Embora suas músicas jamais tenham deixado a boca e o imaginário do povo, a figura de Simonal e sua história se tornaram um tanto esquecidas. Logo, esta cinebiografia tem justamente o papel de resgatar e revisitar este importante pedaço da música popular brasileira.
O roteiro faz um recorte de ascensão e queda, sem mostrar como a música entrou na vida do protagonista e resumindo seus anos finais em uma cartela de texto pré-créditos. Mas isso não é demérito. O filme abre com uma sequência inicial instigante que culmina em uma cena de humilhação pública tal qual mostra o declínio do artista. É a partir daí, já sabendo a que final Simonal está condenado, o espectador é conduzido ao início de sua carreira. Pra quem desconhece a jornada do cantor, esse recurso é especialmente interessante e capta a atenção.
Ambientado nas décadas de 1960 e 1970, o longa-metragem tem uma caracterização de época inegavelmente competente, colocando-o lado a lado com outras super produções nacionais do gênero, como Elis (2016) e Tim Maia (2014).
Fabrício Boliveira (Tungstênio, Faroeste Caboclo) dá vida ao personagem-título e consegue superar a clara diferença física fazendo jus ao inquestionável carisma de Wilson. Carisma esse que, aliado ao seu gingado, o fez conquistar marcos históricos de vendas e audiência, apesar de ser negro em uma época em que o racismo era bastante mais escancarado. É que seu talento falava mais alto que o preconceito da sociedade. O que não impediu que a classe artística lhe virasse as costas, lhe restando poucos amigos, como Elis Regina e Laura Figueiredo.
Afora o esforço de reescrever e lapidar as ações questionáveis de Simonal, o filme não tenta transformá-lo em um exemplo de moralidade, dando razoável destaque para suas ações egoístas e machistas com a própria esposa, Tereza, que é vivida por Isis Valverde. Assim, a intenção aqui não é exaltar a pessoa do artista, mas sim trazer à tona sua trajetória.
E a dublagem bem feita e ritmo agradável com que o filme passeia entre os anos e os sucessos da carreira de Wilson têm potência para reavivar esse nome no meio nacional, não fossem os problemas de distribuição que já sabemos que nosso cinema enfrenta. Pois é fato que o espectador sairá da sessão cantarolando mentalmente vários dos hits do homem que transitava com êxito entre a bossa nova, a jovem guarda e o rock.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Simonal, 2018. Direção: Leonardo Domingues. Roteiro: Victor Atherino. Elenco: Fabrício Boliveira, Isis Valverde, Leandro Hassum, Caco Ciocler, Bruce Gomlevsky, Letícia Isnard, Mariana Lima, Fabrício Santiago. Gênero: Biografia, Drama, Musical. Nacionalidade: Brasil. Fotografia: Pablo Baião. Figurino: Kika Lopes. Edição: Vicente Kubrisly. Direção de Arte: Yurika Yamasaki. Distribuição: Downtown Filmes e Paris Filmes. Duração: 01h45min.
08 de agosto nos cinemas
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