Os Papéis De Aspern


Em "Os Papéis de Aspern", longa de Julien Landais, um jovem escritor tenta conseguir as cartas de amor que um poeta enviava a sua amante. A trama é baseada na obra clássica escrita por Henry James na Veneza de 1887 e publicada em 1888.

Landais, cineasta e ator francês, é  um apaixonado pelo romantismo e neste, que é seu longa-metragem dê estreia, nos apresenta uma obra com vasta pesquisa de época e locais a fim de aproximar a dramatização o mais possível da realidade e entregar personagens fortes e impactantes.

Colaboraram no roteiro também Jean Pavans, que já havia escrito uma adaptação para teatro e a roteirista britânica Hannah Bhuiya. Também puderam contar com conselhos preciosos de James Ivory. 

Com belíssimas cenas gravadas no Palazzo Donna delle Rose, uma locação impressionante e fora do roteiro turístico de Veneza, e também nos jardins do Palazzo Sorranzo Capello, temos imagens fiéis àquelas que realmente inspiraram Henry James.


O filme ganha um tom de drama psicológico com estruturação em uma das mais aclamadas obras da literatura inglesa e algo que impressiona é a forma como o texto consegue  ser contemporâneo e adaptável a época em que se apresenta. Além disso, a narrativa se constrói com diálogos bem elaborados e que jamais revelam a real intenção dos protagonistas e antagonistas. Isto se deve ao bom manejo e criação de uma atmosfera de suspense na qual um romance sinistro, sombrio e misterioso envolve quem assiste. Maestria que claramente é transportada do livro para as telas. 

Ambientado no final do séc. XIX, a película revela como  o ambicioso editor norte- americano Morton Vint (Jonathan Rhys-Meyers, indicado ao Globo de Ouro por seu papel como Henrique VIII em The Tudors) carrega uma louca obsessão por Veneza e também pelas cartas que o poeta romântico Jeffrei Aspern (Jon Kortajarena), morto de maneira misteriosa, escreveu para sua amante e musa Juliana Bordereau (Vanessa Redgrave).

Assumindo uma falsa identidade e disfarçando as reais intenções, Vint seduz a sobrinha solteira de Bordereau, Miss Tina (Joely Richardson). Timida e reprimida, a mulher vive em funçao de cuidar da tia idosa em sua imponente, porém decadente mansão, mas ao cair nos encantos pelo jovem sedutor é convencida a ajudá-lo a conseguir as tais cartas e conhecer seu misterioso conteúdo. 

Dominadora e sem freio, Bordereau destrói a auto estima e confiança de Tina aos poucos. Logo, o espectador se vê atento ao jogo de sedução entre Morton Vint, a senhora Juliana Bordereau, ex amante de Jeffrey Aspern, e a sobrinha solteirona e reclusa, Srta. Tina.

Trailer

Ficha Técnica

Título Original e ano: The Aspern Papers, 2018. Direção: Julien Landais. Roteiro: Julien Landais, Jean Pavans, Hannah Bhuiya - Baseado no romance de Henry James. Elenco: Jonathan Rhys Meyers, Vanessa Redgrave, Joely Richardson. Gênero: Drama. País: Alemanha e Inglaterra. Trilha Sonora: Vincent Carlo. Fotografia: Phillipe Gilbert. Edição: Hansjörg Weißbrich. Figurino: Birgit Butter. Distribuição:A2 Filmes. Duração: 90min.
A boa surpresa é que os papéis se invertem e o sedutor torna-se vítima de seu próprio jogo ao encarar as condições impostas pela não tão boba Miss Tina. 

Descrito como fã do séc. XIX, Vint é jovem, bonito, e sonha viver uma vida de aventuras e mistérios como a de seu ídolo Aspern, porém, a história de amor e sedução entre ele e Tina acaba tomando grande parte de seus planos. Olhamos para a vida de Tina com pena pelas "oportunidades perdidas" e o tempo desperdiçado, afinal, os melhores anos de sua vida foram vividos ao lado da tia e fazendo o que está queria. Contudo, os atos finais surpreendem.

O figurino aqui é assinado pela austríaca Birgit Hutter e traz uma mistura de estilo europeu de 1820 e 1880 com toques da moda contemporânea. A trilha sonora traz obras clássicas de Franz Liszt, Wagner e uma trilha sonora original do compositor francês Vicent Carlo com riffs de guitarra simbolizando a angústia de pessoas imaturas.

Vale destacar que a obra de Henry James é baseada nas cartas que o poeta Percy Bysshe Shelley escreveu para Claire Chairmont, filha da madrasta de Mary Shelley e que as protegeu até a morte. Claire era amante de Shelley e de Lord Byron com quem teve uma filha morta aos 6 anos. E as insinuações bissexuais reprimidas de Henry James são de vital importância para a compreensão do livro e do filme.

Hoje nos cinemas.

Escrito por Helen Ribeiro

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