quinta-feira, 30 de maio de 2019

Rocketman, de Dexter Fletcher


Reginald Kenneth Dwight, mundialmente conhecido como Sir Elton John, lançou seu primeiro disco em 1969 e trabalhou muito até sua carreira como cantor e pianista decolar. Desde que entrou para o ramo da música sempre contou com o compositor Bernie Taupin como parceiro e por quase toda a juventude drogas, sexo, fama e rock'n'roll foram parte dos seus dias.

Em 2012, o cantor anunciou que supria interesse em levar aos cinemas um pouco de sua jornada e que o também músico Justin Timberlake poderia interpretá-lo na produção já que se saíra muito bem como Elton no videoclipe, lançado anos atrás, para a canção 'This Train Don't Stop There Anymore (ver aqui)' do disco 'Songs from the West Coast. 

Com o passar dos anos, o filme entrou em produção e para o papel de Elton um ator britânico, jovem e em ascensão acabou chamando a atenção, o talentoso e versátil Taron Egerton. Egerton não só já havia estado em outros trabalhos nos quais o próprio Elton estivera envolvido (Sing: Quem Canta Os Males Espanta e Kingsman: O Círculo Dourado) como também já havia sido dirigido por Dexter Fletcher no longa de 2015, 'Voando Alto'.


Para escrever a trama, Lee Hall (Billie Elliot), foi convocado e a decisão final foi trazer ao público um olhar em tom de fantasia usando da discografia do artista para contar sua incrível história de revelação. Claramente, fatos foram alterados para criar e dar mais dramaticidade, mas a essência da carreira e dos dilemas de Elton se encontram ali e com perfeição.

O roteiro, aliás, escolhe nos mostrar como inicio da história um ponto crucial da vida de Elton: o momento em que ele realmente decidiu largar as drogas. À beira de iniciar uma mega tour pelos Estados Unidos, transtornado por acontecimentos em sua vida amorosa e familiar, ele acaba entendendo que para sair daquele estado teria que sacrificar seus dias de farra e se dirige para a reabilitação. Ali começa a rever sua vida em uma sessão de terapia, inclusive, participa de uma por quase todo o filme, e é neste momento que o espectador é levado a conhecer sua infância e como a música entrou em seu caminho. Os laços familiares com os pais Sheilla (Bryce Dallar Howard) e Stanley (Steven Mackintosh), de largada, não são tão bem resolvidos assim, e o pequeno Reggie (Matthew lllesley), apelido de Elton, vê na avó Ivy (Gemma Jones) uma oportunidade de afeto. É também a matriarca que insiste que o garoto tenha aulas de piano, após vê-lo tocar e ficar intrigada.

Com os anos, o menino vai ficando cada vez melhor no instrumento (na mudança de fase o papel é vivido por Kit Connor) e aos quase doze, ele ganha uma bolsa para estudar na 'Royal Academy of Music'. Já na adolescência e chegando na fase adulta começa a tocar nas noites londrinas e é ao entrar em contato com Dick James (Stephen Graham) que acaba conhecendo Bernie Taupin (Jamie Bell) e decidem enviar músicas um ao outro para trabalharem em parceria - o que na realidade não aconteceu, pois eles se conheceram através de concursos para compositores, alteração nem assim tão irrelevante.


É com Dick que Elton consegue atenção e investimento para lançar seus primeiros discos e viajar aos Estados Unidos, onde faz suas primeiras modestas, mas bem sucedidas, apresentações. Por lá, ele e o parceiro Bernie começam a criar uma rede de contatos interessante e também iniciam relações amorosas. 

Bernie ganha um ar de paquerador em certos momentos e Elton começa um relacionamento homoafetivo com o produtor musical John Reid (Richard Madden). Aliás, este último logo dá seus pulos e vira agente de Elton também, o que deixa Dick enfurecido (o fato gerou até uma briga judicial pelo gerenciamento da carreira do inglês). E o intrigante é que Reid, por volta dos anos 70, também era agente da banda de Rock QUEEN, algo que não é mencionado, mas está gravado na história da música.


