A banda inglesa Queen foi fundada nos anos 70 e teve seu ápice na década de 80. Seu frontman, Freddie Mercury, era de uma potência vocal inigualável, sendo hoje considerado por muitos periódicos e revistas do ramo o melhor cantor de rock que já existiu. Com Brian May na guitarra, Roger Taylor na batera e John Deacon no baixo, Freddie conquistou o mundo e fez com que todos se curvassem para os experimentos ousados que eles juntos trouxeram para o rock.
No Brasil, a banda tocou em São Paulo para uma multidão no Morumbi e voltou anos mais tarde para a primeira edição do Rock in Rio, em 1985, apresentação anterior ao show beneficente que o grupo faria no Live Aid ainda naquele ano. Com a morte de Mercury, vitima da AIDS em 1991, o Queen seguiu fazendo shows aqui e ali com outros vocalistas ou participando de concertos que prestavam homenagens ao falecido vocalista da banda. Também produziram trabalhos solos e tiveram êxito. Em 1997, contudo, o baixista, John Deacon decidiu se aposentar. Durante os anos 2000, foram induzidos ao Rock and Roll of Fame e em 2015 voltaram a se apresentar no Rock in Rio com o cantor norte-americano Adam Lambert nos vocais.
O grupo já havia sido tema para um musical de sucesso visto em quase vinte cidades ao redor do globo e agora ganha as telas em aguardada cinebiografia dirigida por Bryan Singer e com argumentos de Peter Morgan e Anthony McCarten e roteiro deste último.
A película faz um recorte quadradinho apenas do momento de encontro dos ainda garotos para formarem a banda até a sua ascensão e morte de Freddie. A figura icônica do cantor e músico é interpretada pelo astro da série 'Mr. Robot', Remi Malek, Bryan May é vivido por Gwilym Lee, Roger Taylor por Ben Hardy, John Deacon por Joseph Mazello e Mary Austin, a ex-namorada e melhor amiga de Freddie, por Lucy Boynton.
Trailer
Freddie (Remi Malek) ainda trabalhava no aeroporto Heathrow, em Londres, quando decidiu mudar de rumo e incentivar sua veia artística. Designer por formação acadêmica, ele conhece o astrofisico Bryan (Gwilym Lee) e o dentista Roger (Ben Hardy) e decidem fazer música junto. John (Joseph Mazello), que é engenheiro elétrico, se junta à eles logo depois. Na mesma noite que Freddie encontra os garotos também conhece Mary Austin (Lucy Boynton) e fica interessado. Mais tarde começam um relacionamento e a garota é figura carimbada em todos as apresentações da banda.
Ainda tímido e atrapalhado, Freddie começa as performances e vai crescendo nos shows junto com o resto do grupo. Não demora muito e eles decidem gravar uma demo experimental para enviar as gravadoras. Porém, é no momento em que estão no estúdio que um olheiro os encontra e dá a dica para que o executivo John Reid (Aidan Gillen) os leve até o presidente da EMI, Ray Foster (Mike Myers) e os contrate com a gerência de Jim Beach. É então quando eles iniciam a subida para o sucesso fazendo músicas inusitadas e misturando gêneros.
Shows pela Europa, Ásia e até América do Sul superlotados e com a plateia cantando todas as letras. Mas aos poucos a estrada e a convivência vai cansando os quatro. Os ânimos se afloram e o ego de Freddie fica maior do que a união entre eles. Seu assistente pessoal, Paul Prenter (Allen Leech), consegue ser implacável e prejudicar muito sua vida com todos. É ele também que chega com a novidade de um contrato para dois discos em carreira solo. Contudo, uma virada na vida do cantor o faz repensar seus atos e se juntar novamente a banda. Logo em seguida, eles fazem o show de suas vidas no Live Aid, um concerto que beneficia os países pobres da África idealizado pelo multi-artista e ativista Bob Geldof (Dermot Murphy).
Então este é o QUEEN. - John Reid (Aidan Gillen)
É interessante ver como o roteiro de McCarten abraça o encontro, o trabalho e ascensão da banda e joga alguns detalhes sobre a intimidade e também sobre a família de Freddie. Nascido em Zanzibar, na Tanzânia, como Farrokh Bulsara, o garoto e a família se mudaram para a Índia e depois fugiram para a Inglaterra, devido as guerras e perseguições.
Não é falado no filme, mas quando pequeno Freddie foi enviado para estudar em uma escola em Bombaim e é ali que ele começa a sofrer bullying por sua aparência e jeito diferente. Também aprende a tocar piano e já aprecia música bastante. Já adolescente e morando em Londres ele inicia o estudo na escola de arte e se forma em designer. E começa a montar bandas - algo que também não é nem sugerido.
