quinta-feira, 27 de junho de 2019

Annabelle 3: De Volta Para Casa


Em 2013, Invocação do Mal chegou aos cinemas e fez um grande marco no gênero de terror. Quebrou recorde de vendas em seu primeiro final de semana, lucrou quinze vezes o valor de sua produção e praticamente originou tanto um subgênero de filmes modernos que botam medo quanto um universo expandido baseado não só nas histórias dos investigadores paranormais Ed e Lorraine Warrens, personagens interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga, mas também outros contos sobrenaturais como A Chorona, lançado este ano.

E uma das peculiaridades daquela série é como se extraiu dela novas tramas. Estranho ou não, há uma riqueza enorme ali, de fato. A exemplo disso, lembrem que a primeira cena do primeiro filme de Invocação do Mal, onde duas jovens conversam com os Warren sobre a boneca de porcelana que está as aterrorizando, acabou se transformando no que agora é a trilogia Annabelle. Esta que junto com A Freira fez com que a criação de James Wan se tornasse a franquia atual mais bem sucedida de terror da história do cinema e que já é considerada a 32ͣ  maior franquia de todos os tempos.

A série Annabelle começou como uma produção um tanto controversa. Alcançou popularidade, mas o foco dado as cenas em que aquela boneca horrenda fica parada olhando o expectador beira o exagero ainda que seja assustador. Tais desvios foram resolvidos com mais calma no segundo longa, isto devido ao fato de dar mais tempo em tela a figura possuída de Janice (personagem de Talitha Eliana Bateman), e ainda assim a dependência das aparições do demônio para desenvolver a trama  se tornam mais ridículas do que assustadoras.

Trailer


Ficha Técnica

Titulo original e ano: Annabelle: Come Home, 2019Direção: Gary Dauberman. Roteiro:Gary Dauberman e James Wan.Elenco: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Mckenna Grace, Michael Cimino, Madison Iseman, Katie Sarife e Samara LeeGênero: Terror. Design de produção: Jennifer Spence. Efeitos Especiais: Grady Cofer. Trilha Sonora Original: Joseph Bishara. Fotografia: Michael Burgess. Figurino: Leah Butler. Decoração do set: Lisa Son. Distribuidor: WARNER BROS. Nacionalidade: Estados Unidos. Duração: 01h46min.

Mas agora temos Annabelle 3: De Volta Para Casa e há uma certa mudança na 'filosofia' e no caminhar da franquia. Todos os filmes, aliás, desde Invocação do Mal, sempre foram muito dependentes dos famosos 'jumpscares', contudo, desta vez estes ficaram de segundo plano o que ajudou a criar uma atmosfera mais assustadora com um enredo cheio de suspense e mais divertido. Assim, enquanto os demais têm uma fórmula batida, o roteirista e diretor Gary Dauberman (responsável pelos spinoffs de Invocação do Mal) e também Wan,  conseguem distinguir este dos demais trazendo uma acontecimentos inusitados e um tom mais consistente.

Portanto, este terceiro filme parece se aproximar mais dos filmes de terror onde adolescentes ficam isolados em um local assombrado. O que lembra um ou outro longa já que aqui a boneca  não é o foco central, mas também os vários outros demônios presos no quarto amaldiçoado dos Warrens - o que torna Annabelle apenas o catalisador deste e grande parte dos vilões ou dos sustos causados vem de diversos outros seres que aparecem pela primeira vez aqui.



E esta talvez é a melhor decisão do roteiro. Afinal, Annabelle 3 não têm a progressão que os outros filme apresentam porque simplesmente um leque de opções a se revelar estão na caixinha guardados. Há uma intercalação agradável entre cenas que dão medo e aquelas de teor cômico. Escolha eficaz que relaxa o espectador e o deixa despreparado para a tensão que vem em seguida. Usar do quarto recheado de artefatos amaldiçoados é uma ferramenta que agrega demais, até porque revela-se a origem e presença de vários deles, e tudo sem tempo para calmaria irmão.

Por fim, vale ressaltar que Annabelle 3: De Volta Para Casa acaba sendo, em todos os sentidos, uma festa de terror. Cheio de monstros diferentes, constantemente agindo de forma nada previsível para aumentar a tensão, ainda assim temos as clássicas ridiculosidades do gênero - este aqui quebrou o recorde de quantas vezes os personagens fazem decisões questionáveis - e tudo é definido pela diversão. A Chorona (ler resenha aqui), também acabou não se levando a sério na sua sequência final e sente-se Annabelle 3 aumentar a pressão, já que não o faz desde o início, e assim se resultando no que talvez seja o melhor filme do universo expandido de Invocação do Mal.

