Meu Querido Filho


Em seu segundo longa metragem, o primeiro sendo A Amante de 2016, o diretor tunisiano Mohamed Ben Attia parece ter encontrado um tipo específico de personagem para analisar em seus filmes: o homem tunisiano diante de um momento de crise. Se em A Amante nós acompanhamos um jovem quando ele descobre que a vida não se resume às convenções religiosas de sua família, em  Meu Querido Filho o objeto de estudo de Ben Attia é um pai perturbado com o sumiço do filho.

Na Tunísia atual, o filme retrata a família de Riadh (Mohamed Dhrif), um homem que está prestes a se aposentar. Ele e a esposa, Nazli (Moruna Mejri), têm as atenções voltadas para o único filho, Sami (Zakaria Bem Ayyed), que está se preparando para os exames do ensino médio. Mas as rotineiras crises de enxaqueca do jovem deixam o casal sempre em alerta. Quando tudo parece estar melhor, Sami desaparece de repente.

Trailer


Todos parecem ter alguma hipótese para o sumiço e o comportamento introspectivo de Sami: Sameh (Imen Cherif), amiga e colega de trabalho de Riadh, diz que o problema do jovem Sami é sexo. Por outro lado, um homem já idoso que Riadh encontra fala de uma pensão e insinua que o problema é a idade. Diz ainda que “esses jovens querem ser importantes. Nem que tenham que morrer por isso”. Raidh dá atenção para Sameh e este senhor da pensão, mas não parece que essas duas hipóteses sejam suficientes para entender a dimensão do que Sami sentia e que o levou a fugir de casa.



Ao adotar o ponto de vista de Raidh e elegê-lo o herói do filme, Mohamed Ben Attia tenta através dos olhos do pai estabelecer um diálogo com os eventos da Primavera Árabe e refletir sobre como a Tunísia chegou aonde chegou, para onde vai a partir de agora e todas as ansiedades da juventude diante dos problemas socieconômicos de um país com o qual ela não se identifica e como a geração mais velha talvez não tenha compreendido esse desassossego de tal faixa etária. A maior pergunta que o filme deixa é, talvez, quem representa a Tunísia nele: o jovem que foge, o pai que tenta encontrá-lo ou a mãe que não consegue mais se conectar com ninguém depois que o filho some?


Muito do que nós conhecemos sobre Sami durante o filme nos é apresentado através dos olhos do pai; é um menino calmo, de poucas palavras, amado pelos pais. Quando nós o vemos sozinho ou com os amigos, algo importante fica claro: ele não se sente confortável em lugar algum. Olha sempre para o chão, quando vai em uma festa isola-se no banheiro e mal sorri ao tirar uma foto com os amigos, prefere ficar sozinho em seu quarto estudando. Grande parte da jornada de Raidh no filme é descobrir não só que ele não conhecia seu próprio filho como também confrontar seus maiores medos como pai.


A direção de Mohamed Ben Attia se mostra sutil e contida na medida em que o filme aparenta por vezes ser mais um estudo do personagem de Raidh do que um drama familiar; as atuações são sóbrias, não há grandes excessos no roteiro, a câmera age de maneira discreta até em momentos mais íntimos dos personagens. Entretanto, uma inevitável consequência dessa escolha de direção é que tudo e todos viram plano de fundo já que o foco da direção é o pai. O fator não prejudica a narrativa do filme já que a intenção de Ben Attia era de fato apresentar o ponto de vista daqueles que ficam para trás.  


Ficha Técnica


Título original: Weldi, 2018. Direção e roteiro: Mohamed Ben Attia. Elenco: Mohamed Dhrif, Mouna Mejri, Zakaria Ben Ayyed e mais. Duração: 104 minutos. Gênero: drama. Nacionalidades: Tunísia, Bélgica, França. Distribuição: Pandora Filmes. Classificação etária: a verificar.



03 de Janeiro nos cinemas

Escrito por Raísa Maris

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