Ziraldo, um dos nossos maiores cartunistas, completará 87 anos de idade no mês de outubro. No mesmo período, também chega aos cinemas o documentário “A Turma do Pererê.doc” que, sob direção de Ricardo Favilla, mostra os bastidores da revista em quadrinhos considerada um clássico brasileiro.
Nas memórias mais antigas do cartunista mineiro moram as lembranças da vida próxima à mata fechada e do convívio com os animais que ali habitavam. Moram também os sons da floresta e rios que por ali passavam. É bastante provável que essas recordações o tenham impulsionado na criação do cenário de Pererê. Além disso, era admirável sua preocupação minuciosa inclusive com a fauna que retratava em suas histórias – as principais árvores brasileiras eram desenhadas respeitando suas características individuais. Não eram apenas a ilustração de uma floresta fictícia, mas sim um retrato da flora nacional.
O pai do menino maluquinho descobriu cedo o que gostaria de ser. Desde a primeira vez que abriu um gibi, conta que foi “adivinhando seu futuro” – gostaria de ser desenhista de história em quadrinhos. No entanto, a profissão ainda não existia. Ziraldo, então, criou a primeira revista em quadrinhos brasileira (em cores) feita por um só autor, a revista Turma do Pererê, no ano de 1960.
Trailer
A HQ de Ziraldo tornou-se referência na época, representando personagens do folclore brasileiro, cheia de cores, amplos espaços e narrativas que geravam identificação com o público predominantemente rural da época. Os temas não possuíam um caráter infantil, mas um viés político-social e, muitas vezes, ligado à sustentabilidade. O cartunista também representava, em suas histórias, o contexto em que o país vivia, tal como a aclamada construção de Brasília. A revista chegou a vender mais de 100 mil exemplares, ultrapassando os campeões de venda como Luluzinha, Turma do Bolinha e as ovacionadas histórias em quadrinhos de heróis internacionais. No entanto, no ano de 1964, instaurado o regime militar ditatorial no Brasil, a revista deixou de ser veiculada.
Título original e ano: A Turma do Pererê.doc, 2019. Direção: RICARDO FAVILLA. Roteiro: LAURA MALIM / RICARDO FAVILLA. Entrevistados: ALVARO DE MOYA, FRANCO ROSA, GONÇALO JUNIOR, IVAN LIMA GOMES, JAGUAR LAERTE, LUIZ FERNANDO EMEDIATO, MAURÍCIO DE SOUSA, MIG (MIGUEL MENDES), OTA (OTACÍLIO D' ASSUNÇÃO BARROS) e PRIMAGGIO MANTOVI. Produção: RIO DE CINEMA PRODUÇÕES LTDA e MWN FACTUAL PRODUÇÕES LTDA. Coprodução : CAFEÍNA PRODUÇÕES. Patrocínio: LOJAS AMERICANAS / AMERICANAS.COM. COPATROCÍNIO: LIGHT. DISTRIBUIÇÃO: O2 PLAY. Duração: 01h17min.
Anos após esse período, houve uma tentativa da editora Abril em republicar as HQs da Turma do Pererê, no entanto, sem sucesso. Um dos especialistas entrevistados no documentário aponta para o formato em que a revista foi relançada como a chave para entender o motivo pelo qual a investida não deu certo – e são bastante coerentes seus argumentos: a revista foi publicada em um formato menor, veiculado para crianças. No entanto, os temas politizados não eram voltados para o público infantil. Logo, àqueles (que compraram esse formato de HQ) não gostaram. E o público adulto simplesmente não adquiria, por tratar-se de um formato de revistas infantis.
Ainda assim, especialistas em quadrinhos e cartunistas como Maurício de Souza e Laerte demonstram a admiração e destacam a importância da criação da Turma do Pererê – que não só trouxe afeição, como também teve influência em suas próprias carreiras – além do caráter revolucionário que a HQ de Ziraldo trouxe para a época.
HOJE NOS CINEMAS
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