HOJE NOS CINEMAS

Pets: A Vida Secreta dos Bichos 2


Pets - A Vida Secreta dos Bichos 2 chega aos cinemas trazendo uma dose extra de fofura para suas férias. Nesta continuação Chris Renaud dirige a animação em parceria com Jonathan del Val  e o roteiro é assinado apenas por Brian Lynch. Sim, animem seus coraçõeszinhos, teremos novamente Max (voz original de Patton Oswalt e dublado por Danton Mello), Duke (voz original de Eric Stonestreet e dublado por Tiago Abravanel), Chloe (voz original de Lake Bell e dublado por Monica Rossi), Gigi (voz original de Jenny Slate e dublado por Angélica Borges) e Bola de Neve (voz original do comediante Kevin Heart e dublado pelo excelente Luiz Miranda) aprontando todas.

Ao final da primeira aventura juntos (ler resenha aqui), Max e Duke se tornaram bons amigos e a vida transcorria na paz com os humanos de estimação. Todavia, os humanos agora tem novos planos e o cãozinho Max com seu jeito categórico e irredutível deixa claro: "Não gosto de crianças!". Sua vida era perfeita em um lar só para ele e Duke e a princípio nada muda, cada um fica no seu canto. Mas com a chegada do bebê do casal, pouco a pouco o pequeno vai derretendo o coração de Max e este último tem mais alguém para amar.

Aquele serzinho, Lian, se torna seu humano e ele quer cuidar e protegê-lo de tudo e de todos. O excesso de zelo traz junto uma coceira de fundo nervoso e Max é levado ao médico que o obriga a usar "o cone" da vergonha, espécie de abajur que atrapalha bastante seu dia a dia. Para ajudar no tratamento a família vai passar uns dias no campo e aproveitar para relaxar. Na fazenda, Max e Duke precisam conviver com vacas, raposas e um peru bastante estranho. E conhecem o cão de guarda Rooster que ajuda Max a superar sua ansiedade e enfrentar seus desafios.

Trailer

Ficha Técnica


Título original e ano: The Secret Life of Pets 2, 2019. Direção: Chris Renaud e Jonathan del Val. Roteiro: Brian Lynch . Dubladores Nacionais: Luis Miranda, Danton Mello, Tiago Abravanel, Monica Rossi, Guilherme Briggs, Júlio Chaves, Sylvia Salustti, Sérgio Stern, Gárcia Júnior, Leo Rabelo, Fernando Mendonça, Christiano Torreão, Angélica Borges e Dani Calabresa. Vozes Originais de: Patton Oswalt, Harrinson Ford, Tiffany Haddish, Eric Stonestreet, Kevin Hart, Bobby Moynihan, Dana Carvey, Jenny Slate, Lake Bell, Ellie Kemper, Pete Holmes, Nick Kroll, Meredith Salenger. Gênero: Animação, aventura, comédia. Trilha Sonora Original: Alexandre Desplat. Distribuidora: Universal Pictures do Brasil. Duração: 01h26min.

Enquanto está fora, Max deixa seu brinquedo favorito sob os cuidados de Gigi. Está formada a confusão quando o tal brinquedo vai parar em um apartamento cheio de gatos. E essa parte é hilária! A gatona Chloe tenta ajudar Gigi a se comportar como um gato para recuperar o brinquedo de Max.
Aquele velho ditado "Quando os gatos saem os ratos fazem a festa" vira realidade. Assim, os pets aproveitam que os humanos não estão por perto e botam para quebrar. O coelhinho Bola de Neve, não aparece mais como vilão, e acredita ser um super herói. Por fim, decide ajudar Daisy (voz original de Tiffany Haddish e dublagem de Dani Calabresa), a cachorrinha Shih Tzu, a encarar uma missão bem perigosa. Eles até salvam um filhote de tigre que é a coisinha mais fofa do mundo e novamente se meter em mais confusões.




Pets é colorido, alegre, divertido, com músicas que contagiam (escute aqui), seguindo o padrão Illumination de qualidade. E é claro que a dublagem brasileira dá um toque especial ao filme (quem assistir legendado conta pra gente o que achou da versão original). 