Os conflitos iniciais, claro, vem acoplado aos pais super apreensivos pela vida futura do filho e suas noitadas inconvenientes. Quando a banda se encontra e começa a compor junta, temos reflexos criativos de como canções como ''Love of My life'', ''Bohemian Rhapsody'', ''We Will Rock You'' ou ainda ''Another One Bites The Dust'' foram criadas e como cada músico adquiriu seu estilo. Também é informado que o grupo e a logo foram criadas por Freddie.
Os momentos no estúdio são cenas importantíssimas da película
A narrativa consegue ser prática, mas a cronologia dos acontecimentos vem apertada demais ou até foge um pouco da realidade para ser sugada pela 'licença poética' da trama. Isto prejudica a produção um pouco e fere a jornada da banda, principalmente, para quem é fã.
Aos poucos seguimos para a problematização da vida intima de Freddie - o seu sair do armário para a namorada Mary, noitadas com homens até o encontro com Jim Hutton, seu último parceiro,
para as brigas com a banda e para o crescimento do temperamento
arrogante de sua diva interior. Também somos apresentados a uma mídia
inglesa cruel e perseguidora que esquecia a música e focava seus
questionamentos apenas em Freddie e em detalhes de sua vida.
É quando olhamos para a incrível performance de Malek.
O ator ganha próteses dentárias e vai se moldando fisicamente e na cena derradeira do Live Aid percebemos o quão similar ao cantor ele trabalhou para ficar. E sua descendência egípcia também ajudou bastante.Trejeitos, olhares, o movimentar dos lábios, das mãos, o andar. Tudo muito ensaiado e coreografado para atingir o público com uma performance brilhante.
Os atores que interpretam Bryan, Roger e John, também tem caracterizações perfeitas. Gwinlym como Bryan ganha uma peruca no estilo merecido, mas sua fisionomia também é idêntica a do músico. As mudanças dos cabelos de John também são percebidas em todas vezes que Mazello está em cena e Ben Hardy tem o olhar e doçura moleque certeira que Roger Taylor propaga.
É difícil não mencionar que a produção que passou por mil e uma reviravoltas. A primeira delas o casting. Freddie, na verdade, seria interpretado por Sacha Baron Cohen, mas Bryan May fez argumentações contrárias. Além disso, o ator queria dar foco apenas em Freddie e a banda foi contra. Portanto, Malek entrou em cena. Já rodando o filme e quase no final do trabalho, Singer foi demitido por precisar estar ausente alguns dias devido a doença de um familiar. Dexter Fletcher (Voando Alto) entrou no barco e finalizou cenas e refilmou outras. Há uma decaída no caminhar da película, mas não exatamente pela troca de visões dos diretores.
O figurino é algo tremendo aqui. Temos roupas clássicas usadas pela banda e é fomentado pelo jeito exótico de Freddie em diversos dos takes. Julian Day é a responsável por isso. Trilha sonora nos embala com quase todos os clássicos do Queen. Aliás, logo na entrada se prepare para ouvir a clássica propaganda da 20th Century Fox ao som de uma guitarra. E dali partimos para ''Somebody To Love'' e o inicio do Live Aid - que é um start glorioso para voltar no tempo e recontar tudo da banda. A fotografia é diversa e anda pelos anos de trajetória da banda como em um carnaval. Seu brilho ao fim do filme, aliás, é no ponto. E a edição entrega o que pode.
Ficha Técnica.
Titulo Original: Bohemian Rhapsody, 2018. Direção: Bryan Singer e Dexter Flexter. Roteiro: Anthony McCarten com argumentos de Peter Morgan. Elenco: Remi Malek, Gwilyn Lee, Ben Hardy, Joseph Mazello, Lucy Boyton, Aidan Gillen, Allen Leech, Mike Myers, Tom Hollander, Aaron McCusker, Meneka Das, Ace Bhatti, Pryia Blackburn e Dermot Murphy. Edição: John Ottman. Supervisora Musical: Becky Bentham. Gênero: Biografia, musical, Drama. Figurino: Julian Day. Fotografia: Newton Thomas Sigel. Nacionalidade: Eua. Distribuidor: 20th Century Fox. Duração: 02h15min.
Aqui temos um exemplo, talvez, do que Meryl Streep viveu com sua ''Dama de Ferro'. E pode ser que Malek entre na temporada de premiações pela performance espetacular. Interpretou bem e dublou com sintonia - ele até canta, mas sua voz é misturada a de Freddie e não é tão perceptível assim.
Avaliação: Três hinos poderosos e meio bigode pintado (3,5/5 ).
01 de Novembro nos Cinemas.
See Ya!
B-
Não recomendado para menores de 14 anos
Avaliação: Três hinos poderosos e meio bigode pintado (3,5/5 ).
01 de Novembro nos Cinemas.
See Ya!
B-
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