O filme apresenta conveniências típicas de musicais e ainda assim consegue ser maravilhoso.  Toma seu tempo para explorar os dilemas de Elton com a sexualidade, mostra um sutil primeiro beijo entre ele e um 'back in vocal' de uma banda na qual tocava e vai afundo na busca do ídolo por aceitação, amor e o equilíbrio disso ao seu trabalho. Como nem sempre foi fácil "sair do armário" ou lidar com quem realmente era, Elton acaba se casando com uma amiga e nestas cenas sentimos um forte pedido de 'desculpas'.

A relação com os pais é bastante importante na trama e emociona. A mãe é mostrada como uma mulher que nunca foi exatamente carinhosa e atenta e o pai acabou se casando novamente e não tendo participação na vida de Elton como este queria. Ainda assim, foram Sheilla e Stanley que apresentaram Elvis Presley e outros cantores importantes da época ao filho.

Bernie e Elton também passam por algumas poucas desavenças, mas no geral se tratam como irmãos e não há dúvidas de que o sucesso das músicas é devido a este fator de uma química sem igual.






Como musical, o filme usa de um jeito simples, mas altamente eficiente, as canções clássicas do cantor (escute aqui a lista de músicas) para embalar os diálogos e não é só Egerton que é visto entoando hinos dos anos 70 e 80. Jamie, Bryce, Gemma, Richard e etc também.

Aliás, Egerton conquista não só como ator, mas como showman. Sem medo e preparado para o papel, ele vive lindamente o arco do personagem e a cada look ou mudança de cabelo percebemos que ele tenta crescer e ir afundo no que lhe é pedido. Quando canta, não soa caricato, mas soa parecido. E há muita verdade em sua interpretação. Suas cenas sensuais ou mais provocantes vem cheias de poesia e há metáfora ali e acolá pelo filme. Os atores mirins, Matthew e Kit, são tão bons quanto se precisou que eles fossem. Richard vai com tudo no sotaque irlandês de seu personagem, sem contar que é uma cobra interesseira, Jamie é um dos melhores atores desta geração e continua a ser tão incrível quanto da primeira vez que o vimos em Billie Elliot, Bryce, apesar de não ser tão mais velha assim que Egerton, encarna bem sua mãe e Gemma, que já conhecemos de 'O Diário de Bridget Jones como a enlouquecida mãe da heroína, aparece tão amável que fica impossível não se apaixonar.


O design inteiro da película é bem orquestrado. O figurino não foge a regra e entrega todos os looks possíveis de Elton, se não igual, semelhante. Ambientação e direção de arte também são mestres em nos levar aos anos 70. E com a ajuda do tom ofuscado e mais escuro dos vídeos, assistimos algumas representações de videoclipes clássicos ou até apresentações de Elton.

Dexter Fletcher não traz exatamente um filme cheio de takes inovadores, mas movimenta bem a câmera e usa tal ação para passar o tempo e fazer o personagem envelhecer. Sua condução não deixa em nenhum momento o tom do filme se perder e há um ótimo compasso para a entrega dos grandes acontecimentos em tela. O desfecho, claro, vem com aquele famoso 'resuminho' do que ocorreu depois. Como o cantor ficou sóbrio, montou uma instituição de apoio aos portadores da AIDS e até o seu casamento nos anos 2000, quando finalmente encontrou o amor. Tudo com uma pitada de comédia e os clássicos de Elton ao fundo.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Rocketman, 2019. Direção: Dexter Fletcher. Roteiro:  Lee Hall. Elenco: Taron Egerton, Jamie Bell, Richard Madden, Bryce Dallas Howard, Gemma Jones, Matthew IIIesley, Tate Donavan, Kit Connor, Charlie Ray, Stephen Graham. Gênero: Musical, Biografia, Comédia. País: Reino Unido. Trilha Sonora Original: Matthew Margeson. Direção de Fotografia: George Richmond. Edição: Chris Dickens. Design de Produção: Peter Francis e Marcus Rowland. Direção de Arte: Sophie Bridgman, Steve Carter, Emily Norris, Astrid Sieben Alice Walker. Figurino: Julian Day. Duração: 2h01min. Distribuição: Paramount Pictures.
Avaliação: Quatro vestimentas e cinquenta pianos coloridos (4,5-5)

