Baseado na vida do ator Tony Villalonga (Os Sopranos), Green Book - O Guia, de Peter Farrelly, revive os dias em que Lip, apelido de Tony, dirigiu para o pianista Donald Shirley em um Estados Unidos que passava por momentos ferrenhos de segregação racial.
O longa, aliás, é escrito e produzido pelo filho de Lip, Nick Villalonga (que também é ator e diretor) em parceria com Peter Farrelly, diretor do filme, e também Brian Hayes Currie.
Ganhador na categoria de 'ator coadjuvante' para Mahershala Ali, tanto nos Globos como no Critic's Choice Awards, o filme estréia nos cinemas com o aval da academia, pois recebeu três indicações por lá - Melhor ator para Viggo Mortensen, Melhor ator coadjuvante para Ali e Melhor Filme.
Tony (Mortensen) e Shirley (Ali)
Tony (Mortensen) era o típico imigrante italiano boa pinta. Em 1962, ele ainda era um mero 'relações públicas' nas boates de Nova York e resolvia qualquer parada. Seu apelido, aliás, era Tony Lip, algo como 'Tony Bocudo', assim, raramente as pessoas o chamavam por seu sobrenome de batismo, ''Villalonga''. Certa temporada de trabalho, a discoteca em que ele passa as noites separando brigas e fazendo novos contatos decide parar para reforma e ele necessita arrumar um emprego temporário. Por acaso, seu nome chega na gravadora que está gerenciando a carreira do aclamado pianista Dr. Don Shirley (Ali) e está está procurando um motorista para conduzir o músico em uma tour pelo sul dos Estados Unidos. Por ser negro e por toda a tensão espalhada no país, mesmo que Shirley vá tocar em lugares mais requintados ele necessitará de alguém que saiba espantar problemas e Tony é o cara certo para o trabalho. O interessante da jornada é ver que Tony e Shirley batem de frente em certos momentos, mas iniciam um processo de reconhecimento dos pontos fracos e fortes um do outro e uma forte amizade começa a florescer.
Você nunca ganha com violência, Tony.
Você só ganha quando mantém a sua dignidade. Don Sherley ( Mahershala Ali)
O roteiro de Nick, Peter e Brian é certeiro ao trazer a questão racial vivida nos anos sessenta e faz referência a um livro que realmente existiu para que os negros encontrassem com facilidade lugares em que não teriam problemas ou não seriam perturbados, durante suas viagens. Contudo, dói na alma assistir todos os preconceitos em que o personagem de Mahershala Ali passa em certas cenas. E tudo o que ele sofre por ser negro cresce quando descobrimos outros dramas ainda mais íntimos. Mas o texto não fala somente da segregação racial, já que ele aborda ainda um pouco do universo em que os imigrantes morando nos Estados Unidos se encontram. E a junção desses dois mundos, o de Shirley e o de Lip, a principio, se chocam, já que o italiano não tem tantos modos e se mostra preconceituoso em vários aspectos. Porém, logo, se constrói pontos em ambos os arcos dos personagens para que a dupla vá caminhando até a resolução de conflitos e saia da experiência claramente transformada.
Viggo faz uma de suas melhores atuações - ficando atrás apenas do seu fenomenal 'Ben' em Capitão Fantástico (2016)- e nos entrega um cara bem fanfarrão, esperto, anti-ético, mal educado, inacreditavelmente bom esposo, e sem papas na língua, inclusive, ele não faz feio nos momentos em que precisa soltar frases em italiano - o ator já falava espanhol, dinamarquês, francês etc... e com mais uma forcinha ficou feroz em um novo idioma. Já Mahershala Ali nunca esteve tão bem quanto aqui e ganha o destaque, pois apresenta um músico requintado, elegante e que sabe que arte tem a função de chegar tanto em lugares felizes como aos tristes. Algo incrível e marcante em sua performance está na linguagem corporal que o ator usa. O jeito de andar, mover as mãos, se postar em cena. Tudo faz um enorme sentido para criar o discreto Dr. Don Shirley. Ah, e nos momentos em que ele toca piano é tudo tão real que parece verdade, mas Ali teve como dublê de corpo o compositor da trilha do filme Kris Bowers.
Outro ponto da trama onde assistimos um caminhar bem sólido é a relação que Tony tem com a esposa Dolores, papel da atriz Linda Cardelini. Nos meses de turnê fora, Dolores solicita ao marido que a escreva sempre que possível, pois acredita na forte conexão que as cartas criariam entre eles e não os deixaria tão separados. Sem muita vontade, mas não querendo contrariar a amada, Tony o faz. Ele sabe que não é um bom escritor e tem um começo nada poético, todavia, a convivência com Shirley dá ao motorista as palavras certas para definir seu sentimento por Dolores.
Trailer
Ficha Técnica
Titulo original: Green Book - O Guia, 2018. Direção: Peter Farrelly. Roteiro: Nick Villalonga, Peter Farrelly e Brian Hayes Currie. Elenco: . Gênero: Biografia, Drama, época. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora: Kris Bowers (escute aqui). Fotografia: Robbie Ryan. Figurino: S . Edição: Patrick J. Don Vito. Distribuição: Diamond Films Brasil. Duração: 02h10min.
Peter Farrelly sempre esteve na cena entregando inúmeras comédias, algumas hilárias como as estreladas pelos mestres Ben Stiller e Jim Carey (Quem Vai Ficar Com Mary? Eu, Eu Mesmo e Irene), mas ele acaba de entrar em um campo novo: o dramático. E estréia bem para alguém com experiência em 'outro gênero'. Afinal, faz uma condução sem apelar demais para 'o tema político' que evoca dando ao espectador imagens que trazem sim boas reflexões.
A equipe técnica do filme, desde figurino, fotografia, cabelo e maquiagem, e etc, também nos proporciona uma boa volta aos anos sessenta pela maestria em detalhar todo e qualquer material da época. Algo legal da trama é a lembrança de como o ''KFC', restaurante de fast food famoso por seu 'frango frito' começou e se tornou um clássico no sul dos Estados Unidos.
Avaliação: Cinco transformações que consolam um coração sofrido (5/5 ).
Avaliação: Cinco transformações que consolam um coração sofrido (5/5 ).
Hoje nos cinemas
See Ya!
B-
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