É o tipo de animação que agrada toda família e tem tudo para ser sucesso de bilheteria. O ato final até arranca uma lagriminha de emoção. E o longa se torna um excelente programa. Leve a garotada e todos os seus amigos!

HOJE NOS CINEMAS

Turma da Mônica - Laços


Os gibis da 'Turma da Mônica', criação do desenhista e cartunista Maurício de Souza, fizeram a infância de diversas gerações. Os primeiros passos dos mais famosos personagens de Mauricio, Cebolinha, Cascão, Magali e Mônica, foram dados lá no inicio do anos 60 e de lá pra cá o cartunista, junto da Maurício de Souza Produções, alegraram um mundaréu  de gente através de uma coleção de histórias encantadoras. Com os anos, o público assistiu o universo dos gibis passar por inúmeras transformações e também acompanhou o crescimento dessa turminha que veio a se expandir para HQs. Desta forma, em 2011, uma galera com muito talento foi chamada para revisitar todo o material e trazê-lo de um jeito ainda mais incrível. Foi neste momento que 'Laços' surgiu. Idealizada pela dupla Vitor e Lu Cafaggi, essa nova iniciativa nos embarca nas aventuras da turmitcha com nostalgia e carinho pelo passado, mas caminhando de mãos dadas com o presente e de olho no futuro. 

O enredo não insiste em ser exagerado e nos ganha pela sua simplicidade. E tudo começa com o sumiço de Floquinho, o cachorrinho de Cebolinha. Logo, o menino fica tristonho e são os amigos que insistem em anima-lo para juntos partirem em busca do paradeiro do bichinho.


Esses personagens tão cativantes que sempre vimos nas páginas dos gibis, ou ainda em desenhos animados, ganham agora rostos reais com o talento de Giulia Benite (Mônica), Kevin Vechiatto (Cebolinha), Laura Rauseo (Magali) e Gabriel Moreira (Cascão) dirigidos por Daniel Rezende (Bingo: O Rei das Manhãs) e a dica é não esperar menos do que uma declaração de amor à infância.

Também no elenco: Monica Iozzi como Dona Luísa, mãe da Mônica, Paulo Vilhena é o seu Cebola, Fafá Rennó interpreta a Dona Cebola e Ravel Cabral é o temido 'Homem do saco'.  Para deixar o bolo com aquela cereja brilhante e saborosa temos a participação especial do necessário Rodrigo Santoro.



Quando o filme se inicia, observamos atentos Cebolinha tentar mais uma vez sequestrar o coelho Sansão de sua dona com a ajuda de Cascão. Enquanto estes tentam fazer Magali e Mônica cair nas suas trapaças, as meninas se mostram espertas e os dois não saem bem da história, claro.

As cenas também nos deixam ambientados com a cidade pacata em que vivem e as famílias dos nossos protagonistas. Aliás, seu Cebola vem enfrentando queda de cabelo muito rápido para sua idade e inicia um tratamento da moda com o produto 'cabelol'. Porém, o que todos na região não sabem é que a empresa responsável pela produção da fórmula está trabalhando de forma desumana e usando ingredientes misteriosos - o que se descobre só depois do sumiço de Floquinho - e a união dessa turminha em uma aventura sem igual é que traz a resolução do caso. 

No caminho até as pistas para encontrar o cachorrinho, a amizade entre eles enfrenta obstáculos já que a rixa entre Mônica e Cebolinha vem a superfície, mas é ali também que eles conhecem mais de si e seus sentimentos de amor um pelo outro ficam transparentes. Ah, e todos os que ajudam nas pistas para acharem o caminho certo tem um papel certeiro. O pipoqueiro da pacata cidade, vivido pelo hilário Leandro Ramos, é um deles e em um momento lúdico, Cebolinha encontra com 'O Louco' e toda a memória dos gibis vem a tona a partir da ótima interpretação de Santoro.















Os atores mirins, aliás, dão um show em cena e nada é forçado, mas sim muito natural. As caracterizações ajudam bastante, mas o talento dos pequenos consegue trazer à tona detalhes específicos de cada um. As 'tlamóias' de cebolinha vem sim com sua famosa troca do L pelo R a todo tempo. Genioso o menino está sempre incentivando o amigo Cascão a não ficarem acomodados. Este último vem com uma doçura tão agradável que pode chegar a se tornar o seu predileto no filme. Magali vem demonstrando seu lado comilona e amiga e Mônica é tão danada de esperta que saca tudo muito rápido.

