quarta-feira, 31 de maio de 2017

Inseparáveis


Inseparáveis chega as telonas nacionais com a difícil tarefa de lhe fazer ficar plantado na sala fria do cinema por mais de uma hora e meia de filme. Isto porquê a produção portenha é um remake fajuto do recente 'Intocáveis', longa emocionante de Eric Toledano e Olivier Nakache, lançado em 2012, aqui no Brasil.

A trama é a mesmíssima. Um rico tetraplégico decide contratar um cuidador sem experiência alguma e para sua surpresa acaba ficando amigo do rapaz e vivendo situações inusitadas ao seu lado.

A produção tem Oscar Martinez (Relatos Selvagens e Koblic) e Rodrigo de La Serna (Diários de Motocicleta) nos papéis centrais, além das atrizes Carla Paterson e Malena Sanchez.

Trailer


Carnevale, roteirista e diretor, parece se concentrar mais em levar a produção ao público que talvez não tenha visto o longa francês - por falta de conhecimento ou até pelo entrave da língua - do que exatamente trazer uma nova alternativa cinematográfica para a história. Diz-se isto, pois seu roteiro segue com 'maestria' a estrutura do filme de 2012. Na verdade, modifica detalhes tão ínfimos que estes quase não fazem diferença.

O personagem de Rodrigo de La Serna, Tito, é metido a malandrão, mas lá no fundo é um grande bebezão - apesar da origem humilde e dos problemas familiares enfrentados. Sua conexão com Felipe, Oscar Martinez, ocorre de forma bastante forçada e não lembra nem em sonho a boa química de Omar Sy e François Cluzet, em cena. Há uma escolha clara do ator de se impor mais atrapalhado que o normal - o que o deixou fraco perto da interpretação de Sy (e olha que Sy ganhou o mundo com esse filme). Martinez é, por outro lado, a grande força da produição. Ele não traz exagero e imprime sua marca. É duro, sofisticado, inteligente e perambula bem pelos conflitos do personagem.

Carla Paterson, que dá vida a assistente de Felipe, vem também no estilo da personagem original, mas o olhar dispara quando ela entra cena. Alejandra Flechner também ganha destaque.

A apresentação da trama se adequa ao contexto portenho, contudo, nem as pitadas de comédia a fazem parecer melhor ou equipará-la a 'Intocáveis'. O drama empregado aqui soa raso e indiferente.

E se atentem que em 2018 o cinema norte-americano vai lançar sua versão dessa história e trará no elenco Bryan Cranston, Kevin Hart e Nicole Kidman.


Ficha Técnica: Inseparables, 2016. DireçãoMarcos Carnevale. Roteiro: Marcos Carnevale - baseado no roteiro original de Eric Toledano e Olivier Nakache. ElencoOscar Martínez, Rodrigo de La Serna, Malena Sanchez e Carla Peterson, Alejandra Flechner. Gênero: Drama. Nacionalidade: Argentina. Figurino: Pablo Bataglia. Fotografia: Horacio Maira. Edição: Luis Barros. Distribuidora: Paris Filmes. Duração: 01h48min.

O cinema argentino apresenta aqui a natural 'falha no sistema'.
:/

Não recomendado para menores de 14 anos

Avaliação: Um dicionário portenho e setenta cinco 'deixa pra lá' (1,75/5).


Hoje nos cinemas!


See Ya!

b-

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Real: O Plano Por Trás da História


O longa 'Real: O Plano Por Trás da História' se estabelece sem querer ser um drama político ao viés que circula ao espectador uma visão mais engrandecedora do time de acadêmicos formado para estabelecer a nova moeda brasileira no então governo do presidente Itamar Franco, durante a década de 90.

Adaptado do livro de Guilherme Fiuza3000 mil Dias no Bunker, a direção é de Rodrigo Bittencourt (Totalmente Inocentes) e o roteiro de Mikael de Albuquerque. No Elenco, Emílio Orciollo Netto, Guilherme Weber, Cássia Kis, Tato Gabus Mendes, Juliano Cazarré, Paola Oliveira e Mariana Lima 

Com distribuição da Paris Filmes, #Real chega esta quinta-feira (25) aos cinemas.