See Ya!
B-

HOJE NOS CINEMAS

Godzilla II: Rei dos Monstros



Godzilla, de Ishiro Honda, foi lançado nos cinemas do Japão em 1954 e alcançou imensa popularidade. O filme seria irreconhecível para a maioria das pessoas, hoje em dia, mas se tornou um grande clássico e virou referência para as produções com monstros gigantes que assustam a humanidade, enquanto destroem uma cidade. A primeira aparição do Kaiju é pesada, triste, e remete a era das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Não deixa também de refletir um pouco sobre o estado do mundo durante a Guerra Fria, onde o conflito ideológico e as armas nucleares criavam uma constante preocupação sobre um fim iminente.
           
E tais temas pesados e reais reapareceram novamente, em alguns filmes do lagarto gigante, mas desde King Kong vs Godzilla, a terceira aparição do monstrengo, o nome Godzilla têm sido muito mais relacionado a longas ora cômicos, ora de ação, contudo, indicando cada vez mais um tom trash ou ainda de 'filme b' - Mecha Godzilla, Godzilla Junior e muito mais.
           
Godzilla II: Rei dos Monstros, o mais novo filme sobre a criatura aterrorizante, continua a trama de 2014, estrelada por Aaron Taylor-Johnson e Bryan Cranston, traz certos personagens em comum, aliás, mas os protagonistas são diferentes. Assim, ao invés de seguir o militar Ford Brody (Johnson), em um enredo que assemelha-se um pouco ao enredo do original, com um foco enorme nas pessoas que estão sobrevivendo, a catástrofe sendo criada pelos titãs, enquanto estes só realmente aparecem nos últimos cinco minutos finais, o segundo longa da série têm se desenvolve com a ajuda de outros arcos em cena. Aqui, Dr. Mark Russell (Kyle Chandler), Dra. Emma Russell (Vera Farmiga) e a filha Madison Russel (Millie Bobby Brown), três sobreviventes do primeiro ataque quatro anos atrás, agora vivem no centro de uma grande mudança na ordem mundial.
           

Rei dos Monstros é dirigido por Michael Dougherty, diretor de Contos do Dias das Bruxas (2007), um dos melhores filmes com a temática Halloween, fato que de algum jeito acaba sendo incrivelmente relevante para Godzilla, pois a construção do suspense vem de forma similar. Neste novo trabalho, Dougherty cria uma experiência audiovisual impressionante que capta com nostalgia a primeira interação que o público teve com o personagem, acredita-se ainda que o cineasta a melhora inúmeras vezes. 

Há sim o que se criticar no desenvolvimento da história e nos arcos dos personagens, todavia, é impossível não apreciar o que vemos aqui. A aparição dos monstros, por exemplo, vem em maior quantidade, diferente da pelicula anterior. E a escolha proporciona prazer aos olhos e aos ouvidos. Ainda mais com a montagem e ambientação para cada um dos quatro monstros principais, Godzilla, Mothra, King Ghidorah e Rodan. Todos ganhando ainda trilha sonora especial e um visual legitimo.
                     

Os personagens não vão necessariamente agradar a todos. Afinal, quase a maioria deles se constrói de forma simplista com motivações rasas e escolhas questionáveis. Ainda assim, sentimos que eles preenchem o roteiro, servindo a um papel claro de serem secundários perante os verdadeiros protagonistas. Logo, Godzilla II entrega sim um resultado final divertido e com atos movimentados, ainda que estes não sejam especialmente bem trabalhados.  
 
Seguindo a tradição, Rei dos Monstros também apresenta um pouco do folclore que o rico universo de Godzilla têm fora das telas. Há tempo para detalhar mais sobre a importância dos titãs e de onde eles surgiram - algo até um pouco clichê e ridículo, mas absolutamente sério e que faz referência ao inicio de toda a caminhada e que soa como um aceno aos velhos fãs monstrão.
           
