O best-seller 'O Pintassilgo' de Donna Tartt (ver aqui) ganhou adaptação de um grande estúdio, mas nem por isso conseguiu ser melhor que seu livro de setecentas e vinte e oito páginas que passou trinta semanas consecutivas na lista dos mais vendidos e ainda conquistou um prêmio Pulitzer. Pelo contrário, a produção se atrapalha ao tentar ser mais inteligente que o espectador e ainda que entregue muitas subcamadas de uma mesma trama, não chega ao seu ato final com um resultado perfeito.
Com direção de John Crowley (Broklyn) e um elenco repleto de estrelas como Nicole Kidman, Sarah Paulson, Ansel Elgort, Luke Wilson, Aneurin Barnard, Jeffrey Wright, além dos pequenos Oakes Fegley e Finn Wolfhard, Ryan Foust, a película fez sua estréia no TIFF (sigla para Toronto International Film Festival) deste ano e obteve uma das piores estreias da bilheteria nos Estados Unidos em 2019.
A Warner Bros Pictures distribui o filme e ele deve estar em um cinema próximo a sua casa a partir de hoje.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: The Goldfinch, 2019. Direção: John Crowley. Roteiro: Peter Straughan - adaptação do livro homônimo de Donna Tartt. Elenco: Nicole Kidman, Sarah Paulson, Ansel Elgort, Luke Wilson, Willa Fitzgerald, Ashley Cummings, Aimee Laurence, Boys Gaines, Carly Connors, Rusty Foust, Hayley Wist, Jack DiFalco, Austin Weyant, Collin Shea Schirrmacher, Jeffrey Wright, Oakes Fegley e Finn Wolfhard. Gênero: Drama. Nacionalidade: EUA. Edição: Kelley Dixon. Fotografia: Roger Deakins. Trilha Sonora Original: Trevor Gureckis. Figurino: Kasia Walicka-Maimone. Distribuidora: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 02h29min.
O pequeno Theodore Decker (Fegley) estava com a mãe no Museu Metropolitano de Arte, em Nova York, quando um atentado a bomba matou dezenas de pessoas. Sua mãe, infelizmente, estava entre a lista de mortos. Theo, como prefere ser chamado, acaba pedindo aos guardas que o levem para a casa da mãe de um colega (Ryan Foust) de classe, pois não faz ideia de onde o pai (Wilson) esteja - este último abandonou a família e mudou de Estado sem deixar qualquer registro de moradia. A família do amiguinho o acolhe e a matriarca, Mrs. Barbour (Kidman), apesar de se mostrar sempre distante, parece demonstrar certo afeto pela criança.
Mais tarde revela-se que o garoto salvou uma das peças no museu trazendo a consigo. Aquele seria então um quadro refletindo um pequeno pássaro acima de um móvel. Ali, também teve contato com uma menina e um senhor que a acompanhava. Este o solicita algo especial em seus últimos minutos de vida. Entregar um anel ao dono de uma loja de antiguidades do bairro. O menino o faz e acaba criando vínculo com este senhor que se chama Hobie (Wright).
Com o passar dos dias, o pai do garoto acaba sabendo do ocorrido e vem buscá-lo para ir viver com ele e a atual esposa Xandra (Paulson). Theo se muda para um lugar deserto e pouco povoado onde conhece Boris (Wolfhard), um jovem russo com mil e tantas outras nacionalidades. Os dois acabam ficando muito amigos e iniciam dias de muitas descobertas. O que só muda quando Theo precisa deixar o lugar e voltar para Nova York onde é acolhido por Hobie e cresce para se tornar um especialista em antiguidades como seu mentor.
O roteiro de Peter Straughan se mostra sensível, mas também atrapalhado. Isto se dê talvez pela vontade de não engolir personagens e arcos que Straughan considerou importante na hora de transportar a história do universo literário ao cinematográfico. Assim, ele acaba inserindo muitos detalhes desnecessários e deixando uma leva deles sem finalidade alguma. Por sua vez, constrói idéias que no livro soam distintas e aqui muitas das escolhas do protagonista tem um tom de dualidade enorme e se mostram contraditórias.
A construção da história pela edição é dada ao espectador em um paralelo entre presente e passado. Logo, tudo que acontece na tela é o efeito presente de uma escolha prévia. A vida de Theo também ganha um emaranhado de temas (romance, amizade, família, drogas) e talvez o principal deles, o que se refere a pintura que nomeia a película (e que de fato existe e foi assinada por Carel Fabritius, em 1654), não se torna significante ao fim dos créditos. Há por demais aqui conveniências que auxiliam nosso protagonista a se desenvolver e por mais que isto não seja ruim faz a qualidade do filme cair.
A direção sabe brincar com cada um dos personagens e extrai das atuações ótimas performances. Nicole nos revela uma mãe da classe alta sublime. Ela têm sim sua postura pomposa, mas demostra terno afeto ao olhar para Theo. Sarah Paulson vem como Uma madrasta maluquete e, mais uma vez , nos deixa admirados com sua precisão camaleônica. Ansel é correto no papel, mas é sua versão mirim, Oakes que brilha todo o tempo em que aparece. Finn e Aneurin interpretam também o mesmo papel, o russo Boris. O primeiro mais jovem e o segundo com seus vinte e poucos. Finn dá um show, aliás. Sotaque, gesticulação e trejeitos de um adolescente estranho, mas que é extremamente carismático aos olhos dos que notam sua essência. Luke Wilson tem poucas cenas, mas seu pai canastrão é bom a ponto de um ódio crescente te dominar. Ademais, seu arco é outro que nos deixa apreensivos pelo futuro do pequeno Theo que desde o início da trama sofre tragédia atrás de tragédia e vai levando a vida como pode já que se culpa por muitos dos ocorridos, sem exatamente ter qualquer responsabilidade destes.
Não há aqui um conjunto maravilhoso, mas altos e baixos que se evidenciam por toda a experiência. Por se tratar de um filme que trabalha muito com o estilo da classe alta nova yorkina, sua direção de arte é belíssima e o trabalho da fotografia enaltece muito tais cenas, além de nos propor uma ótica interessante sobre a aura dos personagens. A trilha sonora também aparece (escute aqui) e em certas cenas canções da banda Radiohead ajudam a criar um clima super autêntico.
Avaliação: Dois pássaros perdidos 2/5
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