O quarto dia de Mostra Competitiva do Festival de Brasilia foi até agora o mais politizado. Se um dos curtas trazia a beleza da vida e da morte, o outro misturava ficção científica a um Brasil extremamente acalorado pelas decisões governamentais que acabaram não fazendo nada pela população e muito menos pelo meio ambiente. O longa da noite continuou a tensão política e trouxe à tona a nossa crise atual. Fez refletir, mas também deixou a platéia pavorosa e aos gritos por todo ele.
Confira os comentários dos filmes.
Estado: PR
Classificação indicativa: 10 anos
Exibição: 26/11, às 21h, no Cine Brasília; 26/11, às 20h30, em Planaltina, Samambaia e Recanto das Emas; e 27/11, às 18h, Museu Nacional (Reprise)
É gostoso acompanhar a trajetória de Yúlia e sua busca por uma festa de aniversário com bolo e suco de pacotinho. Por mais que nesse caso, “gostoso” também abranja sentimentos como tensão e certo frio na barriga. A obra retrata bem as dores escondidas da infância e aposta na convenção cinematográfica da cor roxa para conectar o começo e o fim da vida e mostrar que rituais de aniversário e rituais de velório têm muito mais em comum do que gostamos de admitir. Os ícones da mitologia católica funcionam magistralmente para estabelecer a pitada de terror que a obra carrega.
Classificação indicativa: Livre
Exibição: 26/11, às 21h, no Cine Brasília; 26/11, às 20h30, em Planaltina, Samambaia e Recanto das Emas; e 27/11, às 18h, Museu Nacional (Reprise)
Ao subir ao palco, a diretora descreveu sua obra como uma ficção científica. Mas o filme tem dificuldade de se estabelecer como tal devido à falta de coerência na realidade suposta que ele próprio cria. A linguagem escolhida passa longe de transmitir o calor que deveria passar para a audiência e as atitudes da personagem geram várias perguntas que coçam atrás das orelhas do espectador. Nada é crível neste universo fílmico. E isto nada tem a ver com o baixo orçamento assumido, um dos poucos pontos altos.
Longa-metragem
Estado: RJ
Classificação indicativa: 14 anos
Exibição: 26/11, às 21h, no Cine Brasília; 26/11, às 20h30, em Planaltina, Samambaia e Recanto das Emas; e 27/11, às 18h, no Museu Nacional (Reprise)
O primeiro longa documental do Festival chegou trazendo debates acadêmicos com diversos pontos de vista econômicos, políticos, sociais e filosóficos para tentar destrinchar o que aconteceu com o Brasil desde as manifestações de junho de 2013. Tal atitude plural não agradou a audiência. O público aplaudiu e vaiou diversas vezes durante a projeção, aproveitando para gritar ofensas e manifestações de repúdio durante as aparições em tela de Reinaldo Azevedo, Pablo Capilé, Marco Feliciano e dezenas de políticos.
Se por um lado faz parte da experiência coletiva do cinema notar as reações do espectador, e isso nos remete às raízes da sétima arte como experiência de massa, por outro lado foi entristecedor notar como os presentes reagiram com escárnio diante de qualquer opinião contrária às suas próprias. Apesar de terem sido entrevistadas pessoas de direita, esquerda e centro, o diretor prezou pela sensatez e nenhum discurso de ódio protofascista foi ouvido. Nem nenhum que passasse pano para o circo que se instaurou no país desde o início do ano. Portanto, a conduta do público demonstra apenas uma abertura nula para o debate, tornando o Festival de Brasília um espaço que só está disposto a ouvir o que quer. E isto só evidencia o empobrecimento intelectual a que estamos fadados. Prova disto foi notar que por vezes a audiência teve inclusive dificuldades em distinguir o que era a mensagem do filme do que era a opinião dos entrevistados.
Toda essa discussão, no entanto, só faz bem à obra colocando-a como pauta, visto que trata-se de um documentário sem alma, que pouco acrescenta ao que foi debatido desde 2015 e que tenta inserir instalações artísticas e obras de arte em meio às entrevistas e imagens de arquivo para se engrandecer enquanto obra audiovisual, mas acaba soando prepotente e traz figuras que pouco acrescentam ao discurso, sendo meramente ilustrativas.
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