A trilha sonora é um personagem a parte no filme e ajuda a construir uma atmosfera caseira, doce e com gostinho de cidade de interior. Todo o design da produção se mostra competente. Fotografia não perde sua chance de colorir tudo o que pode e a direção de arte complementa lindamente cada frame que assistimos.

Rezende entra em um território aclamado por uma legião de fãs e destrói qualquer medo de que a adaptação não daria certo. Pois sim ela dá muito certo. Evoca em nós algo muito esquecido e nos transfere para um tempo em que o mundo parecia não ter lado, mas ser um só.


Trailer


Ficha Técnica
Título Original e Ano: Turma da Mônica - Laços, 2019. Direção: Daniel Rezende. Roteiro: Thiago Dottori - Baseado na Obra de Mauricio de Sousa. Inspirado na Graphic Novel "Laços” de Vitor Cafaggi e Lu CafaggiElenco: Giulia Benite (Mônica), Kevin Vechiatto (Cebolinha), Laura Rauseo (Magali), Gabriel Moreira (Cascão), Monica Iozzi (Dona Luísa), Paulo Vilhena (seu Cebola), Fafá Rennó (Dona Cebola) e Ravel Cabral (Homem do saco).  Participação Especial: Rodrigo Santoro (Louco) e Leandro Ramos (Pipoqueiro). Nacionalidade: Brasil. Gênero: Aventura.Direção de Fotografia: Azul Serra. Direção de Arte: Cassio Amarante e Mariana Falvo. Figurino: Fernanda Marques, Manuela Mello e Verônica Julian. Caracterização:  Gabi Britzki e Simone Batata. Montagem: Marcelo Junqueira e Sabrina Wilkins. Som direto: Jorge Rezende. Edição de Som: Miriam Biderman e Ricardo Reis. Mixagem: Toco Cerqueira e Reilly Steele. Música: Fábio Góes. Canção Original: Tiago Iorc. Produção de Elenco: Luciano Baldan, Produção Executiva: Bianca Villar. Produção: Bianca Villar, Fernando Fraiha, Karen Castanho, Daniel Rezende, Charles Miranda, Cassio Pardini, Cao Quintas e Marcio Fraccaroli. Produção: Biônica Filmes e Quintal Digital. Coprodução: Mauricio de Sousa Produções, Latina Estudio, Paris Entretenimento, Paramount Pictures e Globo Filmes. Distribuição: Paris Filmes e Downtown Filmes. Duração: 01h36min.

Avaliação: quatro amigos que se amam e meio pote de cabelol (4,5 /5)

Hoje nos Cinemas!

See Ya !

B-

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Dor e Glória, de Pedro Almodóvar


Seguindo uma referência cinematográfica de alta qualidade (, de Frederico Fellini), "Dolor Y Gloria", titulo original do novo filme de Almodóvar, faz um passeio pelas memórias de infância do diretor espanhol de maior sucesso no mundo e revela suas angústias e recaídas pessoais.

Escrito e dirigido por ele, o filme vem ainda para auto analisar uma carreira de sucesso que foi permeada por seus desencontros amorosos, a relação com a mãe e até com os atores de seus filmes. 

A produção contou com pré-estréia em Madrid, logo no inicio de maio, e no mesmo mês foi apresentada no Festival de Cannes onde concorreu a quatro prêmios: a Palme d'Or, Palm Queer, Melhor Trilha Sonora e também Melhor ator para Antonio Bandeiras, que vive Almodóvar no filme. Estes dois últimos, o longa venceu.

'Dor e Glória' chega hoje aos cinemas de todo o país.