Concluindo, vale dizer que a iniciativa é, no mínimo, uma experiência audiovisual incrível que não lembra nem de longe o longa de 1998 e emplaca um CGI bacanérrimo para colocar na tela lutas entre Kaijus poderosos - fãs de 'Círculo de Fogo' se preparem para a comparação, pois ela pode surgir e deve.  Também é fato que aqueles que curtiram o anterior, ou ainda Kong: A Ilha da Caveira, conseguirão apreciar esta apresentação. Uma que não é forte ou memorável, mas ainda assim um pipoca com tempero que tem lá seu ápice.
           
Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: Godzilla, King of the Monsters, 2019. Direção: Michael Dougherty. Roteiro: Max Borenstein, Zach Shields, Michael Dougherty. Elenco: Kyle Chandler, Vera Farmiga, Millie Bobby Brown, Ken Watanabe, O'Shea Jackson Jr. Charles Dance, Sally Hawkings,Anthony Ramos, Ziyl Zhang, Bradley Whitford e David Strathairn. Gênero: Ação, ficção científica. País: EUA. Direção de Fotografia: Lawrence Sher. Edição: Roger Barton, Bob Ducsay e Richard Pearson. Duração: 2h12min. Distribuição: Warner Bros Pictures.

HOJE NOS CINEMAS

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Ma, de Tate Taylor


Sue Ann guarda terríveis traumas do ensino médio. Tendo sofrido uma grande humilhação pública em uma cidade pequena, ela se tornou uma adulta sem autoestima, sem amigos e que não inspira respeito nem em sua chefe. Vivida magistralmente por Octavia Spencer, a mulher vê uma oportunidade de mudar essa realidade quando ganha a simpatia de um grupo de adolescentes após comprar bebidas para eles.

Adotando medidas inconsequentes, Sue Ann conquista de vez o carinho do grupo ao passar a dar festas semanais em seu porão, com direito a bebidas compradas por ela e comida a vontade. Aos poucos, outros adolescentes passam a frequentar o local. Assim, se torna uma figura conhecida pelos jovens e admirada pela maioria. Algo que ela nunca vivenciou.

Apesar do tom de terror que sugere a homofonia da palavra em português, o título “Ma” é uma contração informal da palavra “senhora” em inglês. É como a personagem passa a ser conhecida por seus novos colegas.


Não há dúvidas de que Ma está presa ao passado, incapaz de superar seu trauma. Mas se no início ela usa a situação para viver o que nunca pôde, quando ela percebe que não faz parte do grupo como uma igual, outras maneiras de lidar com o passado virão à tona.

Se optamos pela definição de suspense o ato de indicar a chegada de uma ação somente para, quando este se concretizar, guardá-lo para mais tarde… então temos aqui uma obra sublime na construção do gênero. Talvez isto frustre os espectadores mais fanáticos pelo formato cru do terror, pois o filme segue como um drama durante seus dois primeiros atos e só abraça um tom exato no final. No entanto, para quem quer ver mais que jump scares e cenas de violência, a decisão do diretor Tate Taylor é bastante acertada. Uma pena que a divulgação do filme não tenha tido o mesmo cuidado e entregue inúmeros spoilers da produção no trailer e também em um dos pôsteres. Portanto, meu conselho é que você não assista ao vídeo antes da sessão.


Se até aqui eu falei apenas de Ma/Sue Ann, é porque a protagonista Maggie (Diana Silvers) consegue ser a personagem mais insossa da trama, perdendo em carisma para Ma e para sua colega Haley (McKalley Miller). O elenco juvenil é bastante mal aproveitado e isso influencia em como recebemos os momentos de tensão.

Além disso, não posso deixar de chamar a atenção para o fato de que a narrativa contribui para o mito de que pessoas que sofrem bullying crescem como adultos violentos e vingativos, sendo que temos provas de que as minorias são sempre alvo de chacota e normalmente são pessoas sensíveis e inteligentes e a violência parte daqueles que cresceram acreditando que têm direito a tudo.

À exceção dessas falhas, Ma é um filme eficiente e prazeroso de assistir.

Trailer 

Ficha Técnica
Título original e ano: Ma, 2019. Direção: Tate Taylor. Roteiro: Scotty Landes. Elenco: Octavia Spencer, Diana Silvers, Juliette Lewis, McKalley Miller, Corey Fogeklmanis, Gianni Paolo, Dante Brown, Tannyel Waivers, Luke Evans, Missi Pyle. Gênero: Drama, Terror, Thriller. País: EUA. Direção de Fotografia: Christina Voros. Edição: Lucy Donaldson e Jin Lee. Duração: 1h39min. Distribuição: Universal Pictures.

