quinta-feira, 18 de abril de 2019

Chuva é Cantoria Na Aldeia Dos Mortos



Seguindo a tradição indígena Krahô, quando alguém na tribo morre é necessário que se realize a festa da corrida do tronco da árvore. A mesma simboliza a cerimônia funerária que liberta os espíritos e estes conseguem fazer a transição de mundos e colocar fim ao luto e sofrimento dos entes queridos. Assim, com a morte de seu pai, o jovem Ihjãc precisa o fazer, porém, segue adiando o evento e o fato de que o pai morrera. Uma noite em meio a floresta que circunda a aldeia ele recebe a visita do espírito do morto que o chama para banhar-se nas águas. É o aviso que é chagada a hora de organizar a tal cerimônia e encerrar o período de luto.

Ihjâc também percebe que seu lado espiritual está se manifestando. Suas visões, sonhos e a visita de seu animal de poder - uma arara - são os indícios que ele será o próximo xamã do lugar. Tentando fugir de tal responsabilidade, o jovem índio diz estar doente e abandona sua tribo indo em busca dos remédios e tratamentos do homem branco na cidade mais próxima da Aldeia Pedra Branca, em Tocantins. Este deixa seu povo, sua cultura e costumes e enfrenta uma realidade totalmente distinta da sua: a civilização. Ali, as primeiras dificuldades que enfrenta são relacionadas a documentos que ele não possui, e que para ser atendido no hospital, e, também ficar hospedado na casa de apoio, são necessários.


O choque da realidade para um indígena no Brasil contemporâneo é ainda pior do que em tempos antigos, mas ele ainda tem de lidar com os mesmos dilemas, um deles ter sua cultura e ancestralidade negadas.

Os Krahôs ou Caraôs habitam a área entre as fronteiras do Maranhão, Piauí e Tocantins e somente a pouco mais de dois séculos entraram em contato com o homem branco e isso só ocorreu pela necessidade de sobrevivência. Segundo dados antropológicos, em 2007 o povo Krahô somava duas mil pessoas e hoje tem aproximadamente três mil e quinhentas pessoas, tentando dar continuidade aos seus costumes e rituais.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Chuva é Cantoria Na Aldeia Dos Mortos, 2019. Direção e roteiro: Renée Nader Messora e João Salaviza. Elenco: Henrique Ihjâc Krahô e Kôtô Krahô. Gênero: Documentário. Nacionalidade: Brasil. Fotografia: Renée Nader Messora. Montagem: Renée Nader Messora e João Salaviza. Engenheiro de Som: Pablo Lamar. Mixagem de Som: Ariel Henrique. Distribuição: Embaúba Filmes. Duração: 01h54min. Classificação: Livre.

O documentário contou com a produção da EntreFilmes foi inteiramente gravado no formato de dezesseis mm pela cineasta brasileira Renée Nader Messora e seu marido português João Salaviza. Os diretores passaram longos períodos na comunidade indígena, no ano de 2009, e captaram as imagens em um total de nove meses. Como os próprios membros da tribo aparecem em cena enquanto eles mesmos e falando seu próprio idioma, o ar de veracidade é espetacular. 'Chuva é Cantoria Na Aldeia Dos Mortos' tem também Pablo Lamar como engenheiro de som e Ariel Henrique na mixagem e saiu ganhadora do prêmio do juri da Mostra 'Um Certo Olhar' do Festival de Cannes. 

Estreando em um momento importante da história do país, o filme se revela na certa como forma de conscientização e protesto. E levanta questões angustiantes como o genocídio dos nossos indígenas e a necessidade de demarcação de suas terras de origem. De maneira natural e espontânea, o documentário mostra a vida familiar e a rotina de um povo perseguido e mal compreendido. Também olha para os mais idosos, os que guardam as tradições, e a cultura e perguntam aos mais jovens sobre se deixarem influenciar por um homem branco vil com uma cultura rica e esquecer a própria.

"Ser indígena é um modo de ser, e não sua aparência."

HOJE NOS CINEMAS

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