Ficha Técnica
Título original e ano: Dolor Y Gloria, 2019. Direção e Roteiro: Pedro Almodóvar. Elenco: Antonio Bandeiras, Penélope Cruz, Leonardo Sbaraglia, Rosalía, Nora Navas, Julieta Serrano, Asier Etxeandia, Raúl Arévalo, Cecilia Roth, Cesar Vicente, Agustín Almodóvar,. Gênero: Drama. Nacionalidade: Espanha. Trilha Sonora: Alberto Iglesías. Fotografia: José Luis Alcaine. Edição: Teresa Font. Direção de arte: María Clara Notari. Figurino:  Paola Torres. Distribuição: Universal Picures Br. Duração: 01h52min. 
Na trama, Almodóvar ganha o nome fantasia de Salvador Mallo  (Bandeiras). Mallo é um melancólico cineasta e um belo dia é solicitado para apresentar um de seus primeiros trabalhos ao lado do ator principal do filme, Alberto Crespo, personagem de Asier Etxeandia. O pedido lhe é estranho, pois na época do lançamento da produção o diretor e o ator se estranharam públicamente devido ao primeiro não ter gostado nada da pouca entrega de Crespo ao papel. Ainda assim, Mallo se põe a rever a película e acaba querendo não só apresentar, mas retomar o contato com o ator. A partir do reencontro, o diretor revisita seu passado quando criança, sua forte conexão com a mãe, interpretada por Penélope Cruz na fase jovem e por Julieta Serrano na fase mais velha, seus primeiros desejos sexuais e até o reaparecimento de um amor argentino, há muito esquecido, Leonardo Sbaraglia vive o personagem, as mudanças de endereço e cidade, sua força para criar, escrever e dirigir e também o inicio do vicio em heroína e seu problema constante em engasgar ao comer ou beber algo. 


O roteiro escolhe nos entregar uma trajetória sem exatamente seguir em linha reta. Assim, ao mesmo tempo que vemos Mallo passar por dificuldades na fase adulta também o assistimos voltar aos tempos de criança. Um uso reflexivo ainda que ele não esteja sobre o efeito de nada. Mas que de fato complementa as cenas onde este olha para a câmera pensativo ou até está na piscina nadando. Sua vontade em conversar novamente com Crespo o instiga a conhecer um novo mundo, mas também o faz mandar desculpas ao seu eu do passado, mesmo que o do futuro tenha muito a aprender e não tenha mudado tanto assim de opinião. 

De poucos amigos e amigas, ele quase sempre é visto em casa, escrevendo ou lendo. E tem ali apenas a empregada como companhia. A perda da mãe é feita com muita delicadeza ao mesmo tempo que ainda criança se assiste os encorajamentos da mulher ao filho inteligente. Há um jogo dramático altamente bem dosado a diálogos incríveis ou ainda a narração que Banderas executa. Vemos os pedidos de ida do cineasta famoso para lugares que nem ele sonha que seus filmes chegaram. E qualquer motivo para comédia se faz bem vindo.

Há muita sutileza em revelar as camadas desta vida tão artisticamente geniosa, até mesmo para falar da sexualidade do cineasta e também do vício em drogas que ele adquire mais velho ao se deparar com seus dilemas e traumas não superados. 


A técnica do filme é exemplar e não estaríamos falando de Almodóvar se não o fosse. Figurino, caracterização, direção de arte, fotografia, trilha sonora (ouvir aqui), edição, tudo é milimetricamente pensado para embasar cada escolha do roteiro. 

Bandeiras, que trabalha com Almodóvar pela oitava vez,  não só ganha roupas a cara do cineasta como também passa a usar os famosos óculos escuros e também aparece mais grisalho e com o cabelo bagunçado. Rola um beijo classudo entre este e o ator argentino Leonardo Sbaraglia que esquenta muito o clima do filme, mas não passa de um belo reencontro. Um retorno saudoso ao passado. Nas cenas com Etxeandia, há um crescimento óbvio dos dois. E palavras e ações contornam uma ligação que vence vinte anos de barreira. Penélope, em sua sexta colaboração com o diretor, encarna um papel lindo e que só ela teria espaço para o fazer. Mais a frente este mesmo personagem vem com a força de Julieta, que aliás já foi mãe de Banderas em outras películas, e um ciclo se fecha.  

Aos fãs do diretor, é um presente lindo. A quem sempre o achou polêmico demais aqui vai encontrar a dose certa para vir a admirá-lo.

Avaliação: Quatro pulos em si mesmo (4/5).


Hoje nos cinemas.

See Ya!

B-

Obsessão


Chloe Grace Moretz, que aqui vive a protagonista Frances, é um talento um tanto mal explorado em sua curta carreira cheia de bombas. Isabelle Huppert, aclamada por papéis como o que desempenha em Elle (2016), interpreta a vilã Greta a base de carões. Duas grandes atrizes subaproveitadas - é a melhor maneira de descrever Obsessão.