Trailer


A narrativa do filme se constrói durante presente (2003) e passado (1993). E, desde o seu inicio, sabemos quem é o protagonista. O economista Gustavo Franco (Emilio Orciollo Netto). Rigoroso, crítico e arrogante, Franco era ainda um professor universitário quando foi chamado pelo então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (Norival Rizzo), para compor um time de especialistas que acabariam com a hiperinflação brasileira, na época em que Itamar Franco (Bemvindo Sequeira) governava o país. Altamente a favor de um maior controle fiscal como base para uma moeda forte, o economista condenava quaisquer meta de cunho social e os pensamentos políticos esquerdistas crescentes no país. Sem qualquer medo de perder amigos e a convivência de familiares, Franco aparece aqui como o cabeça do estabelecimento de um plano econômico que mudaria a vida do brasileiro. 

Eu não me formei em primeiro lugar da turma para ficar anos corrigindo prova de aluno comunista, ressalta Franco (Orciollo Netto) 
A trama elucida de forma simples que o país estava economicamente falido em 1993 e de como foi feita a transição econômica do plano cruzado para o real. Havia não só a pressão política como também da população. Cresce então a necessidade do governo de dar algo ao povo que fosse satisfatório e o acalmar de imediato. É quando Gustavo e os outros economistas entram na jogada. A partir disso, criam-se os conflitos que fazem a película caminhar.

Gustavo (Orciollo Netto) deixa claro suas intenções de buscar poder tanto quanto de estabelecer suas idéias de uma nova política econômica para o país. As defende a todo custo, mas não entra em cercos de alianças para isto. Segue como o planejado: chegar ao Banco Central e trabalhar. Em segundo plano (sempre) está a vida particular do economista. Ele mantem um relacionamento com Renata (Paola Oliveira) que é pontuado por idas e vindas. Além disso, com sua subida ao poder, a lista de inimigos aumenta.

O personagem crítica bastante a esquerda e seus discursos sociais enfatizando que  a elite desenvolvimentista come sushi e fala bem do Lula, mas vai morar fora do país. Também infere que a dignidade do brasileiro precisa da 'sua moeda' para ser revigorada. E é ali que vemos o economista se desdobrar para não perder a pose quando anos mais tarde é investigado por colaborar com desvios de divisa dentro do Banco Central. 

O diretor Rodrigo Bittencourt no set com Cassia Kis (Valéria) e Emilio Orciollo Netto (Franco)
O roteiro realmente engrandece o personagem de Gustavo e evidencia ainda sua relação com Pedro Malan (Tato Gabus Mendes) e Denise (Mariana Lima), sua assistente. Enfatiza sua rixa com Pérsio Arida (Guilherme Weber) e deflagra a oposição petista com a participação do deputado Gonçalves (Juliano Cazarré). Fernando Henrique (Norival Rizzo) tem pouca força na trama, mas lhe é cortada a devida parte do bolo. A construção da narrativa é dinâmica, contudo, alguns clichês fazem os personagens coadjuvantes parecerem rasos e não conseguem se manter ao nivel do protagonista.

Os planos filmados em Brasilia (sim, essa cidade que muita gente não acha bonita) estão lindões e não refletem em nada a feiura da política escrota decorrente. Há, inclusive, tomadas estratégicas em pontos turísticos da capital que fazem a cinematografia do filme ser maravilhosa. A direção de Rodrigo é bastante sagaz. Ele usa os espaços, conduz o espectador por boas imagens e faz isto com um bom ritmo.

A atuação que mais vai lhe chamar a atenção é sim de Emilio Orciollo Netto. Ele realmente faz uma ótima encarnação desse homem arrogante e inteligente que tomaria conta do país, se não lhe tivessem o retirado de sua posição (será mesmo?). Cassia Kis tem poucas cenas, mas quando aparece não há como não percebê-la. Juliano Cazarré faz uma espécie de deputado caipira que luta do lado oposto e insere um auto-olhar da esquerda na época. Tato Gabus Mendes e Fernando Eiras também são bons de bate bola e Mariana Lima é a força feminina aqui. Mais até que Paolla Oliveira.

Ficha Técnica: Real: O Plano Por Trás da História, 2017. Direção: Rodrigo Bittencourt. Roteiro: Mikael de Albuquerque. Elenco: Emilio Orciollo Netto, Tato Gabus Mendes, Guilherme Weber, Cassia Kis, Fernando Eiras, Juliano Cazarré, Norival Rizzo, Mariana Lima, Paola Oliveira, Klebber Toledo, Bemvindo Sequeira.Gênero: Drama, Histórico. Nacionalidade: BrasilTrilha Sonora Original: Maycon Ananias e Rodrigo BittencourtDireção de Arte: Chico Andrade. Fotografia: Fábio Butin. Montador: Lucas Gonzaga.  Distribuidora: Paris Filmes. Duração: 01h35min.
Um longa que sai um pouco das triviais comédias que vemos o Brasil produzir e adentra um espaço nebuloso. Só por isso já vale o nosso: FIKDIK!

