Nova série original da HBO tem começo promissor
Na última quarta-feira (13), a HBO exibiu para a imprensa o primeiro episódio de The Deuce, nova série original do canal criada por David Simon e George Pelecanos, da aclamada “The Wire”. Em 1h20 minutos (um episódio mais longo que os 60 minutos habituais), o piloto nos apresenta os personagens principais, seus dilemas iniciais, e a Nova York de meados dos anos 70 - tão personagem da série quanto seus problemáticos protagonistas.
A impressão que perdura ao terminar o piloto de The Deuce é que a série veio, realmente, para substituir a irregular Vinyl (série produzida por Martin Scorsese e Mick Jagger que foi cancelada após sua amena primeira temporada) na grade da HBO. Alguns paralelos podem ser feitos: ambas são ambientadas nos anos 70 pra 80, e acompanham estas figuras dominadas pelo excesso, pelo sexo e pelos drogas num contexto de crescimento de um novo movimento. Se em Vinyl era o surgimento do Punk (mesmo que a série erroneamente fugisse disso), aqui estamos falando da ascensão da pornografia. Ambos movimentos culturais à sua própria maneira.
E realmente, falando-se de pilotos, ambas não são comparáveis entre si. Enquanto um era quase uma extravaganza do rock e do excesso (também estilístico) de duas horas dirigida pelo próprio Scorsese, o outro serve mais como uma contida apresentação de mundo e de personagens que não se apressa em contar sua história. Vinyl acabava por soar cartunesca demais -entre um e outro uso de droga com reações extremamente exageradas de seu protagonista, Richie Finestra (Bobby Cannavale) - enquanto The Deuce possui personagens e reações mais críveis, e portanto, mais reais.
Se você acha que passei muito tempo apresentando os personagens, talvez possa se incomodar com o primeiro episódio de The Deuce, que mais apresenta-os de fato ao invés de se apressar para colocá-los em conflitos. Mais importante: o piloto dirigido por Michelle MacLaren nos apresenta com arquétipos para quebrar-los logo em seguida. Um momento específico, onde um polícial e um cafetão, ambos negros, jogam conversa fora é emblemático e importante (os lados opostos da lei se unindo momentaneamente como um, pois fazem parte de uma minoria racial em comum na época), e mostra um pouco do contexto social à ser abordado na série.
As atuações: competentes, principalmente Maggie Gyllenhaal (sempre ótima) como Candy. James Franco é eficiente em construir seu Vincent como o "everyday guy", o azarão que parece estar sempre no lugar errado, na hora errada. Como Frankie, o irmão gêmeo de Vincent, Franco não brilha, já que o mesmo tem apenas uma pequena participação no piloto (mas o suficiente para dar um vislumbre de sua conturbada relação com seu irmão).
A série mostra donos de bar, garçons, prostitutas, cafetões, policiais e outros personagens da vida noturna em um universo de sexo, crimes e violência, quando o negócio da pornografia começa a ascender das casas de massagem e das produtoras de filmes apoiadas pela máfia até ocupar um espaço de legitimidade e importância cultural.
No fim, o piloto de The Deuce dá tempo a sua história e a conta com calma, apresentando seus personagens ao mesmo tempo em que nos insere naquela realidade suja e tão distinta do submundo do sexo e das drogas da Nova York do fim dos anos 70. Primorosa tecnicamente e com um grande elenco, é uma série que tem tudo para ser o que Vinyl não foi, em tom e narrativa. O piloto serve para colocar as peças no tabuleiro. Agora só resta acompanhar para ver como o jogo irá se desenrolar.
A primeira temporada de The Deuce, composta por oito episódios, estreia em 17 de setembro, às 21h, no canal HBO.
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