A
trama de O Doutrinador é simples: Miguel (Kiko Pissolato) é um policial de
elite que vê a filha pequena Alice ser atingida por um tiro e morrer na sua
frente por falta de atendimento público. Isso é o impulso para ele assumir a
alcunha título do filme e começar a caçar políticos corruptos. Para isso ele conta
com a ajuda da jovem hackerativista Nina (Tainá Medina).
Tudo
isso é saído da história em quadrinhos de mesmo nome criada em 2008 pelo
carioca Luciano Cunha. A origem gráfica da história é bastante evidenciada pela
estética da fotografia, que conta com ótimos quadros. As cenas de ação que
permeiam todos os 108 minutos do longa-metragem são muito eficientes e chegam a
impressionar pela qualidade das coreografias e efeitos especiais. Não é esse o
problema do filme.
Trailer
Ficha Técnica,
Título: O Doutrinador, 2018. Direção: Gustavo Bonafé Codireção: Fábio Mendonça Roteiro: Mirna Nogueira, LG Bayão, Guilherme Siman, Rodrigo Lajes, Gabriel Wainer, Luciano Cunha, Denis Nielsen - baseado nas histórias em quadrinhos de Luciano Cunha. Elenco: Kiko Pissolato, Tainá Medina, Samuel de Assis, Carlos Betão, Eduardo Chagas, Natália Lajes, Du Moscovis, Marília Gabriela. Gênero: Ação, policial. Distribuidora: Paris filmes, Downtown. Nacionalidade: Brasil. Duração: 01h48min.
A
exaltação romantizada da figura de um justiceiro é um discurso perigoso e o
filme sabe disso, tanto que faz uma mea-culpa ao colocar na boca de todos os
personagens coadjuvantes falas como “ainda bem que a Alice não está aqui para
ver o que o pai dela se tornou” e “não é assim que se conserta as coisas”.
O
personagem principal mais parece um psicopata que encontra na justiça com as
próprias mãos um propósito para continuar vivendo depois da morte da filha do
que de fato um vingador. Até porque as pessoas que ele mata são responsáveis
pela morte da garota apenas de modo indireto. Em certo momento do filme, ele
diz que “O que matou minha filha não foi a bala perdida. Ela nem chegou a ser
atendida. Sangrou até morrer”. O que é um modo enviesado de se ver a situação,
considerando que se trata de uma criança pequena alvejada no peito.
Mas
é fácil condenar corruptos a morte quando estes são vilões reduzidos a figuras
maniqueístas que gargalham sozinhas ao contar dinheiro ou ao ver suas
conquistas maquiavélicas pela televisão. Ou ainda quando se tem a confirmação
de culpa de cada um deles ao hackear câmeras e e-mails.
Essa
narrativa reducionista funciona muito bem em quadrinhos. Não na vida real. O
problema é que um filme brasileiro lançado em um momento político como este
pode inflamar os ânimos dos espectadores e endossar uma tendência justiceira
que está em voga.
Nina
é a personagem mais interessante do filme. Uma pena não ter mais destaque. É
também dela a melhor atuação. As outras são tão unanimemente fracas que sugerem
uma má direção, a despeito das cenas de ação. Assim como também sugerem as
cenas com Alice, todas deveras piegas. Principalmente quando vemos a camisa do
Brasil da garota se encharcar de sangue em uma alegoria rasa.
No
entanto, O Doutrinador funciona bem como entretenimento e prende a atenção
durante toda a sua duração. O filme está nos cinemas a partir de hoje, 01 de novembro, e há uma cena pós-créditos que promete uma série do personagem
para 2019.
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