Greta é uma viúva solitária que busca desesperadamente a companhia de jovens moças para preencher o vazio deixado pela ausência de sua filha. Frances, por outro lado, é uma órfã de mãe bastante inocente e recém chegada à Manhattan. “Essa cidade vai te comer viva”, alerta a amiga Erika (Maika Monroe), com quem ela divide um apartamento.

Esse relacionamento tão freudiano entre a senhora e a moça é explorado de forma muito rápida em cenas em que elas caminham pela cidade, cozinham juntas e compartilham as dores de seus passados. A amizade improvável delas, claramente, merecia tempo de tela, assim como um desenvolvimento mais sutil.

No entanto, Frances logo descobre que o encontro das duas não foi um acaso como ela costumava acreditar, mas algo bem premeditado. A jovem corta relações com Greta e tem início o longuíssimo segundo ato do filme. Nele, vemos a vilã tomada por uma obsessão pela jovem, perseguindo-a na rua, com mensagens de texto e em seu trabalho.


A construção de suspense nessa parte da história é até bastante boa. O problema é que ela se arrasta demais nessa ameaça e o que podia ser realmente interessante na trama - a relação prévia das duas ou o terror que dá lugar quando Greta finalmente revela suas reais intenções - fica sem desenvolvimento.

Aliás, o gênero que o terceiro ato traz não apresenta nada de novo e deixa a personagem de Isabelle Huppert ainda mais boba. Seus motivos ocultos e suas práticas macabras seriam muito mais potentes se o filme não criasse um precedente tão recente e uma atitude cíclica. A vilã poderia ser uma personagem profunda cuja obsessão é desenvolvida em tela e entendida pelo espectador. No lugar disso, temos uma criminosa rasa que tem até o clássico momento de explicar o plano maligno para a mocinha.

No aspecto técnico, a direção de arte é eficiente e desenvolve mais as personagens que o próprio roteiro. A trilha sonora (escute aqui) tem temas interessantes, mas é utilizada de maneira abrupta e forçada. Obsessão não é um fracasso completo. Dá até pra engolir algumas coisas, deixar passar outras e se divertir e se deixar levar pelo suspense. A questão é que as atrizes, a temática e a direção na mão do veterano Neil Jordan prometiam mais.


Trailer


Ficha Técnica

Título original: Greta (2018) Gênero: Suspense.Direção: Neil Jordan. Roteiro: Ray Wright e Neil Jordan.Elenco: Chloë Grace Moretz, Isabelle Huppert, Maika Monroe e Stephen Rea. Fotografia: Seamus McGarvey. Edição: Nick Emerson. Trilha sonora: Javier Navarrete. País: EUA – Irlanda. Distribuição: Galeria Distribuidora. Duração: 97 minutos.
13 de Junho nos cinemas.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

MIB: Homens de Preto – Internacional


Da última vez que vimos os 'Homens De Preto' (2012), grupo policial responsável pela monitoração e controle da interação entre aliens e humanos no Tio Sam, sua mais famosa dupla de agentes, J (Will Smith) e K (Tommy Lee Jones) foi separada pela morte repentina deste último. Acontecimento que mudou grande parte do presente e do futuro e fez com que o agente J retornasse ao passado para evitar tal desastre.

Agora, anos mais tarde, o mundo corre perigo novamente e os agentes londrinos High T (Liam Neeson) e H (Chris Hemsworth),  vão a Paris para impedir que ets mal intencionados tomem a terra para si. Durante a abertura do portal, um deles acaba indo parar em uma casa de família na big apple, e, claro, os agentes em ternos negros aparecem para apagar da mente dos moradores o que viram. Mas a pequena Molly (Mandeyia Flory) acaba não esquecendo o estranho monstrinho que vira em seu quarto e cresce com o desejo em fazer parte daquela organização e ter mais contato com os habitantes de outras galáxias. Já adulta (Tessa Thompson), a jovem consegue uma pista e segue seus instintos. Contudo é pega pela chefe da M.I.B, a agente O (Emma Thompson) e levada a um interrogatório antes de ser recrutada para o grupo, pois realmente mostra que pode agregar muito como agente trainee.

