Haverá uma grande festa da família que os filhos e seus respectivos cônjuges preparam em segredo para comemorar o aniversário de casamento de seus pais. Tios e parentes distantes estão convidados e virão de outras cidades para prestigiar o evento. Acontece que não só o marido homenageado não desconfia da comemoração, como esqueceu-se da data e foi encontrar sua amante em um hotel. Este encontro será o suficiente para causar nele uma parada cardíaca e transformar a festa em um funeral.
Se esse ponto de virada pareceu clichê, é bom deixar o espectador avisado de que ele é um dos melhores marcos deste roteiro. Um Funeral em Família é um desastre. Uma comédia recheada de piadas de conteúdo sexual que, no entanto, são extremamente infantis. O elenco se divide em dois núcleos: os filhos, esposa e noras do homem morto e um grupo de cinco velhos parentes liderados por Madea.
Seguindo uma tradição tão antiga no humor que remonta à comédia del’arte, o primeiro núcleo traz dramas sérios e personagens com quem o espectador deve se identificar; e o segundo núcleo é composto por bufões e caricaturas. Neste filme, nenhum dos dois eixos funciona. Os personagens idosos são construídos em cima de camadas de maquiagem, barrigas e peitos postiços, bocas tortas e perucas tão falsos que remetem mais a uma linguagem circense ou teatral. Eles forçam vozes grotescas que tornam as cenas insuportáveis de assistir. Principalmente pelo ritmo lento que a obra assume.
O eixo mais sério não consegue atingir dramaticidade alguma e suas tentativas são risíveis. Em nenhum momento o público é levado a se compadecer da dor deles. Até porque eles não soam como pessoas reais. Ficam parados e calados na sala enquanto o núcleo “engraçado” discute aos berros sobre como não podem revelar certos segredos. A presença de tais segredos faz com que uma a cada cinco frases seja alguma variação de “cala a boca”, o que contribui para o longa se tornar ainda mais cansativo.
Talvez a única característica favorável seja a representatividade. O elenco é inteiramente negro com exceção de dois policiais que abordam o grupo em determinado momento da trama. Essa cena conta com uma crítica certeira, mas tão mal executada quanto o resto dos diálogos. As piadas são sempre destrinchadas e alongadas por vários minutos, fazendo com que mesmo os raros pontos engraçados percam a graça.
E se você crê que irá encontrar neste um dos muitos filmes norte-americanos que é péssimo em conteúdo, mas aposta em um bom elenco e uma execução técnica primorosa para atrair público, se enganou. Um Funeral em Família é visualmente pobre, com um repertório de planos e ângulos escasso. E pior: é mal executado. Há uma cena de diálogo com plano e contraplano em que uma das personagens se encontra coberta pela sombra de seu interlocutor causada pelo spot de iluminação. Ah, e não há um segundo sequer sem trilha sonora, sempre indicativa do que a audiência deve sentir.
Mas antes fosse o aspecto técnico o pior de tudo. A despeito da representatividade, a história aposta em estereótipos negros. O figurino e a câmera reforçam o quanto os corpos das mulheres são esculturais e os homens são fortes, musculosos e viris. A espalhafatosa Madea está o tempo todo dizendo coisas como “nós negros fazemos assim”, quando na verdade se refere a práticas suburbanas. Para piorar, o diretor e roteirista que também vive vários dos personagens, Tyler Perry, gosta de apostar no ato de se transvestir como carro chefe de seu humor, ao lado da chacota sobre o desejo sexual da terceira idade. Não é a primeira vez que Perry se presta a isso. Mas esperamos que seja a última.
Trailer
Ficha Técnica
Titulo original: A Madea Family Funeral, 2018. Direção: Tyler Perry. Roteiro: Tyler Perry. Elenco: Tyller Perry, Patrice Lovely, Cassi Davis, Rome Flynn, Courtney Burrell, Kaneshia ‘KJ’ Smith, Quin Walters, David Otunga, Jen Harper. Gênero: Comédia. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora: Philip White. Costume Design: Crystal Hayslett. Edição: Larry Sexton. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h49min.
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