Jogador Nº 1, de Steven Spielberg (3D)


Em 2011, Steven Spielberg produziu 'Super 8', trama que continha inúmeras homenagens aos longas dos anos 80 e ao seu próprio, ET - O Extraterrestre. Ali, ficou claro que o diretor voltaria a  trabalhar com a década de alguma forma. E realmente ele voltou.

Escolhido a dedo para conduzir a adaptação para as telas do livro de Ernest Cline, Jogador nº 1, (antes do diretor foram pensados para a função nomes como Robert Zemeckis, Christopher Nolan, Peter Jackson, Matthew Vaughn e Edgar Wright), Spielberg embarca o expectador na grande aventura distópica que revela como no futuro os seres humanos se tornaram aficionados por tecnologia e começaram a viver dentro de um mundo virtual chamado 'Oasis', plataforma digital criada por James Halliday e Ogdem Morrow na qual os usuários podem ser quem quiser e fazer o que quiserem. E é por lá que assistimos o avatar de Wade Watts (Tye Sheridan) se aventurar pelos desafios formulados por Halliday.

No elenco, Simon Pegg, o ganhador do Oscar, Mark Rylance, Olivia Cooke, T.J. Miller, Ben Mendelsohn, Ralph Ineson, Hannah John-Kamen, Susan Lynch, Perdita Weeks, Win Morisaki, Philip Zao e Lena Weathe. 

Trailer


O ano é 2045, a cidade? Columbus, Ohio. Wade Watts (Sheridan) é um garoto órfão que vive com a tia e seu marido crápula numa periferia chamada de ''Pilhas'', um complexo enorme de trailers e apartamentos em formato de caixa de sapatos empilhados um acima do outro. A economia mundial não vai nada bem e o centro da atenção dos humanos está voltado para a realidade virtual do jogo OASIS, criado por James Halliday (Rylance) com a assistência de seu amigo Ogden Morrow (Pegg). O excêntrico Halliday faleceu em 2040 e desde aquele ano está no ar uma busca ao tesouro. Uma espécie de concurso onde os jogadores devem encontrar três chaves mágicas para, ao final da corrida, serem donos do Oasis e da fortuna de Halliday. Watts é um dos muitos garotos que abandonam diariamente a existência virtual e seguem rumo a realidade virtual da plataforma para tentarem desvendar o quebra-cabeça. Lá, ele é chamado de Percival, ou ainda de Z, e conhece e se torna amigo de Aech (Waithe), Sho (Zhao) e Daito (Morisaki) e vez ou outra se encontra com os meninos durante as missões. Durante a corrida para a primeira chave ele se encanta com a destemida Art3mis (Cooke)  e de cara eles passam a trabalhar todos juntos nos desafios. Contudo, o grupo terá ainda de enfrentar o exército criado pela corporação do malvado Sorrento para chegar até o prêmio final.

Halliday (Rylance) e Morrow (Pegg) em conferência para demonstrar ''o que é a Oasis''
Ao assistir a película, vai ser fácil perceber que a mesma tem um roteiro simples, com escolhas convenientes e uma dose enorme de referências do mundo dos games, livros e filmes. Talvez, por isso, role uma adoração imediata pela boa nostalgia que ela entrega dos anos oitenta ou ainda pela reflexão que faz do nosso vício diário em tecnologia e em como nos tornamos zumbis ao nos alimentarmos apenas dessa realidade.

Spielberg cria aqui uma atmosfera mágica. Filma tudo em panavision e se atenta a voltar no tempo e reforçar técnicas que ele mesmo ajudou a difundir décadas atrás. Os saltos das câmeras, a amplitude da imagem para mostrar as situações reais (mais para o fim do terceiro ato) e o bom manejo dos efeitos na realidade virtual Oasis resultam em um projeto certinho e divertido.

Segundo o próprio diretor, sua busca pela perfeição aqui fez do projeto o terceiro mais difícil em que trabalhou. Ficando atrás apenas de ''Tubarão'' e ''O Resgate do Soldado Ryan''.

Sho (Zhao), Aech (Waithe), Z (Sheridan), Art3mis (Cooke) e Daito (Morisaki) encontram o Curador (informação de quem ele é é um spoiler) para buscar cenas da vida de Halliday que ajudem na busca das chaves
O casting de Lucy Beavan e Ellen Lewis vem com gostinho de perfeito. Sabe-se por alto que Spielberg quase trouxe Gene Wilder a produção e que pena que não rolou (o ator que encarnou o Willy Wonka na primeira adaptação de 'A Fantástica Fábrica de Chocolates' faleceu em 2016). Mas sua boa parceria com Rylance (desde o ano em que o ator ganhou o Oscar por sua performance em ''Ponte de Espiões'') tem rendido e aqui vemos um nerd altamente tipico, mas adequado para o que se propõe. Suas poucas cenas são certeiras e há uma ótima alternância de voz quando o personagem tem que trocar de realidade e encarnar um avatar chamado Anorak - um mago a cara de Gandalf. Pegg tem um personagem forte e que é crucial ao filme e ele está ainda melhor do que quando o vimos na finalização de Star Trek. Porém, vamos parar de falar dele por aqui, pois seus momentos melhores momentos no filme são um grande spoiler. O grupo de coadjuvantes Waithe, Zhao, Morisaki trazem tanta simpatia que fica difícil escolher o seu melhor amigo entre eles - quero todos. Cooke interpreta a faceira e destemida 'Art3mis', o par romântico do protagonista. Suas escolhas são muito consistentes e sua heroína fortalece o grupo de Watts. Este último, personagem de Sheridan, teve inúmeras tragédias na vida, mas nem por isso se torna um mocinho pedante. Boa atuação do rapaz, aliás. 

