O conflito pelo conflito
A certa altura de O Jantar, a proposta do diretor Oren Moverman (do eficaz O Mensageiro) fica clara: entregar uma obra cínica e ácida que emule filmes como Deus da Carnificina (adaptação de Roman Polanski da peça de mesmo nome) e Festa de Família de Thomas Vinterberg . A diferença é que o diretor não tem uma parcela do cacife desses dois.
No filme, baseado no livro de Herman Koch, dois casais se encontram em um elegante restaurante de Amsterdã. Enquanto a comida vai e vem, eles começam a conversar, passando por banalidades da vida até assuntos mais complicados. A discussão chega ao seu limite quando falam sobre seus filhos adolescentes, dois rapazes que estão envolvidos em uma complicada investigação policial.
As atuações competentes acabam sendo o destaque dessa produção. Steve Coogan, Laura Linney , Richard Gere e Rebecca Hall são atores que conseguem segurar os personagens até interessantes, mas renegados a reagir aos conflitos artificiais e impostos à força no enredo, prejudicados por um roteiro que não parece entender que o conflito só funciona quando ele é integrado de forma orgânica na narrativa. A fotografia óbvia que insiste em tons vermelhos, precedendo o perigo, é aborrecida.
É inegável que há elementos interessantes na história, como os relatos da doença mental do personagem de Coogan, assim como a relação entre irmãos que poderia ser interessante, mas tudo é prejudicado novamente pela própria pretensões intelectuais da obra.
Pecando ao evidenciar a maldade dos filhos dos personagens (um evento cometido pelos mesmos dá origem ao tal jantar do título), excluindo qualquer dualidade que a história e seus personagens poderiam ter, o diretor acaba entregando um filme muito parecido, em seu cinismo às vezes não justificado, com outra produção recente, O Acampamento. No entanto, onde aquela obra acabava insinuando uma diversão de seus realizadores em relação à tortura física de seus personagens, esta parece contente com o caos emocional instalado sobre aquelas pessoas. Tudo isso, é claro, sem o tato de diretores melhores ou o interesse de realmente dizer algo com aquilo tudo.
Com um final de não-resolução que insinua uma complexidade que não existe, O Jantar acaba sendo uma tentativa falha de incitar alguma discussão, já que toca apenas a superfície dos assuntos que supostamente pretende discutir. Ainda assim, se essa discussão não era a intenção, temos apenas Som e Fúria, o conflito pelo conflito que Moverman tenta promover, sem sucesso e sua maior parte.
E se o filme trata os conflitos literalmente como pratos, precedendo os atos da narrativa com pretensiosos letreiros como "entrada" "prato principal" e "sobremesa", eu incluo meu próprio letreiro nesta crítica e peço, insatisfeito, a conta.
Nota: 2 de 5FichaTécnicaTítulo Original: The Dinner, 2017. Direção: Oren Moverman Roteiro: Oren Moverman Elenco: Steve Coogan, Laura Linney , Richard Gere e Rebecca Hall Trilha Sonora Original: Elijah Brueggemann Fotografia: Bobby Bukowski .Nacionalidade: EUA Gênero: Drama, Thriller Distribuidora: California Filmes. Duração: 2h 01 min.
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