Ao ser questionada sobre os motivos
que a levaram a vazar documentos oficiais britânicos durante seu período na
Associação Britânica de Pesquisa de Metais Não-Ferrosos e trabalhar para a KGB
durante anos, Melita Norwood respondeu: “eu fiz o que fiz não para ganhar
dinheiro, mas para ajudar a evitar a queda de um novo sistema que, com muito
custo, proporcionava às pessoas comuns comida e tarifas que podiam pagar, uma
educação e serviço de saúde”. Quando mais papéis acerca de seu envolvimento
com aquela organização foram lançados, por um arquivista da KGB, revelou-se que para os soviéticos, ela era muito mais valiosa do que os Cambridge Five -
grupo de membros do serviço secreto do Reino Unido que trabalhavam para a União
Soviética. Do premiado diretor de teatro Trevor Nunn e com roteiro de Lindsay
Shapero, “A Espiã Vermelha” é baseado na história de Melita Norwood que, no
filme, é Joan Stanley.
Trailer
Se Melita se mostrava plenamente
convicta do que fez e dona de suas próprias decisões, Joan parece alguém que
simplesmente estava no lugar errado e na hora errada. Toda a convicção de
Melita no Estado socialista é, em “A Espiã Vermelha”, transformada em uma
história de amor: ela não acreditava nos soviéticos, mas se apaixonou por um
jovem alemão comunista na universidade que a levava em reuniões da juventude
socialista britânica onde o grupo debatia as últimas notícias da URSS e assistiam a filmes, e que a convenceu a vazar documentos britânicos
sobre o desenvolvimento e produção da bomba atômica.
A narrativa do filme vai e vem,
mostrando a trajetória de Joan quando jovem (Sophie Cookson) e mais velha (Judi
Dench) quando é interrogada pelas autoridades inglesas. Essa narrativa poderia
proporcionar ao público um maior entendimento da história de Joan e de seus
motivos para se alinhar com a KGB mas, ao invés disso, prefere inserir
personagens masculinos que tentam, cada um a sua maneira, controlar a vida de
Joan. No passado há o jovem Leo Galich (Tom Hughes) por quem ela se apaixona e
que a apresenta ao círculos dos jovens comunistas da Universidade; é ele quem a
incentiva a vazar as informações as quais ela tem acesso por conta de seu
trabalho. No presente há seu filho Nick (Ben Miles), um advogado burocrata que
de início tenta entender o posicionamento de sua mãe, mas logo se volta contra
ela.
A direção parece tentar dar
profundidade aos personagens e se mostra bastante atenta aos detalhes ao redor
de Joan, principalmente nas cenas em que ela está nos laboratórios da
Universidade, onde estudou Ciências Físicas. O trabalho da produção de design,
feita por Cristina Casali, é incrivelmente detalhado e atencioso à época na
qual o filme se passa, porém o roteiro do filme parece não só não valorizar a
atuação de Sophie Cookson e, principalmente, a de Judi Dench, como também não se
mostra entender a grandiosidade por trás da história de Melita Norwood.
Não recomendado para menos de 14 anos.
Não recomendado para menos de 14 anos.
FICHA TÉCNICA
Título original e ano: Red Joan,2018. Direção: Trevor Nunn. Roteiro: Elenco: Judi Dench, Sophie Cookson, Tom
Hughes. Gênero: Drama, espionagem, suspense. País: Reino Unido. Trilha Sonora Original: George Fenton. Fotografia: Zac Nicholson. Edição: Kristina Hetherington. Direção de Arte: Sion Clarke. Design de Produção: Cristina Casali. Figurino: Charlotte Walter. Distribuição: Califórnia Filmes. Duração: 101
min
16 de maio nos cinemas.
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