O grande vilão da trama, Sorrento (Mendelsohn), nos lembra muito o professor barra pesada de 'O Clube dos Cinco'' (até no figurino) e quando está em sua forma de avatar é um valentão muito comum. Sua assistente, F'Nale Zandor (John-Kamen), é outra que se assemelha as vilãs de olhos fatais que já vimos por ai, todavia, é o personagem de T.J. Miller (Deadpool), I-Rok, que conquista com um papo muito sofrido antes de falar de seus planos malignos a Sorrento. I-Rok é, na verdade, quase um alívio cômico, pois tem ótimas falas.

A película tem tanta referência (ver todas aqui) do mundo cinematográfico que o olho chega brilha. Desde trilhas sonoras a personagens. Amantes dos filmes de John Hughes (O Clube dos Cinco, Curtindo a Vida Adoidado) Cameron Crowe (Diga O Que Quiserem), Stanley Krubick (O Iluminado) Robert Zemeckis (De Volta Para o Futuro) e o próprio Spielberg (Jurassic Park) vão reconhecer muitas delas ou até todas, caso assistam a película mais de uma vez. Do universo dos games, aparecem citações desde Mario Kart até personagens como Shun-li, Lara Croft e por ai vai. Das HQ's, facilmente reconhecemos símbolos do Batman o tempo inteiro, além de personagens também do universo DC como Coringa e Arlequina. Dos livros, claro, temos ''O Senhor dos Anéis'' e, diria até Harry Potter (repare na trajetória do garoto, que é órfão e mora com os tios, e tem um quarto que fica acima da lavanderia e sem nenhum luxo o que pode ser visto como uma leve alusão ao garoto que vivia debaixo da escada). A dica é não piscar para não perder nenhum dos personagens que fazem pontinha como avatar de alguém (em algum momento vocês verão Robocop, He-man, Chucky - o Boneco Assassino e por ai vai).



A lista de canções é espetacular. Ao iniciar da película escutamos ''Jump'', de Van Halen, minutos depois a estridente voz de Joan Jett com ''I Hate Myself For Loving You'' embala momentos de apresentação do mundo virtual. Também escutamos ao longo da película Depeche Mode, Wham!, Beegees, Blondie, New Order, Daryl Hall & Joan Oates e muitos outros.  

Composta por Alan Silvrestri (De Volta ao Futuro), a trilha sonora original tem também seus momentos fodões e faz vibrar sons vigorosos nos atos finais. O tema criado por Silvestri está disponível nas redes (escute aqui).

Os aspectos técnicos estão dignos de palmas, inclusive o 3D, mas é o figurino e a customização dos personagens e dos ambientes que deixa seu queixo cair. Mullets, cabelos esvoaçados, ternos enormes, jeans e etc dizem bem que época o filme está homenageando.


Ficha técnica: Ready Player One, 2018Direção: Steven Spielberg. Roteiro: Zak Pen e Ernest Cline baseado no livro homonimo de Ernest Cline. ElencoSimon Pegg, o ganhador do Oscar, Mark Rylance, Olivia Cooke, T.J. Miller, Ben Mendelsohn, Ralph Ineson, Hannah John-Kamen, Susan Lynch, Perdita Weeks, Win Morisaki, Philip Zao e Lena WeatheCasting: Lucy Beavan e Ellen Lewis. Gênero: Ficção cientifica, ação, Aventura. Design de produção: Adam Stockhausen. Efeitos Especiais: Grady Cofer. Trilha Sonora Original: Alan Silvestri Fotografia: Janusz Kaminski. Figurino: Kasia Walicka-Maimone. Edição: Sarah Broshar e Michael Kahn. Distribuidor: Warner Brothers. Nacionalidade: Estados Unidos. Duração: 02h20min.

Se você cresceu durante os anos 80, vai ser fácil gostar do filme, se você não cresceu, mas tem apreço pelo período, também.

Aos que leram o livro, preparem-se para ver alteração do enredo original, pois não há o background de todos os personagens, como no livro, e os desafios se diferem bastante da obra literária. A personagem de F'Nale também só aparece aqui.

Avaliação: Quatro chaves que abrem um mundo de nostalgia (4/5)

29 de Março nos cinemas!

See Ya!

B-

Escrito por Bárbara Kruczyński

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