30 de maio nos cinemas

Anos 90



Stevie (Sunny Suljic) é um pré-adolescente de classe média que, em busca de um local de pertencimento, acaba parte de um grupo de skatistas mais velhos moradores da periferia de Los Angeles. Os demais integrantes do grupo se divertem com a inocência do garoto e logo se afeiçoam a ele, dando-lhe o apelido de Queimadinho (Sunburn). Apesar de ser o protagonista, o filme não é sobre ele, mas um retrato dessa juventude noventista.

Com um excelente casting trazendo garotos estreantes para viver Ray (Na-kel Smith), Ruben (Gio Galicia), 'Fuckshit' (Olan Prenatt), que em português se traduz como 'Porra Louca', e Fourth Grade (Ryder McLaughlin) ou ainda 'Quarta Série', o primeiro filme do ator Jonah Hill na função de diretor é autêntico e fluido. A estética dos anos 90 não está presente apenas na música e nas roupas, assume também a fotografia. A textura granulada da imagem 16mm, a razão de aspecto 1x1:33 (ou seja, a tela quadrada) e cortes “quebrados” nos remetem diretamente à era do vídeo pré-digital.

Aos poucos, Stevie deixa de ser a criança doce e obediente e vai assumindo o linguajar e a postura de seus novos amigos. Ele pode não ter tantos motivos para se rebelar quanto os colegas periféricos, mas vive uma realidade abusiva em casa com seu irmão (cerca de oito anos) mais velho e enfrenta as mesmas dúvidas e inseguranças que todos os adolescentes, com o aflorar da sexualidade, a negação dos pais, as incertezas do futuro e a sensação de deslocamento.
 

Como o que importa é o esboço dessa geração, a obra não força um desfecho para cada um de seus elementos - digo, personagens. A rebeldia de Ray, o líder do grupo, o impele a buscar algo melhor para si, sair daquela realidade. Enquanto a de Porra Louca começa a levá-lo para um abismo de autossabotagem em que tudo o que importa é curtir o momento. Não chegamos a saber se Ray “dá certo” na vida ou se Porra Louca tem o fim que suas atitudes sentenciam. Isso não importa.

O filme tem curtos 85 minutos e cada um deles é delicioso de se acompanhar. Um 'coming of age' - subgênero que acompanha o amadurecimento de crianças para a fase adulta - cheio de diálogos e muito naturalista que por vezes parece ter sido dirigido por Richard Linklater (Jovens Loucos e Rebeldes, Boyhood) ou mesmo Gus Van Sant (Paranoid Park, Elefante). Ótima estreia para Jonah Hill.


Trailer

Ficha Técnica


Título original e ano: Mid90s, 2018. Direção: Jonah Hill Roteiro: Jonah Hill. Elenco: Sunny Suljic, Katherine Waterson, Lucas Hedges, Na-Kel Smith, Olan Prenatt, Gio Galicia, Ryder McLaughlin Gênero: Drama, comédia. País: EUA Direção de Fotografia: Christopher Blauvelt. Edição: Nick Houy. Casting: Allison Jones Design de Produção: Jahmin Assa Direção de Arte: Justin Allen Duração: 1h25. Classificação: 12 anos. Distribuição: Diamond Films.

30 de Maio nos cinemas

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Os Papéis De Aspern


Em "Os Papéis de Aspern", longa de Julien Landais, um jovem escritor tenta conseguir as cartas de amor que um poeta enviava a sua amante. A trama é baseada na obra clássica escrita por Henry James na Veneza de 1887 e publicada em 1888.

Landais, cineasta e ator francês, é  um apaixonado pelo romantismo e neste, que é seu longa-metragem dê estreia, nos apresenta uma obra com vasta pesquisa de época e locais a fim de aproximar a dramatização o mais possível da realidade e entregar personagens fortes e impactantes.

Colaboraram no roteiro também Jean Pavans, que já havia escrito uma adaptação para teatro e a roteirista britânica Hannah Bhuiya. Também puderam contar com conselhos preciosos de James Ivory. 

