Carolinie Figueiredo), sonha em escrever um romance, mas por enquanto trabalha em uma revista que propaga justamente um estilo de vida diferente do qual a moça leva. Tânia (Lyv Ziese) é a amiga que precisa de consolo, pois acaba se separando do marido, após descobrir uma traição. Ivone (Cacau Protasio) é a bem sucedida do grupo. Montou sua própria rede de salões de beleza e enriqueceu. É ainda mãe solteira de dois filhos e basicamente vive para o trabalho. Já Marilu (Mariana Xavier), se divide entre diversos jobs e suas nights com os moços que lhe interessam (quase todos). A empregada das quatro, personagem vivida pela atriz Juliana Alves, obviamente, é a mesma e é colocada como outro vínculo entre o grupo, mas não surte o efeito esperado já que é adereçada de características típicas do preconceito, mulata da escola de samba, fofoqueira e afins. É inserido ainda um 'personagem mental'. Alguém que conversa com uma delas e, claro, é dublado com trejeitos escandalosos para soar engraçado. Mas só é bobo.
O que não cai bem no longa é que todas essas personagens são construídas de uma forma bastante escrota. E o pior é que mesmo elas sendo anti-éticas, malucas e sem noção a evolução delas dentro do filme é controversa. Pois elas tem a conveniência de um final feliz, mas o processo para chegar ali é permeado de preconceitos consigo mesmas e piadas que não cabem nem 'no politicamente correto' e muito menos no 'pra fazer graça de leve'.
Beatriz (Figueiredo), a sonhadora da turma é quem seria a Carrie Bradshaw no filme e quem tem momentos tórridos com um argentino, apesar de ter um amor em casa a esperando. Sua vida no trabalho é difícil pela perseguição das colegas magras, mas ela contorna tudo jogando ainda mais baixo que suas perseguidoras. Tânia (Ziese) tem um amigo fiel que não sai do seu lado por um minuto sequer e não é muito detalhista no que acontece a sua volta, além de cantadas escrotas que recebe por ai. Ivone (Protasi) é o X da questão no grupo, pois a ela são dadas cenas em que, aparentemente, um sequestro seguido de sexo seria engraçado e não é. É só tosco e medonho. Marilu (Xavier) seria o exagero do tom cômico no filme. Talvez até uma comparação barata a Samantha Jones caiba, mas não chega a tanto. Isto porquê ela sai do 'vivendo a vida adoidado' para o vamos ser anti-ética mesmo e é isso.
Há uma grande falta de cuidado por parte do roteirista aqui. Síndrome de Estocolmo, gordofobia, etnia, ética são temas que merecem muita atenção quando empregados em um contexto cômico. Não basta apenas jogar ali a cena engraçada. É necessário mais que isso. Em 'Sex and The City', as personagens se descontruíam gradualmente e seu caminhar era tão importante quanto onde elas queriam chegar. Não era gratuito como aqui foi. Aliás, ele pega referências da série e não usa uma das principais, a cidade, que aqui é o Rio de Janeiro. Um palco que poderia ter sido muito melhor aproveitado.
Trazendo para um patamar nacional, para quem lembra de 'A Partilha', de 2002, onde Glória Pires, Andréa Beltrao, Lilian Cabral e Paloma Duarte viviam irmãs completamente diferentes, a comédia ali era inerente àquelas personagens, pois elas viviam a realidade e suas tragédias acrescentavam tanto que suas diferenças eram sim um valor a mais ao filme. Em 'Gostosas, Lindas & Sexies', nada disso ocorre.
O elenco atua como o pedido, sem surpresas, e grande parte dos exageros ficam por conta das pequenas participações de Márcia Cabrita, Paulo Silvino e Marcos Pasquim. As crianças que interpretam os filhos da personagem de Cacau Protásio aparecem com falas tão escrotas quanto a grande maioria dos diálogos no filme. Os créditos finais foram a única emoção do filme inteiro.
Ficha Técnica. Título original e ano: Gostosas, Lindas & Sexies, 2017. Direção: Ernani Nunes. Roteiro: Viniciuz Marques. Elenco: Carolinie Figueiredo, Lyv Ziese, Cacau Protasio, Mariana Xavier, Marcos Pasquim, Márcia Cabrita, Juliana Alves, André Bankoff, Eliane Giardini, Paulo Silvino. Nacionalidade: Brasil. Fotografia:Marcelo Brasil . Montador: Ricardo Carvalho. Distribuidora: Paris Filmes. Duração: 01h50min.
Não recomendado para menores de 14 anos
Avaliação: Uma tonelada de preconceitos na cara do Brasil (1/5).
Hoje nos cinemas!
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