quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Jogos Mortais: Jigsaw


Quando saíram os números de bilheteria de Jogos Mortais - O Final 7 (2010), uma coisa ficava ironicamente clara: os jogos estavam longe de acabar. Com uma franquia de 7 filmes com sucesso consistente, o tal final ecoava títulos clássicos das franquias de horror como Sexta-Feira 13 Parte 4: O Capítulo Final - que teve mais 6 sequências, mais um reboot e um crossover com Freddy Krueger. Era apenas uma questão de tempo até que John Kramer (Tobin Bell) e seu boneco Billy voltassem de alguma forma para continuar os jogos sádicos de moralidade e tortura.

Os 7 anos de intervalo entre o último filme e este Jogos Mortais - Jigsaw sugerem uma revisão de conceitos. Com objetivo de revitalizar a série, o novo filme tem a intenção de servir, ao mesmo tempo, como um reboot - apresentando a franquia para uma nova geração de espectadores - e uma continuação - agradando os fãs mais puristas da série. O resultado final, no entanto, não chega exatamente a justificar tal pausa, ficando, justamente, numa corda bamba narrativa que mais recicla elementos do que apresenta novos.

Em Jogos Mortais - Jigsaw, fazem 10 anos que o icônico serial killer John Kramer (Bell), conhecido como Jigsaw, morreu. No entanto, após uma série de assassinatos, todas as pistas estão sendo levadas ao próprio Kramer. À medida que a investigação avança, os policiais se encontram perseguindo o fantasma de um homem morto, enquanto um novo e macabro jogo tem início.



Dirigido pelos irmãos Michael e Peter Spierig (de Daybreakers O Predestinado), o mais novo filme da franquia apresenta um claro senso estético e estilístico de seus novos realizadores. A paleta de cor esverdeada e predominante - quase que uma marca registrada da série - que atribuía caráter de sujeira e doença é quase inexistente. A edição frenética e descontrolada também, com planos mais contidos e menos exagerados que conferem até - pasmem - uma certa elegância em alguns poucos momentos. Os elementos de gore, as tripas, sangues e mutilações pelos quais a série de filmes ficou conhecida (ela afinal ajudou a popularizar o gênero do Torture Porn, o "pornô de tortura" em tradução literal que explora essa violência de forma gratuita e explícita) também são reduzidos.

Se a diminuição então do Pornô, do exagero nas imagens viscerais indica mais uma vez um retorno às raízes - o primeiro Jogos Mortais tinha como objetivo o terror psicológico, mesmo que cambaleasse até mesmo nestes elementos pontualmente -, não quer dizer que não hajam as explosões de violência e da punição moral que é tão polêmica nestes filmes. Essa moralidade, ou a falta dela parece tentar ser revisada aqui, mas os realizadores novamente enxergam o psicopata John Kramer como um reabilitador genuíno.

Uma das marcas de Jogos Mortais também era a sua narrativa cada vez mais confusa e complicada, repleta de flashbacks, linhas temporais e - francamente - arapucas. No meio desses absurdos, ela funcionava, e os fãs da série tinham uma espécie de novela rocambolesca para acompanhar. Essa "complexidade" seria desnecessária nessa apresentação, então ela é abandonada parcialmente... apenas para ser retomada na já obrigatória reviravolta no ato final.



Este é um dos maiores problemas deste Jigsaw, que, como já mencionado, não parece ter uma visão bem definida do que pretende ser. Novos caminhos estéticos e de enredo se misturam com os vícios antigos, e na tentativa de agradar os fãs mais antigos enquanto tenta atrair a atenção de uma nova audiência, este novo Jogos Mortais acaba se tornando um projeto que pouco ousa, que se contenta com o lugar comum.

E os diretores realmente trazem percepções interessantes para a franquia, que ganha aqui, surpreendentemente, uma humanidade maior - como no momento em que um dos personagens agoniza sobre o chão silenciosamente, sem esperanças, contrapondo os gritos agonizantes característicos da série -, assim como a já citada sobriedade narrativa. É curioso como os irmãos também trazem um bem vindo humor à série, que chegam em sua maioria através do bom ator Paul Braunstein e seu personagem Ryan. O humor é, também, visual, como no momento surpreendentemente cômico e agonizante na qual um dos personagens percebe que perdeu um membro de seu corpo.


Com essa leveza, sobram espaço para as armadilhas, que, se não são escancaradas como a fonte de diversão e entretenimento, elas são partes de sequências que inegavelmente possuem essa perversão com a curiosidade mórbida que parece vir do próprio gênero. É aí que entra, novamente, a moralidade. A violência pela violência basta? É curioso como o filme retrata a violência dos jogos com um pé no cartunesco, enquanto as sequências de autópsia exibem cadáveres extremamente mais realistas, separando as duas linhas narrativas do roteiro de Pete Goldfinger e Josh Stolberg - o previsível e tolo filme policial e os bem filmados e "divertidos" jogos - num curioso espelho de realidade e tons.

Esses pontuais momentos de criatividade vistos em Jogos Mortais: Jigsaw terminam por dar espaço à velhos vícios da série, apelando para uma nostalgia que pode até funcionar, mas que irá inevitavelmente trazer à tona questões morais e a auto reflexão ao espectador, de uma época em que a violência do choque era mais fácil digerida do que nos atuais e nebulosos tempos.

FichaTécnica
Título Original: Jigsaw, 2017. Direção:  Michael Spierig, Peter Spierig Roteiro: Pete Goldfinger, Josh Stolberg. Elenco  Matt Passmore, Tobin Bell, Callum Keith Rennie, Hannah Emily Anderson, Clé Bennett, Laura Vandervoort, Paul Braunstein, Mandela Van Peebles Trilha Sonora Original: Charlie Clouser FotografiaBen Nott .Nacionalidade: EUAGênero: Terror, Suspense. Distribuidora:  Paris Filmes. Duração: 1h32 min. 

Nota: 3 de 5 

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