Querido Menino


Steve Carell sofre do mal que todos os bons atores com personagens icônicos sofrem. Aqui em Querido Menino, ele representa David Sheff, protagonista e pai de Nic (Timothée Chalamet), um jovem lutando contra a correnteza da dependência química. Seu trabalho é rico em nuances e o maior responsável por deixar o espectador tenso e desesperado do início ao fim. No entanto, é impossível não notar a sombra de Michael Scott (The Office - 2005-2013) vez ou outra quando ele sorri ou tem um rompante.

Carell não é a única estrela. A atuação de Timothée também contribui para que nos importemos tanto com o desenrolar da história, já que ele cria um Nic extremamente carismático, mesmo em seus momentos mais afetados pelas drogas.

Apesar dessa temática, o filme é muito mais sobre a relação de pai e filho. Nic é o primogênito de David e vive com seu pai, a madrasta e os dois irmãozinhos em um lar aconchegante e permissivo. É um adolescente carinhoso com a família e inteligente o suficiente para ser aprovado em seis universidades. Por muitas vezes o observamos através da câmera subjetiva dos olhos preocupados de seu pai.

Então é uma grande surpresa para David quando este percebe que o filho está com problemas e que não está apenas “abusando” da maconha, mas viciado em metanfetamina. A partir desse ponto, começa a derrocada de Nic e também a de David. Através do tempo e dos diversos tratamentos, melhoras e racaídas, vemos Nic se tornar a imagem clássica de um viciado: magro, doente, vivendo nas ruas, furtando para se drogar, tendo overdose atrás de overdose.

Enquanto isso, David não dorme, não produz mais, negligencia a esposa e os outros filhos para viver em função de tentar salvar Nic. É angustiante acompanhar uma história para a qual não vemos solução, já que o filme não traz nenhum discurso de salvação ou de que “tudo é possível para quem quer”. Pelo contrário. Através das pesquisas de David, somos apresentados a dados que explicam por que é biologicamente improvável que viciados em metanfetamina se recuperarem.


Mas como começou tudo isso? Por que Nic tinha uma depressão e uma sensação de não-pertencimento fortes a ponto de buscar drogas tão pesadas? David tenta entender onde foi que errou. É um pai presente. Tem uma relação de amizade com o filho. Não faltam demonstrações de afeto. A questão é: ele não errou.

A única pista que ele tinha de que o filho não ia bem era o fato dele passar horas trancado no quarto lendo autores misantropos. A depressão não aparece em apenas em pessoas quebradas, com vidas desestruturadas. Na busca de um sentido e de preencher o vazio, o amor não basta. Dinheiro não basta. Mesmo com Nic vivo e sóbrio, as coisas não estão maravilhosamente bem. Sempre vai faltar alguma coisa a ele. E a possibilidade de voltar a se drogar sempre estará por perto. Sabemos isso pela boca do próprio garoto, quando ele está sóbrio a quase um ano e, aos olhos alheios, bem.

Após vivenciar tantas emoções ao lado dos personagens, somos largados com um final anticlimático. Ser baseado em fatos reais (e em dois livros autobiográficos) não exime os roteiristas de criarem artifícios dramáticos para entregar um final catártico. Ou melancólico. Ou surpreendente. Qualquer coisa que não apático.

Contudo, a direção e a montagem não desapontam. A despeito do prólogo desnecessário, o filme costura a história de forma não-linear de maneira bastante interessante. Flashbacks não didáticos como os que aparecem aqui são cada vez mais raros no cinema.


Ficha Técnica


Título original: Beautiful Boy, 2018. Direção: Felix van Groeningen.  Roteiro:  Luke Davies e  Felix van Groeningen - baseado nos livros 'Beautiful Boy' e ‘Tweak’, escritos por David Sheff e Nic Sheff. Elenco: Steve Carell, Timothée Chalamet, Maura Tierney, Amy Ryan. Nacionalidade: EUA. Gênero: Drama. Trilha Sonora: Arturo Sandoval. Fotografia: Ruben Impens. Edição: Nico Leunen. Casting: Francine Maisler Distribuição: Diamond Films. Duração:120min.


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Escrito por Luana Rosa

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