quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A Voz do Silêncio


Do diretor e roteirista André Ristum, o brasileiro A Voz do Silêncio chega aos cinemas para regar as telas com a melancolia do dia-a-dia da vida urbana. Com uma narrativa multifocal, o filme traz os relatos de uma mãe culpada por ter expulsado o filho de casa (Marieta Severo); uma cantora que dança em boates para conseguir pagar as contas (Stephanie de Jongh); um atendente de call center solitário (Arlindo Lopes); um advogado cuja esposa está em coma (Marat Descartes); um trabalhador que faz jornada tripla e tem que aguentar os abusos dos patrões (Cláudio Jaborandy); um radialista com câncer terminal (Ricardo Merkin) e uma corretora de imóveis correndo contra sua demissão (Marina Glezer).

Essa teia de histórias diversas chega a lembrar, de alguma forma, filmes como Magnólia, de Paul Thomas Anderson. Os personagens estabelecem contato uns com os outros em algumas cenas, mas cada um tem a sua própria história e cada um está tentando achar sua própria salvação.

Trailer


Ficha Técnica
Título: A Voz do Silêncio. Direção e rotiro: André Ristum. Colaboração no roteiro: Marco Dutra. Elenco: Marieta Severo, Ricardo Merkin, Arlindo Lopes, Claudio Jaborandy, Stephanie de Jongh, Marat Descartes, Tássia Cabanas, Nicola Siri, Marina Glezer, Enzo Barone, Milhem Cortaz e Augusto Madeira. Diretor de Fotografia: Hélcio Alemão Nagamine. Diretora de Arte: Daniela Vilela. Figurino: Rocio Moure. Montagem: Gustavo Giani. Música Original: Patrick de Jongh. Gênero: Ficção. Distribuição: Imovision. Duração: 98 minutos. Classificação: 16 anos. Produtores: Pablo Torrecillas, Rodrigo Castellar, André Ristum. Coprodutores: Juan Pablo Gugliotta, Nathalia Videla Peña e Alejandro Israel. Produção: Sombumbo, TC Filmes, Ajimolido Srl e Movimiento Audiovisual.
A cidade de São Paulo entra quase como uma personagem também. Além de pano de fundo para a narrativa, ela fala através de planos do trânsito e dos transeuntes nas ruas, dando a sua colaboração para ornar o cenário solitário e caótico do filme. É importante que as personagens sejam tão diferentes umas das outras para mostrar que o sofrimento é inerente a qualquer um. Homens, mulheres, ricos, pobres, velhos, jovens... ninguém escapa à solidão. Inclusive, há três estrangeiros na trama. Aparentemente, não há motivos que justifiquem a nacionalidade argentina e italiana desses. A princípio, se fossem personagens brasileiros não faria a menor diferença. Mas a questão é que quanto maior a diversidade das personagens, mais o diretor prova seu ponto de que ninguém está imune.


Apesar do que o título sugere, este não é um filme silencioso. Pelo contrário. O barulho da urbanidade é constante e muitas das cenas são conduzidas por música. Um dos pontos altos do filme, inclusive, é uma cena em que toca uma ópera e, através dela, somos conduzidos a ver a intimidade de todas as personagens através de uma sequência de cenas curtas. Quando chega à última personagem, a música muda para uma batida eletrônica e então é feito o caminho inverso, até voltar à primeira personagem. É uma obra cheia de ruídos sonoros. Os silêncios estão nas relações.

No entanto, é um filme sem grandes arroubos. Tanto narrativos quanto nas atuações. Mas talvez a abordagem da direção peça essa linearidade. A monotonia é mais importante que as grandes emoções nessas histórias cheias de feridas não cicatrizadas.

22 de novembro nos cinemas.

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