Horácio (Pablo Echarri) é um
argentino residente do Rio de Janeiro que, professor universitário, lamenta a
carreira frustrada como escritor. Vera (Letícia Sabatella), de sotaque
paulista, é uma deputada estadual da câmara carioca que preza pela verdade acima
de tudo. O casamento de 15 anos dos dois ilustra aqui a coprodução de Brasil e
Argentina em Happy Hour - Verdades e
Consequências.
Como uma boa narrativa
latino-americana, o filme tem um quê de realismo fantástico. O mundo comum
(Joseph Campbell, A Jornada do Herói) é abalado quando um misterioso
bandido-aranha cai de um prédio sobre o capô do carro do protagonista. Devido à
queda, o infrator - que costuma entrar na casa das pessoas e atar com cordas
vermelhas quem quer que encontre - é hospitalizado. Ao fim do filme, quando ele
se recupera dos ferimentos e consegue escapar em liberdade, a ordem das coisas
é restabelecida.
Não se preocupe com spoilers. O
destino do aranha de nada importa para a história. Ele apenas serve como
elemento fantástico para ditar uma abertura no tecido da realidade e tecer sua
teia de estranheza sobre todos os personagens. Com a sua queda, três grandes
eventos acontecem na vida do casal protagonista. Primeiro, Horácio se torna um
herói reconhecido em toda a cidade por ter “capturado” o bandido. A mídia local
explora o caso à exaustão e não dá sossego ao homem, que passa a odiar a
repentina fama.
Não menos importante, ele decide
propor à esposa uma abertura do relacionamento para que ambos possam sair com
outras pessoas. Vera reage mal ao pedido, que além de indesejado, vem no pior
momento: quando ela fez alianças com seus desafetos políticos e se lançou como
candidata a prefeita. Esses três conflitos, três mudanças na vida desta família
vão servir de fio para o desenrolar de temas como verdade e mentira, desejo,
destino, pertencimento e o machismo. Um homem vira herói por coincidência. E
uma mulher, com toda a capacidade para a liderança, se vê dependente da imagem
desse 'herói por acaso' para chegar ao poder.
É uma pena que todos eles sejam muito
mal representados. Muitos dos temas ficam rasos e vemos tudo sob o ponto de
vista da figura do narrador-personagem que é Horácio, empobrecendo a discussão.
A comicidade pontual não ajuda o filme. Pelo contrário, ajuda a torná-lo
apalermado. Principalmente quando evoca Ricardo, personagem de Luciano Cáceres.
Infelizmente, mesmo o debate sobre a
quebra da monogamia, que é o que o longa se dedica mais diretamente, se dá de
maneira fraca. Clara (Aline Jones), aluna de Horácio, quer se mostrar tão
aberta e evoluída e, no entanto, é incapaz de demonstrar empatia à esposa dele.
E sua personagem é tão mal desenvolvida e tão desinteressante que, através dos
olhos do professor, não conseguimos entender a atração dele por ela.
Nos 105 minutos, se salvam as
atuações do casal principal, a trilha sonora e os diálogos. A despeito do
roteiro ser narrativamente ruim, as falas dos personagens despontam. Quem
quiser apostar nesses elementos, poderá conferir o filme a partir do dia 28 de
Março.
Trailer
Ficha Técnica
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