Neste 11 de abril, chega aos cinemas brasileiros o
terceiro volume da franquia De Pernas
Pro Ar. Quem não assistiu aos anteriores pode ficar tranquilo. O novo filme
é perfeitamente palatável para quem caiu de paraquedas e não conhece as
aventuras anteriores das personagens.
Desta vez, a bem sucedida Alice Segretto (Ingrid Guimarães) decide se aposentar, mesmo sendo uma grande workaholic. Ela ama o que faz,
viaja o mundo com seus produtos de sex shop, tem uma marca prestigiada e está
no auge de sua carreira. Mas se sente frustrada e culpada por não poder estar
perto da família. A empresária se vê cada vez mais isolada do marido (Bruno Garcia),
não viu seu filho Paulinho (Eduardo Melo) crescer e teme que o mesmo aconteça
com sua caçula Clarinha (Duda Batista). A princípio, todos os moradores da casa
ficam felizes com o retorno da matriarca em seus cotidianos. Mas aos poucos,
vão percebendo que tê-la de volta é também ter que conviver com seus defeitos.
O carisma, não só de Ingrid Guimarães, mas de todo o
elenco é o que segura o filme. Neste capítulo da trama, somos apresentados a
uma nova personagem: Leona (Samya Pascotto). Inclusive, a mais cativante do
bonde. A jovem empreendedora encarna toda a roupagem moderna que a diretora Júlia Rezende quis trazer. As gírias e
expressões da internet saem com muita naturalidade da atuação de Samya, o que
costuma ser raro nesse tipo de personagem.
Leona (Pascotto) e Alice (Guimarães) |
A entrada de Leona também traz novidades nas pautas
do feminismo que a franquia aborda, mesmo que superficial e timidamente. Além
da liberdade sexual e do pazer da mulher, vemos o terceiro filme abordar a
competitividade feminina entranhada em todas nós. Alice inveja a beleza,
juventude e inteligência de sua “rival”; teme a escalada de sua carreira e
ainda sente ciúmes da relação que a jovem construiu com seu filho. Não é
inédito que essa faceta seja explorada exaustivamente nas mulheres fictícias a
torto e a direito. Porém, é um alívio que em uma obra tão popular, essa
competição seja problematizada, sejam apresentadas soluções e as personagens
superem isso.
Temos em tela duas figuras femininas competentes, determinadas, assertivas e
apaixonadas por seus respectivos trabalhos. Sem também deixarem de ser amorosas
e sensíveis. E por serem como são, passam toda a trama tendo problemas com
homens que ou encaram a atitude delas como uma insinuação sexual ou não se
sentem à vontade ao lado de mulheres tão poderosas, que roubam os holofotes
quando abrem a boca e são queridas e necessárias não apenas por seus parceiros.
Evidentemente, este fator não é o bastante para apagar
todos os erros cometidos. Para equilibrar este acerto, o filme aposta em um
humor rasteiro para Rosa (Cristina Pereira). Embora a intérprete viva a
empregada doméstica com habilidade artística inquestionável, a personagem é a
mesma empregada de diversas comédias e novelas nacionais, presa ao estereótipo
da serva leal, porém ingênua e sincera demais, que não tem vida além do
trabalho e cujo desejo/vida sexual é motivo de piada. É ofensivo que uma
personagem assim apareça sem trazer junto uma crítica ao padrão de vida dessas
pessoas ou a como as enxergamos (leais, ingênuas, sinceras, desprovidas de vida
e assexuadas ou taradas).
as amigas Alice (Guimarães) e Marcela (Maria Paula) |
No mais, as risadas que o filme arranca são
exclusivamente culpa de Ingrid. O roteiro é preguiçoso e se vale de desculpas
como “lembrei agora que não sei se meu filho voltou pra casa ontem!” para encaminhar
os obstáculos e resoluções que são necessários, introduzindo algumas situações
à força. A direção é competente, mas não é original nem criativa. Em alguns
momentos, expressões caricatas dos atores unidas à músicas “divertidas” criam
um clima de novela infantil. Devido à temática da franquia, creio que não era a
intenção.
O melhor momento do longa se encontra no terceiro ato.
O espectador certamente o reconhecerá. O ponto alto vem na forma de um jogo de
diálogos e montagem. Uma pena que falte coragem para o filme manter até o final
a decisão que é tomada nessa cena. Evidenciando a fraqueza do roteiro, a
solução para um final feliz vem como um passe de mágica, visto que nada mudou
em relação aos argumentos estabelecidos à priori. No entanto, De Pernas pro Ar 3 entretém e diverte
ao longo de seus 108 minutos. Ademais, apresenta catálogo de atores talentosos.
Não recomendado para menores de 14 anos
Trailer
Ficha Técnica
Titulo original e ano: De Pernas Pro Ar 3, 2019. Direção: Júlia Rezende. Roteiro: Marcelo Saback, Rene Belmonte e Ingrid Guimarães. Elenco: Ingrid Guimarães, Bruno Garcia, Denise Weinberg, Samya Pascotto, Eduardo Melo, Duda Batista, Cristina Pereira, Vicent Mangado, Stepan Necessian, Claudia Mauro, Maria Paula. Gênero: Comédia. País: Brasil. Direção de Fotografia: Dante Belluti. Direção Artística: Fabiana Egrejas. Montagem: Maria Rezende. Trilha Sonora Original: Zé Ricardo. Produção de Elenco: Marcela Altberg. Coprodução: Globo Filmes, Telecine e Paris Entretenimento. Distribuição: Paris Filmes e Downton Filmes. Duração: 01h48min.
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