Torquato Neto - Todas As Horas Do Fim

Dizem que Tom Zé é um dos artistas da Tropicália, movimento artístico que trouxe luz a arte brasileira nos anos 60, que tem pouco reconhecimento ou ainda um destaque muito inferior ao de Gil, Caetano e Gal. Pode até ser que sim. Contudo, em vista da baixa taxa de pessoas que sabem da presença importante do compositor, cineasta, poeta e multi-artista Torquato Neto dentro do grupo fica impossível concordar com tal opinião. 

Isto porque Torquato Neto não se deu o tempo que precisava para crescer como todos os outros tropicalistas e, apesar do sucesso nas composições pilares daqueles tempos, se sentiu deslocado, desamparado e ansioso pelo fim de suas dores pessoais.

Com sua morte, aos precoces vinte oito anos de idade, a arte que produziu tentou preencher um pedaço grande na vida daqueles que o conheciam, porém, aos fãs esta foi sempre a sua maior dádiva e forma de acesso ao artista.

Este ano, o trabalho de Neto ganha destaque com a releitura de poemas e escritas, na voz de Jesuíta Barbosa, sublinhadas por entrevistas e conversas que os diretores Eduardo Ades e Marcus Fernando fizeram para reviver este muso da música popular brasileira em Torquato Neto - Todas As Horas Do Fim. 

Trailer

Ades e Fernando trazem aqui uma pesquisa simbólica e importante para o conhecimento da juventude leiga dos tempos musicais consistentes que este país já teve. Não temos ali o Torquato pelo Torquato. Mas temos sua obra e vida interpretada na voz do ator Jesuíta Barbosa com presença tal que lembre o poeta e compositor.

Acompanhamos sua trajetória narrada ainda com a ajuda de fotos, áudios e entrevistas de grandes personalidades como Gal Costa, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Além de outros amigos próximos e familiares, entre eles, o filho.

Infância e juventude de Torquato são expostas de um modo muito esclarecedor e cativante.

Aqui ficamos conhecendo também como Torquato se envolveu com as artes e como sempre teve opinião e criatividade para estar naquele meio. Da sua chegada ao Rio a sua ida para Europa para trabalhar e visitar os amigos exilados, o artista nunca deixou de evidenciar suas dores e preocupações. E o que começa pequeno cresce até não ter mais espaço. 

Cheio de ideias,  não só teve seu tempo na música como ainda conseguiu participar de filmes (Nosferatu no Brasil) e realiza-los (O Terror da Vermelha), uma das grandes vontades de Neto, após a volta ao país, nos anos 70. Também fez sucesso com a escrita na criativa ''Geléia Geral'' e soube lidar com isto limitando tempo para ela caber nas páginas de jornais. 

Em tempo, casou-se e também gerou um filho.

Há uma leva de apresentações de canções do período da tropicália (muitas delas compostas por ele e cantadas por Gal Costa em algum especial para a tevê- ouça aqui) e há claro boas conversas daqueles que estiveram na presença de Torquato. Com takes criativos, os papos afloram e alguns deles nem precisamos ler o nome na tela, pois o soar da voz revela quem é. Mas há alguns que não aparecem discriminados e sente-se falta de tais informações. 

No mais, a produção engrandece Torquato e o faz aparecer. Seu tom cômico é bem manejado levando claramente o público a sair da sala com boas lembranças de Neto .

Ficha Técnica

Direção e roteiro: Eduardo Ades e Marcus Fernando. Argumento: Marcus Fernando. Com: Gilberto Gil e Caetano Veloso e narração de Jesuita Barbosa como Torquato Neto. Nacionalidade: Brasil. Ano: 2018.Gênero: Documentário. Pesquisa Iconográfica: Remier Lion, Marcus Fernando, João Felipe Freitas, Eduardo Ades. Edição de Som: Thiago Sobral. Mixagem: Jesse Marmo. Montagem: João Felipe Freitas. Distribuição: Vitrine Filmes. Produzido por: Daniela Santos, Eduardo Ades e João Felipe Freitas. Produção Executiva: Daniela Santos, Bibiana Osório. Coprodução: Canal Brasil. Produtora Associada: Link Digital. Empresa Produtora: Imagem- Tempo. Patrocinio: Rio Filme e Secretaria de Cultura do Estado do Piauí. Duração: 88min.

Avaliação: Três poemas para vampiros de sandálias de dedos indo a  praia se divertir (3/5).

08 de março nos Cinemas!

See Ya!

 








B-

Escrito por Bárbara Kruczyński