O caos reina
Quando Westworld fez sua estreia, no final de 2016, ela foi prontamente comparada com Game of Thrones, sendo inclusive apontada como sua sucessora, devido ao alto investimento de sua produtora, a HBO, tanto de forma monetária quanto criativa - Com base no filme escrito por Michael Crichton, a série tem produção executiva de Jonathan Nolan e Lisa Joy, juntamente com J.J. Abrams, Athena Wickham, Roberto Patino, Richard Lewis e Ben Stephenson.
As comparações, no entanto, são equivocadas. Westworld não possui muitos parentescos narrativos com a westeros de George R. Martin. Mais do que isso: os complexos elementos temáticos de Westworld -que exploram elementos como vida e morte, consciência, realidade e ilusão e a diferença tênue entre essas - tornam a aposta contínua da HBO na série apenas mais corajosa, surpreendendo a todos com o anúncio de uma segunda temporada após os números iniciais de audiência aquém do esperado.
Como já mencionado, Westworld possui uma narrativa corajosa até mesmo para a tv. Linhas temporais diferentes, versões robóticas de personagens e as costumeiras reviravoltas, que vêm não com choque, mas intrigamento - e isso mostra a força de Jonathan Nolan como contador de histórias, que, com a ajuda de Lisa Joy, utiliza temas parecidos com seu irmão mais famoso, mas consegue ser sutil no processo.
A segunda temporada segue a regra, e este primeiro episódio serve para progredir a história acima de tudo. Os momentos "grandes" estão lá, é claro, mas este primeiro episódio, que possui 1h20, se dedica a seus personagens, e explorar o que aconteceu após o ataque dos androides - os anfitriões- à festa do final da primeira temporada. Dolores (Evan Rachel Wood) continua sua jornada de libertação/vingança contra seus opressores, e suas atitudes ocasionalmente a colocam entre a vilania e o heroísmo. Teddy (James Marsden), ainda preso em sua ilusão programada, ainda questiona os atos de sua amada, ainda que seja refém da sua programação de amá-la independente de tudo, transformando-o numa espécie de refém de Dolores. Maeve (Thandie Newton) continua a procura de sua filha, independente das indagações do humano Lee (Simon Quarterman), programador que insiste que a menina não é real. Ainda assim, é Bernard (Jeffrey Wright) a quem se reserva o maior intrigamento. Após a revelação de que ele era um andróide, uma versão de um dos donos originais de Westworld - Arnold -, as ações de Bernard começaram a ser milimétricamente julgadas pela audiência. Com sua passividade, compaixão e natureza de examinador, Bernard se encontra de mãos atadas: como ajudar os humanos a capturar os anfitriões se eles são, de certa forma, sua própria espécie?
"Você me apavora as vezes", diz Bernard/Arnold para Dolores em determinado momento deste primeiro episódio. "Tenho medo do que você pode se tornar", acrescenta. Partilhamos desse temor enquanto acompanhamos o desenrolar de situações cada vez mais tensas, onde tudo intriga. Os temas estão mais que presentes: questionamentos do que é real, o podor dos sonhos e o que torna alguém humano.
Nessa teia intricada de personagens, subtramas, intenções nebulosas e mortes, o que fica ao fim reflete-se na atitude do Homem de Preto (Ed Harris) em cena chave deste episódio: após fazer um curativo em seu braço ferido, ele esboça um sorriso doentio de satisfação, pois sabe que sua necessidade pelo imprevisível e pelo perigoso será suprida. O jogo recomeçou, o caos reina e só nos resta esperar pelo próximo capítulo.