Toda
boa obra nos ensina a interpretá-la ao longo do seu decorrer. A Vida Em Si o faz com maestria. É um
filme divido em cinco capítulos. Cada um tem seu próprio protagonista, chamados
pela narradora de “heróis”. Essas cinco histórias se amarram como uma só. Vendo
de uma forma simplista, são histórias de amor em um filme de drama. Mas a
verdade é que este é um longa metalinguístico sobre narrativa. E ainda sobre como a
vida também é regida por narrativas.
Trailer
Ao
decorrer de seus 118 minutos, a produção vai provando na prática todos os temas e
hipóteses de sua narradora e de seus heróis. A Vida Em Si fala em vários momentos
da teoria literária do narrador não-confiável. E logo com o primeiro arco,
nos ensina que essa não-confiança deve ser levada a sério, já que nos apresenta
um protagonista que inventa uma narrativa falsa para aguentar a realidade. Logo de
cara, com uma ficção dentro da própria história, nos ensina a não nos apegar
aos personagens. Já que estes são descartáveis, vão sendo substituídos ao longo da
trama e são apenas pequenas peças de um conjunto muito maior.
Em
um momento interessante, o filme nos diz com todas as letras que nem sempre o
que está em primeiro plano em uma história é o mais relevante. Em seguida, nos
comprova isso ao mostrar o herói da vez se preparando para cortejar uma
garçonete que passa ao fundo enquanto a câmera enfoca uma bela figurante
centralizada.
Mantendo-se
fiel a seu tema, são comuns as cenas em que personagens se transformam em
contadores de história, ganhando atenção de nós espectadores, da câmera e de
seus colegas dentro das tomadas enquanto narram alguns fatos com brilho no olhar,
empolgação na voz ou mesmo musicalidade. Isso sem falar na grande contadora de
história do filme: a narradora misteriosa que só se revela ao final (embora em
certo ponto da obra sua identidade se torne clara para o espectador mais
atento).
Ficha Técnica:
Título: A Vida em Si, 2018. Direção e Roteiro: Dan Fogelman Elenco: Oscar Isaac, Olivia Cooke, Olivia Wilde, Laila Costa, Antonio Banderas, Mandy Patinkin, Annette Bening, Sergio Peris-Mancheta, Àlex Monner e Samuel L. Jackson. Nacionalidade: EUA Gênero: Drama, Romance. Música: Frederico Jusid Fotografia: Brett Pawlak Montagem: Julie Monroe. Classificação: 16 anos. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h59min.
Uma
escolha estética acertada, quase Rodrigueana¹, é a de deixar as personagens
conviverem em tela com suas lembranças e com recriações de momentos passados
que não viveram. Assim, o espectador vê ao mesmo tempo passado e presente;
realidade e inconsciente. Um ótimo recurso para nos aproximar do que está na
mente dos heróis e, portanto, gerar empatia. Uma pena que esse recurso seja
completamente deixado de lado em um dos capítulos.
Infelizmente,
os minutos finais do longa se entregam à necessidade do gênero de emocionar o
público a qualquer custo, se valendo de uma música colocada unicamente para
essa função e de uma colagem clichê de flashbacks
das personagens, coroados por um discurso em off sobre a vida. Por sorte, o filme é bom o suficiente para
sobreviver a essa sabotagem final.
¹
O teatrólogo brasileiro Nelson Rodrigues trouxe inovação para o teatro mundial
ao fazer os planos da realidade, sonho e alucinação coexistirem no palco.
06 de Dezembro nos cinemas
|Nota da editora: O filme ganhou sessões de pré estréia este fim de semana.