quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Minha Fama De Mau


Em 2009, o cantor e músico Erasmo Carlos lançou sua autobiografia titulada 'Minha Fama De Mau' (disponível aqui), nome de uma de suas canções de maior sucesso com o público. A obra contava de forma simpaticíssima sua jornada e apresentava contos sobre sua origem, suas namoradas, esposas e, claro, sua carreira musical. O livro de tom divertido também se faz valer com fotos emblemáticas do astro da jovem guarda e seus muitos parceiros musicais. Um deles, o mito brasileiro Roberto Carlos.

Bem, quase dez anos depois, parte do que leu-se ali chega aos cinemas para exibir visualmente pedaços da vida do tremendão, apelido de Erasmo para quem ainda não sabe, e mesmo que tenha sido feito um resumo voltado para sua origem e ascensão como cantor e músico, o filme consegue divertir e respeitar toda sua trajetória. Interpretado por Chay Suede, Erasmo aparece cheio de sátira e quebrando a quarta parede, como nosso amado Deadpool o fez em seus filmes, e conhecemos um jovem cheio de sonhos e amor para dar. 

No longa, Roberto Carlos e Wanderléia são vividos por Gabriel Leone e Malu Rodrigues, respectivamente, e complementam bem a trama. A direção é de Lui Farias (Os Porralokinhas) com produção da LMC - La Toller e Indiana Filmes e distribuição da Downton Filmes.


Erasmo Carlos (Suede) nasceu Eramos Esteves em 1941 e viu o rock crescer entre os jovens como ele. Fã de Elvis Presley e ansioso por uma vida de sucesso, ele curtia o dia ao lado de uma turma de amigos talentosos, entre eles Tião - jovem que viria a se tornar o grande Tim Maia, anos depois, e aquele que só ensinou três acordes a Erasmo para que ele conseguisse seguir em frente. Das andadas pelo bairro e as festinhas na Tijuca, ele conheceu Roberto Carlos (Leone) - que já começava a aparecer na rádio e tocava no 'Clube do Rock', na antiga tevê tupi. E assim a amizade entre eles se iniciou, pois foi ali que Roberto o convidou para ir aos bastidores do programa. 

Não demoraria muito e eles já estariam compondo juntos e se esbarrando aqui e acolá com Wanderléia. Mas dos três, Erasmo era o único que entraria para o mundo da música a passos mais lentos. Isto porquê a vida real insistia que ele ganhasse dinheiro para ajudar em casa. Criado pela mãe Diva, vivida no longa por Isabela Garcia, o rapaz morava em um prédio tipo 'pensão' que abrigava umas dezenas de pessoas e tinha uma rotina simples. Mas sua dedicação o fez evoluir musicalmente e foi ao conhecer o radialista e produtor cultural Carlos Imperial, papel de Bruno de Lucca, que ele viu sua chance de entrar para a rádio de vez. Dali, mais passos ele deu e lançou seus primeiros sucessos até que foi com os amigos a cara de um programa para a juventude, nos anos sessenta.



No livro, temos em detalhes seus encontros com muita gente da música (Gilberto Gil, Rita Lee, Gal Costa), além de toda a sua vivência e referenciais musicais e há também uma ordem para os acontecimentos mais clara que no filme. Contudo, ainda assim a película tem seu valor.

O roteiro traz um recorte que enfatiza mais o começo da carreira de Erasmo e se desenvolve nos primeiros anos do sucesso da Jovem Guarda. Retrata como algumas canções foram compostas em carreira solo ou na parceria com Roberto e também resume o seu período fora das artes. Sua carreira na rádio e na tevê vem com frases idênticas ao que está na obra lançada anos atrás e o humor é quase o mesmo também.

Há uma leva de explicações para acontecimentos de sua vida. Algo que poderia ficar mais no subentendido, contudo, o roteiro não é de um todo ruim. A montagem que peca, talvez, por não enxugar mais as cenas e o filme parece ser maior do que é em tese.

A evidente crítica a 'jovem guarda' ser um pouco alienada e só traduzir músicas internacionais vai se evidenciando aos poucos e o contexto político do país aparece minusculamente mais para o segundo ato do filme e chegada do terceiro. Não há em si um detalhamento dos lançamentos das obras de Erasmo e ele tem uma discografia enorme e belissima.


Trailer


As atuações convencem e tanto Suede como Leone não parecem caricatos. Suede, aliás, ganha próteses dentárias e aparece com cabelos diferentes para lembrar as fases que Erasmo viveu. Desde roqueiro, a hippie chique a também a de motoqueiro. Suede que é também cantor mostra sua voz e não faz feio em nenhum momento e seus olhares diretos com a câmera surtem um efeito maravilhoso para engrandecer as cenas cômicas. Leone consegue enfatizar bem a amizade que Roberto tem por Erasmo e Rodrigues aparece pouco, mas sentimos toda a beleza de sua voz ao entoar as canções clássicas de Wandeca. Paula Toller faz uma ponta no longa como uma fofoqueira de plantão e surpreende.

Lui Farias consegue sim trazer bom entretenimento e mostrar de forma rica a trajetória de um ídolo de gerações passadas. O filme tem um design dinâmico e atual. Está cheio de animações e talvez isto ajude os adolescentes de hoje a se interessarem por ele. Mas é certo que quem é fã de Erasmo, jovem ou não, irá gostar muito da produção.

Max Pierre faz uma boa seleção musical e uma cena outra outra ouvimos clássicos de Erasmo ao fundo como a que 'Sou Uma Criança Não Entendo Nada' toca sorrateiramente.




Ficha Técnica


Título Original: Minha Fama de Mau, 2019. Direção: Lui Farias.  Roteiro: L.G. Bayão, Lui Farias e Letícia Mey - baseado no livro Minha Fama de Mau, de Erasmo Carlos . Elenco: Chay Suede, Malu Rodrigues, Gabriel Leone, Bruno De Lucca, Paula Toller, Isabela Garcia, João Vitor, Vinicius Alexandre, Felipe Frazão, Bianca Comparato. Nacionalidade: Brasil. Gênero: Biografia, drama, comédia. Produção Musical: Max Pierre. Direção de Arte: Tiago Marques. Montagem: Natara Ney. Figurinista: Valéria Stefani. Distribuição: Downton Filmes. Duração:01h45min.

Avaliação: Três canções sobre amor, amizade e sonhos  (3/5 ).

14 de Fevereiro nos cinemas

See Ya!
















B-

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