Vice


Os rumos da história política e econômica dos Estados Unidos desde a subida de George W. Bush ao poder ganharam um novo olhar naquele país com os atentados de 11 de setembro, ocorridos no fatídico ano de 2001. O que muita gente não sabe e que alguns documentários por ai ousaram mostrar (um deles o 'Fahrenheit 11/9' do cineasta Michael Moore) é como tanto Bush quanto seu vice-presidente, Dick Cheney, tinha as mãos sujas e, claramente, foram ferramentas essenciais para que aquela tragédia viesse a ocorrer.

Em Vice, longa de Adam Mckay (A Grande Aposta), conhecemos então a trajetória de Cheney, papel do sempre dedicado Christian Bale, para se tornar, ao lado de Bush, um dos homens mais poderosos do mundo. No elenco: Steve Carrell, Amy Adams, Alison Pill, Lily Rabe, Tyler Perry, Jesse Plemons, Alfred Molina e muitos outros.

Longa indicado a oito categorias no Oscar 2019 - Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem e Melhor Cabelo e Maquiagem. 


A jornada de Cheney é narrada por um cidadão norte-americano chamado Kurt, daqueles bem típicos e bem patriotas. O papel é interpretado por Jesse Plemons (das séries Fargo e Breaking Bad). Kurt nos leva a seguir a jornada de Cheney desde os dias como fracassado até o exato momento em que este já está como uma boa dose de poder nas mãos. 

O enredo evidencia como a mulher de Cheney, Lynne (Amy Adams), ajudou o marido a ascender e ficou ao seu lado em todo e qualquer momento como boa esposa que é. Juntos, o casal criou duas filhas, Mary (Alison Pill) e Liz (Lily Rabe), a quem Cheney aparentemente mostrou bastante cuidado, exceto quando o seu status político de republicano conservador não o deixou - uma das filhas resguardava a sexualidade, pois se assumiu como lésbica aos pais ainda adolescente.

Notavelmente um homem que entendeu bem o seu papel e a hora de assumi-lo, Cheney foi subindo degraus dentro do partido republicano norte-americano. Começou seguindo os passos de Donald Rumsfeld, secretário de defesa, durante os anos setenta, no governo e que veio a ter uma posição similar na administração Bush, criou laços e vínculos aqui e ali e conseguiu estabelecer uma estratégia de 'bom candidato' ao congresso e ir parar lá como deputado para se alavancar no futuro. E mesmo com o grave problema no coração - que o levou ao hospital dezenas de vezes - ele chegou onde quis e botou a mão onde pôde.

A esquerda o vice-presidente Dick Cheney e a direita sua representação por um Christian Bale pesando vinte quilos a mais.
Mckay usa todo o foco do filme para um alguém que talvez ao resto do mundo não teve tanta visibilidade, mas para os norte-americanos sim. Ainda mais para aqueles da onda conservadora. O texto é rebuscado, crítico, alusivo, e a construção dos fatos estão muito paralelas a realidade. o que talvez alguns discordem seja a forma quase documentada que é imposta aqui. Mas aos que já acompanham o diretor fica claro que é a sua forma de fazer cinema e ela é tão dinâmica que pode sim lhe fazer ficar ainda mais interessado no que ele tem a mostrar.

E tanto como roteirista ou como diretor, Mckay mostra muito e preenche a tela com informações de uma era onde a ambição pelo poder fizeram as neuroses internas nos Estados Unidos 'estarem em alta na bolsa' e o caos se instaurou na terra do Tio Sam e muito pela ajuda desses protagonistas tão ferrenhos da política estadounidense. Uma que traçou táticas e colocou em prática um plano de poder forte e sem qualquer limite vide a guerra no Afeganistão e a invasão no Iraque entre outros. 


Por coincidência do destino, Christian Bale e Dick Cheney compartilham da mesma data de aniversário, trinta de janeiro, e por ironia, no Brasil, o filme estréia um dia após as comemorações de boas novas a ambos. Bale, que ganhou Oscar, em 2011, por seu papel coadjuvante como um viciado em Crack no longa 'O Vencedor' e estava magérrimo, tem grande chances de levar o de melhor ator no Oscar deste ano onde tem uma caracterização impressionante e está parecidíssimo com Cheney. Para o papel, ele conta que pesquisou tanto ou até mais que em qualquer outro filme que já esteve e para subir a balança com vinte quilos em excesso necessitou de auxilio médico para não deixar de ser saudável. 

Maneirismos, fala, traços no rosto, a encarnação de um homem, tido por muitos como vil, é feita pelo ator britânico com muita competência e os amigos críticos que assistiram o filme lá fora dizem que as pessoas levantaram para bater palmas em muitas das sessões, ou seja, realmente, Bale faz valer a pena. Amy Adams também aparece incrível aqui e também ganhou indicação ao Oscar por sua coadjuvante e tem chances de levar, mas pode ser mais uma vez azarada, afinal, ela já conta com seis nomeações e zero estatuetas. Outros atores também sustentam a história bem. Alison Pill tem um arco dramático ótimo como a filha que se assume gay de um parlamentar republicano, o papel de Bush que ficou com Sam Rockwell é pequeno, mas sempre que está em cena ficamos extasiados, Tyler Perry como o secretário de defesa Colin Powell também foi uma ótima escolha. Tanto quanto Lisagay Hamilton como Condoleezza Rice. Naomi Watts e Alfred Molina fazem pequenas participações, ela como âncora de um jornal de uma emissora grande e ele como um personagem metáfora durante uma reunião em um jantar de negócios. 

Se há um público que goste de dramas políticos por aqui, este filme pode ser uma boa pedida.

Trailer

Ficha Técnica
Título: Vice, 2018. Direção e Roteiro: Adam Mckay. Elenco: Christian Bale, Steve Carrell, Amy Adams, Sam Rockwell, Naomi Watss, Tyler Perry, LisaGay Hamilton, Eddie Marsan, Alison Pill, Jesse Plemons,  Lily Rabe, Alfred Molina. Gênero: Biografia, drama. Fotografia: Greig Fraser. Edição: Hank Corwin. Trilha Sonora original: Nicholas Britell. Distribuição: Imagem Filmes. Duração: 02h12min.

Há uma cena pós créditos, então não saim da sala antes de assisti-la.

Avaliação: Quatro formas de estar no poder e continuar com ele (4/5)!

31 de janeiro nos Cinemas! 

See Ya!

B-

Escrito por Bárbara Kruczyński

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