Avaliação:  2 diplomas e cinquenta calculadoras (2,50/5).

Hoje nos cinemas!

See Ya!













B-

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Faces de Uma Mulher, de Arnaud Des Pallières


Um emprego, um companheiro, planos de ter uma família. Aparentemente uma vida estável.
Na outra ponta uma mulher recomeçando a vida como uma pessoa livre, que cumpriu sua dívida para com a sociedade. Tudo muda quando o destino junta estas duas mulheres e desenterra fatos de um passado marcado por traumas, abandonos e abusos.

Confesso que fui assistir o filme francês "Faces de uma mulher" (Orpheline), do cineasta Arnaud Pallières, com uma ponta de preconceito. Não gosto de filme que sou obrigada a ler as legendas por não saber a língua. Mas nas primeiras cenas esqueci totalmente este detalhe e me envolvi com as vidas destas mulheres que se mesclam em uma só.

A trama começa quando Tara (Gemma Arterton) sai da prisão após cumprir pena por roubo. A primeira coisa que faz é procurar Renee (Adèle Haenel), uma mulher na faixa dos 30 anos, diretora de uma escola, cuja preocupação atual é o tratamento para engravidar. Tara está buscando sua parte do dinheiro roubado por ambas anos atrás. 

Esse fato revela a verdadeira identidade de Renee, cujo nome é Karine, e ela é presa.  
 
 


Em outra cena está Sandra, a bela Adèle Exarchopoulos, atriz francesa de ascendência grega que ganhou fama aos 20 anos com "Azul é a cor mais quente". Se um dia Adèle disse temer ser apenas conhecida como a  menina de "Azul" agora aos 23 anos mostra um trabalho maduro e consistente. Cenas fortes e altamente sensuais são o ponto alto do filme, inclusive cenas de lesbianismo que remetem à Azul.

Sandra está em um café para encontrar um senhor apostador de corridas de cavalos que supostamente lhe dará um "trabalho". Sandra conhece Tara que tem planos escusos e ambiciosos. A partir do encontro decisivo e que define o futuro desta mulher a trama mostra de forma regressiva quatro momentos (ao melhor estilo Benjamin Button, mal comparando) que interligam as histórias.

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O filme traz então a história de Karine (Solene Rigot) uma garota de 13 anos (mente ter 18 ou 16 quando necessário) que faz tudo para ficar longe de casa onde um pai ausente e agressivo a espera. Desta forma envolve-se com todo tipo de homem no clube noturno que frequenta clandestinamente, procurando pela atenção que não recebe da família desestruturada.

A quarta e última protagonista é Kiki (Vega Cuzytek) uma criança de aproximadamente 5 anos traumatizada pela morte dos amiguinhos em uma brincadeira de esconde-esconde.
As narrativas correm independentes e leva algum tempo para se fazer uma conexão entra as histórias.
O circulo se fecha quando Renee (Haenel) às vésperas de dar à luz, sai da prisão e é levada pelo companheiro para a Romênia onde o bebê nasce.



Ficha Técnica: Orpheline, 2016. Direção: Arnaud Des Pallières. Roteiro: Christelle Berthevas. Elenco: Adèle Haenel, Adèle Exarchopoulos, Gemma Arterton, Solène RigotGêneroDrama. Nacionalidade: França. Figurino: Nathalie Raoul. Fotografia: Yves Cape. Edição: Arnaud Des Pallières, Guillaume Laura e Emilie Orsini.  Distribuidora: Mares Filmes. Duração: 01h51min.
As histórias  se conectam e aparentemente se tornam uma... A meu ver, à princípio não é tão simples assim perceber essa ligação e isto pode confundir o público e tirar o interesse pela trama. No meu caso foi o oposto...se tornou um grande quebra cabeça ligar as quatro partes e prendeu minha atenção o filme todo. Foi como assistir quatro filmes com um ingresso. Entrou na minha lista de "Gostei" 😊


Vá conferir e me conte depois o que achou!

25 de Maio nos cinemas!

