Guerra Fria - 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Poucas pessoas se dão conta, mas com todas as evoluções na produção de um longa, por mais que as experiências de assisti-los tenham se tornado mais prazerosas, não foi possível deixa-los menos padronizados. E isto não tem nada a ver com as novas formas de captação, pelo contrário, existem muitos filmes que usam destes instrumentos e levam ao publico resultados completamente inovadores e únicos, seja em questão técnica ou até mesmo em como escolhem os detalhes da narrativa. Tal fato fica ainda mais fácil de ser comprovado quando testado em produções com estilo mais comercial.

E, felizmente, existem muitos diretores que estão dispostos a usar das inúmeras ferramentas disponíveis para experimentar novas sensações em seu público. Todas com intuito de fugir dos enquadramentos comuns, de uma paleta de cores razoáveis e diversos outros aspectos convencionais do audiovisual contemporâneo. Alguns ainda decidem dar um passo para trás, retirando algumas dessas ferramentas e utilizando os conhecimentos atuais para criar algo novo com o que já é bem ''oldschool''.

Trailer

E, geralmente, essa escolha de se anular quase o conjunto inteiro das novas técnicas do audiovisual - com ou sem captação em formato digital - serve para dar uma cara única ao projeto baseando-se quase que completamente todo o trabalho apenas no conhecimento das pessoas que o produzem. Isto insere uma cara mais artística, porém, nem sempre pode atingir um resultado final positivo no olhar do público. Afinal, para alguns a produção acaba ficando visualmente fraca e tais caminhos trabalhando contra o próprio filme.

Todavia, Guerra Fria, de Pawel Pawlikowski, que alias foi ganhador na categoria de Melhor diretor nos Festival de Cannes deste ano, entrega um filme em preto e branco com proporções ¾ que promete mudar a sua concepção do que um longa sem cores pode lhe fazer sentir. 

A história segue a linha que os efeitos visuais e a trilha sonora transmitem. Ela não se destaca, mas ainda é um lindo romance e prende a atenção de quem o assiste. Baseado livremente na vida dos pais do diretor Pawlikowski, ela conta a jornada de dois amantes para ficarem juntos, criando um emaranhado de conflitos onde eles constantemente tentam se encontrar, porém, a maré não está a favor do casal. Talvez o roteiro não se esforce tanto quanto a direção e os outros aspectos técnicos como a trilha sonora ou até o elenco - a atuação de Joanna Kulig como Zula e Tomasz Kot como Wiktor é tão impecável - mas há muita beleza aqui.

Ficha Técnica:

Título nacional/ original: GUERRA FRIA | ZIMNA WOJNA. Direção: Pawel Pawlikowski. Roteiro: Pawel Pawlikowskie e Janusz Głowacki. Elenco: Joanna Kulig, Tomasz Kote, Borys Szyc,Agata Kulesza, Cédric Kahn e Jeanne Balibar. Nacionalidade: Polônia, França, Reino Unido. Ano: 2018. Duração: 84 min. Gênero: Ficção - Drama, Romance, Musical. Distribuição: Califórnia Filmes.

Para alguém que nunca assistiu filmes antigos, é comum pensar que ele se distingue, mas difícil afirmar ou ainda imaginar que ele seja mais belo que um blockbuster ultra colorido. E Guerra Fria mostra que esta falta de pigmentação não reduz em nada a sua grandeza. De fato, o espectador acaba o considerando ainda mais deslumbrante e sensível, saindo daquela experiência convencional que estamos acostumados.

Na verdade, todo o momento na sala de cinema mostra que o que está por vir são emoções impactantes. Logo no inicio, você é recebido por uma cena sem cores dentro de um quadrado muito menor do que a tela com uma música folclórica cantada por cidadãos poloneses. É um grande choque, uma situação completamente diferente do normal, mas rapidamente percebe-se o quão esses elementos são marcantes. Como ''O Artista'', de Michel Hazanavicius, ele celebra um cinema sensorial e virá fácil a sua memória de tempos em tempos.

Em suma, Guerra Fria é facilmente um dos melhores filmes do ano, sendo o tipo de longa-metragem que lhe traz experiência e percepção de universo sem igual e não há necessidade que o público seja cinéfilo para aprecia-lo. Pois qualquer um consegue se sensibilizar e entender que ele é transcendente e tem tudo para se tornar um clássico do cinema mundial.

Informações sobre a mostra:

Site: www.mostra.org

Facebook: http://www.facebook.com/mostrasp/

Twitter: @mostrasp

Instagram: @mostrasp

A programação oficial e mais completa pode ser acessada aqui.