In the bases of sex chega ao
Brasil no próximo dia 14 de março sob o título de Suprema, um bom exemplo de uma tradução/localização competente. Ao
invés de traduzir ao pé da letra uma expressão que soaria estranha aos ouvidos
brasileiros, temos uma palavra de sonoridade forte e significado dúbio, podendo
se referir à mulher forte que acompanhamos durante o longa ou à suprema corte
americana, que teve como primeira integrante mulher a protagonista do filme:
Ruth Bader Guinsburg.
Infelizmente, este texto dá tanto
destaque à tradução do título porque faltam elementos a serem destacados no
filme em si. O roteiro, de Daniel Stiepleman, opta por mostrar a vida de Ruth
(vivida aqui por Felicity Jones) em dois momentos chave para que ela se
tornasse o ícone que é ao invés de fazer um panorama geral da vida da juíza.
Até aí, nenhum problema.
O primeiro desses momentos é a
formação da jovem Ruth em Harvard passando pelas dificuldades de uma faculdade
recém aberta para o público feminino. O segundo, seu primeiro caso como
advogada, defendendo um homem solteiro contra o próprio governo americano. Em
ambos, vemos a personagem lutar pela igualdade de gênero e fazer disso a sua
vida, envolvendo seu marido e também advogado Marty (Armie Hammer) e sua filha (Cailee
Spaeny). Aliás, como não fazer disso a sua vida se vemos o machismo
afeta-la cotidianamente desde as coisas mais mundanas até as mais absurdas?
Mérito de Stiepleman é fazer com que
um filme que foca boa parte de seu tempo de tela em leis e assuntos jurídicos
com termos específicos da área seja de fácil entendimento para todos os
públicos e não se torne massante. Aliás, apesar de raso e fraco, Suprema é interessante. A trama acaba
nos absorvendo pelo carisma dos talentosos atores. E as situações ultrajantes
as quais Ruth é exposta tornam impossível não nos indignarmos e não nos
compadecermos.
Em resumo: a estima que nos gera se
deve aos atores, à história real da própria Ruth e à nossa empatia pela batalha
que ela trava. O filme é muito comprometido com seu caráter biográfico. Mas
isso não é um elogio. Tamanho comprometimento com a veracidade e pouca criatividade
na hora de escolher as licenças poéticas que irá assumir tornam alguns
acontecimentos (e até alguns personagens) narrativamente fracos e desprovidos
de função dramática.
O roteiro segue um padrão de storytelling típico dos filmes
biográficos mainstream dos anos 1990. Mas pior que ele é a direção, assinada
por Mimi Leder. A diretora faz um ótimo trabalho em sua direção de elenco. Mas
falha em criar uma narrativa visual notável. Sua fotografia quando não cai em
clichês, não diz coisa alguma. E a trilha sonora tenta compensar as brechas da
obra de maneira que chama atenção demasiada para si.
Chama atenção a rima visual entre a
primeira e a última cena do filme, as duas que realmente impactam. Na primeira,
observamos Ruth, centralizada, subir as escadarias do prédio onde tomará suas
aulas ao lado de um mar de homens. Na última, a vemos novamente centralizada
subir as escadas para adentrar a suprema corte. Nesse momento, a atriz é
substituída pela verdadeira Ruth para nos lembrar que para que os Estados
Unidos ser como é hoje, houve o esforço de uma mulher real.
Para os que se interessam pela
história da juíza, recomendo RBG,
indicado ao oscar de melhor documentário em 2019. Ele será melhor tanto em
informar acerca dessa incrível história quanto em entregar uma cinematografia
habilidosa.
Trailer
Ficha Técnica
Título original: On The Basis of Sex, 2018. Direção: Mimi Lader. Roteiro: Daniel Stiepleman. Elenco: Felicity Jones, Armie Hammer, Justin Theroux, Kathy BatesSam Waterston, Cailee Spaeny, Jack Reynor, Sthepen Root. Nacionalidade: EUA. Gênero: Drama. Trilha Sonora: Mychael Danna. Fotografia: Michael Grady. Edição: Michelle Tesoro. Figurino: Isis Mussenden. Distribuição: Diamond Films. Duração:120min.
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