Com belíssimas cenas gravadas no Palazzo Donna delle Rose, uma locação impressionante e fora do roteiro turístico de Veneza, e também nos jardins do Palazzo Sorranzo Capello, temos imagens fiéis àquelas que realmente inspiraram Henry James.


O filme ganha um tom de drama psicológico com estruturação em uma das mais aclamadas obras da literatura inglesa e algo que impressiona é a forma como o texto consegue  ser contemporâneo e adaptável a época em que se apresenta. Além disso, a narrativa se constrói com diálogos bem elaborados e que jamais revelam a real intenção dos protagonistas e antagonistas. Isto se deve ao bom manejo e criação de uma atmosfera de suspense na qual um romance sinistro, sombrio e misterioso envolve quem assiste. Maestria que claramente é transportada do livro para as telas. 

Ambientado no final do séc. XIX, a película revela como  o ambicioso editor norte- americano Morton Vint (Jonathan Rhys-Meyers, indicado ao Globo de Ouro por seu papel como Henrique VIII em The Tudors) carrega uma louca obsessão por Veneza e também pelas cartas que o poeta romântico Jeffrei Aspern (Jon Kortajarena), morto de maneira misteriosa, escreveu para sua amante e musa Juliana Bordereau (Vanessa Redgrave).

Assumindo uma falsa identidade e disfarçando as reais intenções, Vint seduz a sobrinha solteira de Bordereau, Miss Tina (Joely Richardson). Timida e reprimida, a mulher vive em funçao de cuidar da tia idosa em sua imponente, porém decadente mansão, mas ao cair nos encantos pelo jovem sedutor é convencida a ajudá-lo a conseguir as tais cartas e conhecer seu misterioso conteúdo. 

Dominadora e sem freio, Bordereau destrói a auto estima e confiança de Tina aos poucos. Logo, o espectador se vê atento ao jogo de sedução entre Morton Vint, a senhora Juliana Bordereau, ex amante de Jeffrey Aspern, e a sobrinha solteirona e reclusa, Srta. Tina.

Trailer

Ficha Técnica

Título Original e ano: The Aspern Papers, 2018. Direção: Julien Landais. Roteiro: Julien Landais, Jean Pavans, Hannah Bhuiya - Baseado no romance de Henry James. Elenco: Jonathan Rhys Meyers, Vanessa Redgrave, Joely Richardson. Gênero: Drama. País: Alemanha e Inglaterra. Trilha Sonora: Vincent Carlo. Fotografia: Phillipe Gilbert. Edição: Hansjörg Weißbrich. Figurino: Birgit Butter. Distribuição:A2 Filmes. Duração: 90min.
A boa surpresa é que os papéis se invertem e o sedutor torna-se vítima de seu próprio jogo ao encarar as condições impostas pela não tão boba Miss Tina. 

Descrito como fã do séc. XIX, Vint é jovem, bonito, e sonha viver uma vida de aventuras e mistérios como a de seu ídolo Aspern, porém, a história de amor e sedução entre ele e Tina acaba tomando grande parte de seus planos. Olhamos para a vida de Tina com pena pelas "oportunidades perdidas" e o tempo desperdiçado, afinal, os melhores anos de sua vida foram vividos ao lado da tia e fazendo o que está queria. Contudo, os atos finais surpreendem.

O figurino aqui é assinado pela austríaca Birgit Hutter e traz uma mistura de estilo europeu de 1820 e 1880 com toques da moda contemporânea. A trilha sonora traz obras clássicas de Franz Liszt, Wagner e uma trilha sonora original do compositor francês Vicent Carlo com riffs de guitarra simbolizando a angústia de pessoas imaturas.

Vale destacar que a obra de Henry James é baseada nas cartas que o poeta Percy Bysshe Shelley escreveu para Claire Chairmont, filha da madrasta de Mary Shelley e que as protegeu até a morte. Claire era amante de Shelley e de Lord Byron com quem teve uma filha morta aos 6 anos. E as insinuações bissexuais reprimidas de Henry James são de vital importância para a compreensão do livro e do filme.

Hoje nos cinemas.