Em novembro de 2018, faleceu uma das figuras mais icônicas da cultura pop. Aos 95 anos, Stan Lee deixou um imenso legado, tendo sido peça fundamental para o imaginário de diversas gerações. Como o maior nome da indústria dos quadrinhos, ele criou mais de 361 personagens que nos divertiram, nos comoveram, nos incentivaram a refletir sobre o mundo e nos proporcionaram momentos de necessário escapismo. Eu nunca fui fã de quadrinhos; acompanho apenas os filmes e series de TV, mas até um completo leigo em cultura pop sabe da importância de Lee para a indústria. Pode parecer bobo, mas ver um filme da Marvel sabendo que não contaremos mais com um divertido cameo do escritor e produtor parte o coração. Porém, sua presença continua presente em espirito, porque os heróis que criados por ele não vão a lugar nenhum, girls and boys.
A cada ano mais e mais produções do gênero chegam às telonas/inhas e arrecadam rios de dinheiro. São tantos filmes, desenhos e series, que eu admito que esse tipo de narrativa começou a me cansar. Por isso, eu nem mais crio expectativas ao ir assistir algo da Marvel ou da DC. Aliás, sequer tinha conhecimento que a Sony estava produzindo uma nova animação ambientada no universo do Homem-Aranha. Nem o trailer eu tinha assistido. Porém, bastaram poucos minutos para que percebesse que eu não tinha ido conferir só mais um filme medíocre de herói. Saí do cinema encantado e com a absoluta certeza de que “Homem Aranha: No Aranhaverso”, que estreia no Brasil nesta quinta-feira (10/01), é um dos melhores filmes da Marvel já produzidos.
Ficha TécnicaTítulo Original: Spider-Man: Into the Spider-Verse. 2018. Direção: Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman. Roteiro: Phil Lord e Rothman. Elenco: Shameik Moore, Hailee Steinfeld, Mahershala Ali, Jake Johnson, Liev Schreiber, Brian Tyree Henry, Luna Lauren Velez, Lily Tomlin, Nicolas Cage, Kimiko Glenn e John Mulaney. Nacionalidade: Estados Unidos. Gênero: animação, aventura. Música: Daniel Pemberton (escute aqui). Produção: Columbia Pictures, Sony Pictures Animation e Marvel Entertainment. Distribuição: Sony Pictures Releasing. Duração: 1h 56m.
É curioso que o filme tenha sido lançado pouco tempo após o falecimento de Stan Lee, pois a animação é uma verdadeira declaração de amor e agradecimento à Lee e aos fãs, que transformaram o “friendly neighborhood hero” em um verdadeiro fenômeno. Criado pelo presidente da Marvel Comics e Steve Ditko, o Homem Aranha apareceu pela primeira vez nos quadrinhos em 1962. Esta também foi a primeira vez que um adolescente era protagonista de uma série e o carisma de Peter Parker, assim como seu sentimento de inadequação – típicos da idade – causaram uma forte identificação no público. O sucesso do personagem foi e ainda é gigantesco.
Mas nem mesmo super-heróis vivem para sempre. E assim como Lee, uma hora Peter Parker precisou passar o seu manto e deixar que outro ser humano corajoso ajudasse a humanidade. Criado por Michael Bendis e Sara Pichell, o pseronagem Miles Morales, que foi inspirado no presidente Barack Obama e no ator Donald Glover(Atlanta e Community), assumiu a identidade do novo homem aranha nos quadrinhos em 2011 e é ele quem protagoniza “Homem Aranha: No Aranhaverso”. O filme tem inicio com Miles precisando dar adeus aos seus amigos e ao seu bairro, após ser aceito em uma escola particular de Nova York. Seu pai, um policial linha dura, insiste que a mudança será boa pra o futuro do garoto, mas ele se sente deslocado na nova instituição e cansado da pressão de ser quem os pais esperam que ele seja.
Miles se identifica muito mais com o estilo espirito livre de seu tio, Aaron, e por isso constantemente vai até ele a procura de refúgio. Em um dia particularmente difícil para o garoto, Aaron leva o sobrinho até uma estação de trem abandonada, onde Miles é mordido por uma aranha radioativa e começa a experienciar o surgimento de seus poderes. Tentando entender o que está acontecendo consigo mesmo, ele acaba cruzando o caminho de Peter Parker e juntos eles tentam combater um plano perigoso do vilão Wilson Fisk que envolve realidades paralelas.
Acredito que já falei demais. Para saber o que acontece a partir daí vocês vão ter que assistir o filme. Só acrescento que esse lance de lidar com dimensões paralelas é a justificativa para o longa explorar as diversas possibilidades do multiverso que a Marvel criou. Essa “multi encarnação” de um mesmo personagem foi uma das coisas que sempre me confundiu e que me torna reticente em começar a ler HQs, pois eu simplesmente não sei por onde começar. No entanto, o que eu achava que era a maior confusão é muito bem explorado pelo filme e rende surpresas maravilhosas, que vão encher qualquer fã do Homem Aranha de entusiasmo.
A animação em si é linda. Os diretores conseguiram criar uma atmosfera que simplesmente te transporta para os quadrinhos. É como assistir uma HQ ganhar vida diante dos seus olhos. Mas não é só apelando para o sentimentalismo dos fãs que o filme se sustenta. A trama entrega uma aventura de primeira: intrigante, surpreendente, com cenas de ação muito bem desenhadas e com um imenso coração. É um filme sobre encontrar o seu lugar; um tema muito explorado em narrativas de herói, mas que se feita de forma honesta, continua a tocar o público. E a produção sabe equilibrar muito bem todos seus elementos, viu?
Eu poderia citar mais um bocado de razões do porquê este filme é imperdível, mas para isso teria que soltar um bocado de spoilers e eu não quero estragar a diversão de vocês! Só posso reforçar a alta recomendação para que corram ao cinema mais próximo e conferam a melhor animação e o melhor filme de super-herói de 2018 (contando como a data de lançamento nos EUA).
PS: como disse, não sou Expert dos quadrinhos. Apenas assisti os filmes do spider e mesmo assim consegui aproveitar a animação e pegar diversas referências. É provável que só não aproveite o longa quem nunca ouviu falar do personagem, todavia, isso é meio que impossível, neh?
Nota: 5 aranhas radioativas.
Como encorajo vocês a irem ver o filme sem assistir o trailer antes - já que o trailer revela surpresas - vou deixar aqui o clipe da música tema, cantada por Post Malone)
10 de Janeiro nos cinemas
[Nota da editora: O filme ganhou GLOBO DE OURO de Melhor Animação, no último domingo (06)]
Um comentário:
Parabéns pela resenha, Vitor.
Ainda não vi o filme, mas sei que ele está uma delicinha.
Beijinhos!
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