quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O Peso de Um Passado



A cidade de Los Angeles é há anos plano de fundo e palco dos mais diversos filmes; desde O Grande Lebowski (1998), dos Irmãos Cohen, até Cidade dos Sonhos (2001), de David Lynch, e passando por Short Cuts (1993), de Robert Altman, e chegando a até a distopia Blade Runner (1982), de Ridley Scott, a cidade parece inspirar roteiristas e diretores a explorar todas as suas camadas e contradições da que talvez seja a cidade mais hollywodiana dos Estados Unidos.

Em O Peso do Passado, dirigido por Karyn Kusama e escrito pelo seu parceiro cinematográfico e na vida Phil Hay e também o roteirista Matt Manfredy, nós acompanhamos a história não-linear da detetive Erin Bell (Nicole Kidman) e as consequências de um trabalho infiltrado que ela fez há anos no submundo do crime. Durante a missão, ela se une a uma gangue e o final desastroso da missão deixa marcas físicas e emocionais em Erin, que busca agora encontrar o líder da gangue.
Trailer



Em síntese, O Peso do Passado lida com culpa, obsessão e solidão. Durante uma entrevista ao podcast americano The Big Picture [clique aqui para ouvir], a diretora Karyn Kusama disse que sua visão de Los Angeles é sobre a experiência da solidão e como as pessoas tentam responder a essa solidão ou eliminá-la. Para Kusama, mais do que em outras cidades, em Los Angeles é um lugar aonde todos estão em constante movimento e que por isso é praticamente impossível de saber tudo o que se passa por detrás das portas.


E de fato, o filme escancara muito do que acontece na vida daqueles que buscam um lugar ao sol ao seu modo. Vemos então uma Los Angeles suja, solitária, quase claustrofóbica e que parece estar em um longo processo de decadência, como seus personagens principais. As viagens temporais do filme nos fazem acompanhar todos os personagens 20 anos mais novos e como a missão deteriorou essas pessoas fisicamente e emocionalmente. O que choca na transformação de Nicole Kidman durante o longa não é como ela aparenta estar mais velha, é poder notar em cada detalhe da sua fisicalidade como a obsessão e a culpa levaram essa detetive a mais completa autodestruição.



Provavelmente o maior problema de O Peso do Passado é que o roteiro não é tão bom quanto a direção e as atuações. Se por um lado ele frequentemente se utiliza de alguns clichês a direção busca superar isso principalmente com a maneira com a qual a tensão do filme é construída ao dedicar muito da sua atenção para as reações de Erin diante de todo o horror da missão. Ao colocar uma personagem desesperançosa em uma cidade decadente, O Peso do Passado, não graças ao roteiro, consegue ser se assemelhar muito aos Filmes Noir – principalmente na medida em que não há uma grande redenção para esses personagens, não há uma saída triunfal; depois da missão todos parecem estar condenados a uma existência decadente dentro de uma cidade que se deteriora tanto quanto eles.



Além de Nicole Kidman, o maior destaque em termos de atuação é Tatiana Maslany (Orphan Black) que encontra na traumatizada Petra mais profundidade do que o roteiro a oferece e protagoniza com Kidman algumas das melhores cenas do filme. Portanto, a direção, a fotografia e as atuações de O Peso do Passado conseguem redimir qualquer clichê do roteiro e oferecem o que pode se tornar, no futuro, um filme noir moderno com uma visão única de Los Angeles.

Ficha Técnica

Título original: Destroyer, 2018. Direção: Karyn Kusama. Roteiro: Phil Hay e Matt Manfredi. Elenco: Nicole Kidman, Toby Kebbel, Sebastian Stan, Tatiana Maslany, Bradley Whitford. Gênero: Policial, Suspense, Drama. País: EUA. Trilha Sonora Original: Theodore Shapiro. Fotografia: Julie Kirkwood. Figurino: Audrey Fisher. Maquiagem e Cabelo: Cary Ayers, Bill Corso e Barbara Lorenz. Edição: Plummy Tucker. Distribuição: Diamond Films. Duração: 02h03min.


17 de Janeiro nos cinemas


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