Na noite desta quarta-feira (27), o Cine Brasilia fez valer
a força feminina nas exibições dos curta-metragens. Ao longa, restou tentar inovar e ainda assim não sabemos se exatamente o fez. Confira então os comentários do 5º Dia de Mostra Competitiva da 52º Edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Curtas-metragens
Filme: Angela (Ficção, 14min39s)
Apresentação da equipe do filme
Diretora: Marília Nogueira
Estado: MG
Classificação indicativa: Livre
Exibição: 27/11, às 21h, no Cine Brasília; 27/11, às 20h30, em Planaltina, Samambaia e Recanto das Emas; e 28/11, às 18h, Museu Nacional (Reprise).
Classificação indicativa: Livre
Exibição: 27/11, às 21h, no Cine Brasília; 27/11, às 20h30, em Planaltina, Samambaia e Recanto das Emas; e 28/11, às 18h, Museu Nacional (Reprise).
Angela conta a história de uma senhora hipocondríaca que vive só. A maneira que encontrou para passar o tempo foi estudar as doenças da moda e se reconhecer nos sintomas. É filme muito simples sobre a solidão, mas que encanta com um carinho entre as mulheres na tela. Sem muitas reviravoltas ou brincadeiras com a linguagem, a diretora Marília Nogueira aposta na simpatia das atrizes e nos efeitos do feel-good movie pra conquistar o espectador. É muito interessante e pouco comentado no cinema o papel da socialização dos idosos na qualidade de vida. Temos, então, um filme humanista que crê que o afeto salvará a todos nós.
Nota: Quatro comprimidos de Rivotril (4/5).
Diretoras: Julia Zakia e Ana Flavia Cavalcanti
Estado: SP
Classificação indicativa: Livre
Exibição: 27/11, às 21h, no Cine Brasília; 27/11, às 20h30, em Planaltina, Samambaia e Recanto das Emas; e 28/11, às 18h, Museu Nacional (Reprise).
Exibição: 27/11, às 21h, no Cine Brasília; 27/11, às 20h30, em Planaltina, Samambaia e Recanto das Emas; e 28/11, às 18h, Museu Nacional (Reprise).
Percorrendo o espectro oposto ao de Angela, Rã é um filme cru e direto. Val é uma mãe solteira que vive numa comunidade com as duas filhas. Desde o primeiro momento entendemos a situação dessa família e todo seu entorno. É muito comum ouvirmos que curtas não podem aprofundar seus personagens, situações ou análises da vida por não terem tempo para isso. Tal noção sobre o curta-metragem acaba criando a ideia de que são filmes que precisam funcionar como esquetes, “sacadinhas” interessantes que te fazem esboçar um sorriso de admiração ou espanto com uma virada no fim. Rã é um exemplo de que o curta pode ser muito mais que isso ao construir cada imagem de modo consciente. Cada plano conta algo a mais e o todo se torna muito maior que a soma das partes. A poder da imagem construída em Rã é o poder de um cinema feito por mulheres com um olhar engajado, ativo e inteligente sobre o próprio cinema e sobre o mundo. Ação que nos convida a fazer parte desse todo, nos convida a viver.
Nota: cinco rãs fritinhas (5/5).
Longa-metragem
Filme: Loop (Ficção, 98 min)
Os longas nesta edição do Festival de Brasília não estão impressionando muito. Partindo para a reta final da 52º edição, somos surpreendidos com uma ficção científica. Gênero que gera discussão nos ambientes de festival uma vez que dizem que não é muito comum nesse meio – esquecendo, é claro, que Era uma Vez Brasília, de Adirley Queirós, ganhou o prêmio de Melhor Direção neste festival, em 2017.
Assim, em um ano de caos e desespero político, vimos o cinema tentar se fortalecer e combater o obscurantismo dentro das telas com filmes como Democracia em Vertigem e até mesmo Bacurau. Tanto o documentário quanto a ficção (divisão que já foi menos óbvia e volta a se tornar mais marcada na cinematografia nacional) lutam em favor de um espaço de diálogo político e estético para que o debate público no país se fortaleça. Valores democráticos que se formam a partir do papo entre ideias múltiplas e muitas vezes dissonantes.
Loop vem como outro filme de gênero e deixa isso bem claro. Logo nos primeiros minutos ouvimos as palavras espaço-tempo, reator nuclear, etc. Bini usa e abusa dos clichês de gênero pra construir sua história que, apesar de previsível, vai te levando. Acontece que um festival de cinema, e o Festival de Brasília em especial, é um terreno para as discussões de vanguarda para que o público, os cineastas, a crítica e a curadoria criem um terreno conjunto para o debate artístico e político. A participação de um filme como Loop (ao lado dos outros que estão concorrendo na Mostra Competitiva) é um esvaziamento na tentativa de construção de significado simbólico por parte da seleção do festival.
Portanto, ao passo que o longa de Bini seja um ponto fora da curva, defenderia sua permanência uma vez que incitaria o diálogo sobre formas de cinema comercial relevantes para a continuidade da indústria. Mas em período em que até Cláudio Assis trouxe um filme morno com a nata do estrelato brasileiro, Loop deixa clara a tentativa de isenção por partes de seus realizadores e da curadoria do festival. Corrompe-se o debate por deixar no ar uma dicotomia entre “filme de arte” e “filme comercial”, fazendo com que qualquer crítica a filmes como este seja tachada de intolerante, enquanto um modelo Netflix ganha um monopólio nas salas e nos modos de fazer o cinema nacional. Exclui-se o pouco usual por seu baixo poder de venda e destrói-se a multiplicidade de vozes na cena artística brasileira.
Loop não é um filme horroroso. Eu assitiria numa noite de jogos com os amigos depois de fuçar alguma plataforma de streaming. E gostaria do resultado com algumas várias ressalvas. Mas assistir na mesma sessão de Rã já traz uma outra reação. Loop fazer sua estreia num festival é chancelar esse cinema como o único possível.
Nota: meio fio-terra desencapado (0,5/5).
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