sábado, 30 de novembro de 2019

52º Edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro - 7º Dia de Mostra Competitiva


O último dia de competição do Festival de Brasilia se finalizou com com chave de ouro. Houve, aliás, tempo para emoção, gargalhadas e muito suspense. Talvez possa se falar que este último dia tenha sido um de seus melhores e com as produções mais íncriveis da lista de selecionados. 

Vamos então aos comentários do filmes. 

Curtas-metragens

Filme: Sangro (Animação, 7 min)

Apresentação da equipe do filme

Diretores: Tiago Minamisawa, Bruno H Castro, Guto BR (codireção)
Estado: SP
Classificação indicativa: 14 anos
Exibição: 29/11, às 21h, no Cine Brasília; 29/11, às 20h30, em Planaltina, Samambaia e Recanto das Emas; e 30/11, às 18h, Museu Nacional (Reprise)




A segunda animação da mostra competitiva trouxe um olhar doce sobre um tema amargo. O fato das vítimas de HIV terem voltado a crescer no Brasil nesta década já fala por si só sobre a relevância de discutir o assunto. E foi uma escolha acertada que a narrativa fosse contada através da perspectiva de uma vítima real da doença, apesar de diretor, roteirista e animador serem soronegativos. É interessante que Sangro dialogue tanto com Carne, exibido no primeiro dia do festival. O distanciamento trazido pelos desenhos de traço estilizado junto a narrações extremamente pessoais e íntimas formou um excelente casamento, capaz de tocar qualquer um sem sequer correr o risco de cair na monotonia ou no apelo exacerbado dos relatos filmados conhecidos informalmente como “talking heads” por trazer apenas planos médios de pessoas sentadas falando de frente para a câmera.



Filme: Amor aos vinte anos (Ficção, 24 min)
Apresentação da equipe do filme

Diretor: Felipe Arrojo Poroger e Toti Loureiro
Estado: SP
Classificação indicativa: Livre
Exibição: 29/11, às 21h, no Cine Brasília; 29/11, às 20h30, em Planaltina, Samambaia e Recanto das Emas; e 30/11, às 18h, Museu Nacional (Reprise)




Como o diretor comentou ao subir ao palco, há tempos em que é estranho apresentar uma comédia em um festival de cinema pelo simples fato da realidade estar sombria demais, favorecendo filmes com temáticas e enfoques mais politizados. No entanto, Amor aos Vinte Anos acerta ao focar seu humor no ridículo com que convivemos. Fosse exibido em outro lugar que não encontrasse uma audiência de classe média metida a desconstruída e talvez o filme não arrancasse tanto riso da plateia como aconteceu nesta exibição, pois seu humor foca no reconhecimento do papel de bobo que todos já fizemos e na crítica a uma burguesia autocentrada em que todos os presentes em um festival de cinema fazem parte de alguma forma. E é delicioso ver isso personificado no outro e poder rir.

Longa-metragem


Filme: Volume morto (Ficção, 76 min)

Apresentação da equipe do filme


Diretor: Kauê Telloli
Estado: SP
Classificação indicativa: 14 anos
Exibição: 29/11, às 21h, no Cine Brasília; 29/11, às 20h30, em Planaltina, Samambaia e Recanto das Emas; e 30/11, às 18h, Museu Nacional (Reprise). 



Uma professora de inglês chama os pais de um de seus alunos para conversar sobre o desenvolvimento pedagógico social da criança de sete anos. O que vem a seguir é algo que nenhum ser humano normal imaginaria, embora os absurdos do Brasil de 2019 nos provem que não seria algo impossível. Apesar de não inovar em sua estética ou linguagem, o filme tem uma mise-en-scène extremamente competente, funcional em deixar o espectador tenso e grudado na cadeira do início ao fim enquanto tenta desvendar o quebra-cabeça. A claustrofobia de ser rodado inteiro em uma única locação e com apenas quatro atores contribui para esse tom de apreensão. E é acertada a decisão de não mostrar a criança que origina todo o conflito nem em fotos, já que isto poderia enfraquecer ou até mesmo destruir a tese proposta no final, invalidando todo o roteiro. Gustavo não é um personagem, é um artifício. Tanto diegética como extra-diegeticamente.

Vamos divulgar mais tarde a lista dos vencedores em nossas redes sociais, mas desde já agradecemos a todos que nos visitaram durante esses dias. Esperamos estar no Festival ano que vem e contamos com a visita de vocês por aqui.