Por Helen Nice
Instragram : @n.dacoruja

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Antes Que Eu Vá


Bullying, virgindade e as relações de amizade (e até as familiares) são os temas que preenchem ''Antes Que Eu Vá'', longa da diretora Ry Russo-Yang adaptado do livro homônimo de Lauren Oliver por Maria Maggenti

Na trama, a atriz Zoey Deutch (Tinha Que Ser Ele?) interpreta Samantha Kingston. Uma adolescente chegando ao fim do high school que passa os dias na zoeira com as amigas Lindsay (Halston Sage), Ally (Cynthy Hu) e Elody (Medalion Rahimi) e namora o garanhão Rob (Kian Lawley). Na escola em que as garotas estudam é realizado todo ano um dia para os alunos soltarem as flechas e acertarem seus cupidos, contudo, em um fatídico 12 de fevereiro algo muda para Sam e ela tem que repensar os caminhos que tem tomado na vida. 

A película, sem muitas surpresas sobre o mundo dos teens, entra em cartaz hoje.

Trailer


O arco da personagem principal (Sam) a direciona para um lugar comum: rever atitudes. Talvez, com certa lentidão, ela entende também que é preciso mais que isso, pois só a reflexão do que ela fez ou deixou de fazer não basta para mudar seu rumo (óbvio). Assim, Sam tenta trabalhar o tempo que não teve com a família, por sua própria culpa, e também se reaproximar de amigos de infância.

Lidamos aqui com um grupo de meninas que pratica bullying com outras garotas apenas porque elas não se adequam ao padrão do quarteto. Como em toda panelinha que pratica tais abusos, há uma lider que inicia todos os ataques e, naturalmente, incita as outras a seguirem seu comportamento. Aqui este papel é de Lindsay (Sage). A garota não só dá apelidos horrendos a Juliet (Elena Kampouris) como também inferniza o período escolar da pintora. Outra que ganha o tempo do time de zombadoras é Anna (Liev Hewson). Assumidamente gay, Anna é chamada de 'a machona da escola' e, como todos os outros perseguidos, sofre com os comentários maldosos e desnecessários sobre si.

Pra quem lembra de ''Feitiço do Tempo'' com Bill Murray ou até o recente ''No Limite do Amanhã'' (crítica aqui), personagens que ficam presos em um dia de suas vida se reconstroem e mudam ações ou fatos que modicam o rumo final da história. Aqui tenta-se criar isto, contudo, de forma light e com intenções mais teóricas que práticas. 

A diretora Ry Russo-Yang não consegue trazer ao público um longa muito competente no que quer pregar. Mesmo que ele tenha lá seus diálogos filosóficos e suas deixas que instigam, todavia, visualmente, nadamos em um drama raso que consegue até se sobressair a 'Se Eu Ficar', de 2015, devido a não ter Chloe Moretz como protagonista. Aliás, o elenco aqui não é o problema do filme, mas por outro lado também não doa nada demais à ele.

Zoey, Elena e Halston, talvez, sejam as carinhas mais conhecidas e se atente ainda a mãe da personagem principal que é vivida pela rainha Jennifer Beals (Flashdance)

A lista de canções do filme engloba a veneração dos jovens pelo hiphop, mas é em uma das cenas mais interessantes da trama que se ouve 'Skletons' da banda nova yorkina Yeah Yeah Yeahs. A composição da trilha fica por conta de Adam Taylor.

O figurino de Eilidh McAllister consegue destacar a frieza das garotas ao mesmo tempo que é jovem e fashion. Sam é posta ali para ter uma evolução significante e percebemos isto em suas cenas finais quando deixa o jeito sutil de se vestir para trás. McAllister também contrasta os personagens perseguidos com características intimistas e que os deixam ainda mais únicos. Juliet vem em tons melancólicos e é altamente hipponga ao mesmo tempo que Anna se satisfaz com seu belo par de botas.
Ficha Técnica: Before I Fall, 2016. Direção: Ry-Russo Young. Roteiro: Maria Maggenti - Baseado no livro homônimo de Lauren OliverElencoZoey Deutch, Halston Sage, Elena Kampouris, Logan Miller, Kian Lawley, Diego Boneta, Medalion Rahimi, Cynthy Wu, Liv Hewson e Jennifer BealsGêneroDrama. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Adam Taylor. Figurino: Eilidh McAllister. Fotografia: Michael Fimognari. Edição: John Landauer.  Distribuidora: Paris Filmes. Duração: 01h38min.
 Lembrando que os comentários aqui são apenas sobre a obra audiovisual!

Avaliação:  Dois giros no tempo e trinta e nove reflexões (2,39/5).
Classificação:  não recomendado para menores de 10 anos.


Hoje nos cinemas!

See Ya!


B-