- 'Você realmente acredita que um terno preto vai resolver todos os seus problemas?' - Agente O, (Emma Thompson).
- Não...mais você está maravilhosa em um.' - Molly, (Tessa Thompson)

Assim que realiza seu desejo, se torna a agente em experiência 'M' e é designada por O a ir a Londres para averiguar o que anda de errado naquela sede. Chegando lá, conhece High T e também o queridinho da M.I.B., H. Juntos os dois homens supostamente salvaram o planeta de uma força alienígena anos atrás e agora colhem os frutos dessa batalha. High T virou diretor da sessão em Londres e H só faz o que quer e escolhe os trabalhos que quer. Atitude que provoca muitas suspeitas de C (Rafe Spall) e este começa a ficar atento aos passos e erros do galã fanfarrão. Um missão surge e M se interessa em participar, mas precisa ganhar a confiança de H para poder trabalhar com ele nela. Assim que consegue, os dois devem seguir para um local fechado e proteger um alien camarada chamado Vungus, mas a situação sai do controle e os dois acabam tendo que responder pela morte de Vungus. Molly chega então a conclusão que alguém sabia onde encontrá-los e pressupõe que há um espião entre eles e que ela não deve confiar a ninguém o que o alien a deu em segredo para proteger. E a aventura segue para desvendar tanto esse mistério como também o porquê de dois aliens estarem perseguindo Vungus e agora também M e H.

Trailer

A produção começa até bem. Nos introduz ao que serão os mistérios a serem resolvidos e nos apresenta uma heroína interessante. Contudo, o desenvolvimento dos atos vão decaindo e uma maré de azar leva o filme para um caminho sem volta, o da mediocridade.

Temos o retorno da personagem de Emma Thompson 'O' que já faz parte das histórias originais, mas ainda assim, aquele tom sagaz que M.I.B apresenta em seus filmes anteriores não aparece aqui. Temos sim várias cenas até divertidas, mas nada parecido com o que Will Smith e Tommy Lee Jones entregavam. Até mesmo os 'aliens' perdem força aqui não tem nada de assustadores ou nojentos - algo que era muito explorado nos filmes lançado entre 1997 e 2012.

E o ponto positivo aqui é somente o questionamento do porquê nunca houve uma 'Mulher de Preto' e Tessa vem com tanta vontade que suas cenas fazem muito sentido. Aliás, o dialogo entre M e O é de  um bom gosto que as gargalhadas vão sair sem forçar.


 Ficha Técnica

Título original: Men in Black: International, 2019. Direção: F. Gary Grey. Roteiro: Matt Holloway, Art Marcum - baseado nos personagens criados por Lowell Cunnigham. Elenco: Tessa Thompson, Emma Thompson, Liam Neeson, Chris Hemsworth, Rafe Spall, Kumail Nanjiani, Rebecca Ferguson, Kayvn Novak, Lauren Bourgeois, Larry Bourgeois, Mandeyia Flory. Gênero: Ação, Aventura, comédia. Nacionalidade: Reino Unido e EUA. Trilha Sonora Original: Chris Bacon e Danny Elfman. Fotografia: Stuart Dryburgh. Design de Produção: Charles Wood. Edição: Zene Baker, Christian Wagner e Matt Rubin. Distribuição: Sony Pictures. Duração: 01h54min.

O filme faz pequenas referências a trilogia. Em uma das cenas já na sede em Londres, o público poderá ver um quadro que aponta os agentes K e J em um momento de luta no passado e em seguida a câmara enquadra High T e H vencendo 'a colméia' e fazendo um história. Os takes em Tessa, geralmente os que focam especificamente seu rosto lembram muito os que eram feitos com o personagem de Smith ou ainda dos momentos em que este e Jones saiam atirando com suas armas galácticas. Além disso, Hemsworth é posto para lutar com um martelo em certo momento o que nos remete ao personagem que o deu enorme sucesso, Thor.


But, apesar da comédia, da ação e do gostinho de aventura, há um desequilíbrio enorme na sustentação da narrativa. Aqui, como a trama é transportada para a Europa sentimos uma tentativa óbvia de emplacar classe e elegância ao estilo dos filmes de James Bond  - o que confronta todo o gostinho 'moleque' que a trilogia nos deu anos atrás e era basicamente sua essência. Se lá ficávamos comovidos com um personagem rabugento e profissional e outro super anti ético, mas atento ao trabalho, nesta iniciativa só conseguimos admirar a entrada de mulheres fortes na organização e nada mais.