= ) 

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

52º Edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro - 6º Dia de Mostra Competitiva


Na reta final do Festival de Brasilia, as produções começaram a se mostrar mais profundas e com teor delicado. Na última quinta-feira (28), houve comoção do público presente ao sentir que aquelas histórias na tela eram reais demais e representavam a realidade ensanguentada de um Brasil covarde.

Abaixo os comentários. 

Curtas-metragens





Filme: Marco (Ficção, 20min46s)





Diretora: Sara Benvenuto

Estado: CE
Classificação indicativa: 10 anos
Exibição: 28/11, às 21h, no Cine Brasília; 28/11, às 20h30, em Planaltina, Samambaia e Recanto das Emas; e 29/11, às 18h, Museu Nacional (Reprise).

Sair de casa nunca é fácil para os filhos ou para os pais e reencontros entre estes se fazem ainda mais complicados se o temperamento de ambos vive em ponto de ebulição. E é assim que 'Marco' aparece, mostrando o retorno de uma jovem mulher a casa dos pais, porém este não acontece para um momento de alegria e sim para que esta dê um último adeus a seu pai.

O reencontro com amigos vem, com casinhos antigos também e trapalhadas e confusões são inerentes. No entanto, é o encontro da filha de personalidade forte com a mãe em luto, pela morte do marido, que fazem os olhos do espectador se encharcarem. Uma relação frágil que, em um primeiro momento, se mostra em conflito e, na sequência, forte para superar qualquer distância. Um laço afetado por um acontecimento inesperado que logo se vê carente de si mesmo. 

Tocante. Universal.  

Avaliação: Quatro amores fraternos em dia de partida (4/5)

Filme: Chico Mendes – Um legado a defender (Documentário, 10min10s)


Apresentação da equipe do filme




Diretor: João Inácio
Estado: DF
Classificação indicativa: 10 anos
Exibição: 28/11, às 21h, no Cine Brasília; 28/11, às 20h30, em Planaltina, Samambaia e Recanto das Emas; e 29/11, às 18h, Museu Nacional (Reprise)


Curto e bastante direto, o filme coloca na tela amigos, a filha, trabalhadores sindicais e personalidades artísticas para falar um pouco da jornada de um homem que muito fez pela defesa dos seringueiros, Chico Mendes. E sua causa e trabalho é comentada com dor, devido ao assassinato covarde que aquele sofreu, mas também com alguns detalhes específicos, por exemplo, adoção da ideia de que para Mendes o trabalho dos seringueiros ser competente estes últimos teria de haver suporte à eles, alfabetização e uma estrutura melhor. 



Com caráter de homenagem o filme até traz cartas com dizeres de Mendes e seu olhar que era voltado ao povo vivendo em propriedades rurais e cuidando da floresta é simples, mas verdadeiro. Sua força para criar reservas, chamar atenção política e fortalecer a luta pelas causas ambientais segue vivo.


Avaliação: Três sindicatos que continuam na luta (3/5).

Longa-metragem


Filme: O tempo que resta (Documentário, 73 min)
Apresentação da equipe do filme



Diretor: Thaís Borges
Estado: DF
Classificação indicativa: Livre
Exibição: 28/11, às 21h, no Cine Brasília; 28/11, às 20h30, em Planaltina, Samambaia e Recanto das Emas; e 29/11, às 18h, no Museu Nacional (Reprise)


''Eu ainda vou voltar para a minha casa'' são palavras que mexem fundo com a alma dos sensíveis e foi o que disse uma das 'protagonistas' do documentário ultra real de Thaís Borges durante a apresentação da produção. A fala é clara e se refere a situação que se deflagra dia a dia no interior do país: pessoas sendo ameaçadas de morte apenas por morarem, cuidarem e trabalharem pelo nosso Brasil rural. 

Mas mais que isto o documentário segue a vida de duas mulheres que resistem. Que lutam por suas famílias, plantam, colhem, e passam seus dias cercadas de simplicidade. Levadas por uma força ativista, elas também defendem o seu meio e claro o ambiente. São conscientes e de lá tiram o que lhes fortalece. Para uma, a defesa de sua casa, da família e do que ela construiu é essencial. Para a outra, levar a palavra e falar aos seus é essencial para não deixar que as forças sindicais percam força - ainda que esta tenha ou não proteção policial.

É dolorido assistir uma situação tão forte, tão provocante e tão frustrante. Mulheres e homens que ao denunciarem o abuso de coronéis e gente poderosa são marcadas para sempre. Uma coragem que muitos não têm e que talvez nem saibam o que vem a ser.  

Impactante.

Avaliação: Quatro dores indescritíveis (4/5).