Nem a trilha sonora, que sempre foi algo muito bem realizado, tem algum primor aqui. E sim sentimos falta de Smith e um rap maneiro sobre a organização.


Se o texto apresentado é previsível e com tanta reviravolta desnecessária, imagina a direção que não consegue sair da homenagem.

Uma lástima.

Avaliação: Dois ternos mal cortados (2/5)

13 de junho nos cinemas

See ya!


B-

sábado, 8 de junho de 2019

Season Premiere - 2° Temporada de "Big Little Lies"


A 1º temporada de Big Little Lies entregou um final satisfatório, com sensação de encerramento. Logo, quando caiu na rede que o seriado do canal HBO, inspirado no livro Pequenas Grandes Mentiras, escrito por Liane Moriarty, iria continuar, alguns fãs ficaram preocupados. Afinal, não há um segundo livro como base para a trama. Assim, questões como "será que una 2º temporada não seria enrolação? A Produção deveria mesmo mexer em algo que já estava perfeito?

Bem, o primeiro episódio dessa nova temporada vem para provar que tem sim o que explorar neste segundo ano! E de cara ele já cria muita expectativa pelos próximos episódios. Obviamente com a ajuda de personagens incríveis e um elenco de peso dando vida à eles (Reese Witherspoon, Nicole Kidman, Shailene Woodley, Zöe Kravitz e Laura Dern). Com a adição agora de Meryl Streep ao grupo deixando claro que Big Little Lies voltou com tudo.


Os eventos traumatizantes da 1º temporada estão longe de serem superados. Vida que segue, mas diferentemente para cada uma das “Monterey Five” (as cinco de Monterey). É assim que estão sendo chamadas as personagens que estavam no “acidente” que matou o marido de Celeste (Kidman), Perry (Alexander Skarsgård).  

Enquanto Madeline (Witherspoon) parece estar lidando melhor que as outras e tem novas preocupações, Celeste precisa processar que perdeu um marido abusivo e se sente ao mesmo tempo aliviada e em luto. Renata (Dern) tem uma forma peculiar de superar o incidente e Jane (Woodley) está dando o seu melhor em um novo emprego. Já o maior peso está nas costas de Bonnie (Kravitz), quem empurrou da escada e ocasionou a morte de falecido. Nessa caminhada, o seriado vem para mostrar que cada uma delas lida com o trauma de formas bem distintas.


Mas talvez a presença mais esperada seja a de Meryl Streep, cuja personagem vem para causar ainda mais na pequena cidade californiana. Mary Louise Wright sente que algo não está certo sobre a morte do filho, Perry, e vai investigar a fundo até saber quem é o responsável. Com atuação impecável de Streep (como sempre), ela é aquela pessoa que ofende profundamente as pessoas com um sorriso simpático e uma voz agradável. E não têm como não achar graça da personalidade peculiar de Mary Louise. Combina perfeitamente com o tom da segunda temporada, que aparenta ter acrescentado umas pitadas a mais de comédia contrastando ao tom dramático usual.

A season premiere de Big Little Lies é ao mesmo tempo trágica e hilária. Talvez seja até menos pesada que a anterior, mas dá a entender que ainda vão esmagar nossos corações como fizeram no passado. Portanto, não podemos subestimar o poder de Liane Moriarty, já que a autora do livro continua envolvida no seriado.

E nosso único pedido ao universo é que mais atrizes como Nicole Kidman e Reese Witherspoon produzam seriados sobre mulheres incríveis, como fizeram aqui. Chicas to the front Para dominação do mundo já!
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Big Little Lies, 2017-2019. 2° Temporada. Episódio n°1 "What Have They Done?". Criador: David E. Kelly. Roteiro: David E. Kelly com revisão de Matthew Tinker, BASEADO no livro homônimo de Liane Moriarty. Diretora do episódio: Andrea Arnold. Elenco: Nicole Kidman, Meryl Streep, Reese Witherspoon, Shailene Woodley, Zöe Kravitz, Laura Dern, Adam Scott, Lain Armitage, Kelen Coleman. Gênero: Drama, Suspense. Nacionalidade: EUA. Williams. Edição: Sam Williams. Desing de Produção: John Paino. Exibição: HBO. Duração: 44min. Classificação: 16 anos.