Carceiros – O Filme (reparem no subtítulo que reforça que é um filme) é a adaptação da série de televisão baseada no livro de Dráuzio Varella que estreia nas salas de cinema ao fim de novembro.
A projeção se inicia com imagens de arquivo de rebeliões em presídios e das condições absolutamente degradantes a que os presos são submetidos no sistema carcerário brasileiro. Mas tudo isso é mostrado mais como encenação (mesmo sendo material de arquivo) do que como comentário político. Aliás, todo o filme se utiliza de uma realidade complexa apenas para marcar uma tentativa de verossimilhança à ação que conduz a trama.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Carceiros - O Filme, 2019. Direção: José Eduardo Belmonte. Roteiro: Marçal Aquino, Fernando Bonassi e Dennison Ramalho - baseado na obra de Drauzio Varella. Elenco: Rodrigo Lombardi, Tony Tornado, Milton Goncalves, Kaysar Dadour, Jackson Antunes, Dan Stulbach, Romulo Braga, Ivan de Almeida, Giovanna Rispoli, Bianca Muller, Similiao Aurelio, Germano Pereira, Jose Trassi, Rainer Cadete, Rafael Portugal. Gênero: Drama, ação, crime. Nacionalidade: Brasil. Trilha Sonora Original: Guilherme e Gustavo Garbato. Fotografia: Alexandre Ramos. Montador: Bruno Lasevicius. Figurino: Manuela Mello. Sonorizador: Tide Borges. Distribuição: Imagem Filmes. Duração: 108min.
Num dia de folga, o agente penitenciário Adriano (Rodrigo Lombardi) é chamado para um plantão extraordinário. Abdel Mussa (Kaysar Dadour), um estrangeiro condenado por terrorismo internacional está de passagem pelo Brasil e a Polícia Federal precisa alocá-lo num complexo carcerário brasileiro antes que ele possa seguir viagem para ser julgado. A notícia vaza e os presos não estão contentes com isso. Adriano e os outros carcereiros, então, precisam garantir a segurança de todos durante a noite. Claro que nada sai como esperado e somos jogados na ação desenfreada com tiros, explosões e agentes infiltrados.
Sua filha (Giovanna Rispoli) não está nada feliz com o emprego do pai, pelos perigos envolvidos. É uma tentativa de dar perspectiva dramática a Adriano, criando um senso de propósito à sua vida fora do emprego e fazendo com que sintamos melhor o que está em risco toda vez que ele vai trabalhar. A isso é somada a personagem psicóloga de Bianca Müller (as cuidadoras, as únicas mulheres do filme), pra quem Adriano explica como funciona uma prisão – com seus grupos organizados em busca de poder, a estratificação social, os perrengues do sucateamento – e o motivo de ele continuar ali: é seu trabalho.
Todos estes elementos (as imagens de arquivo, a filha e a psicóloga, ou ainda o terrorista) são modos de trazer profundidade aos personagens e à ação. Esse é o maior erro do filme. Sendo baseado na série de televisão, a possibilidade que aproveitada pelo filme, se basta na construção de uma trama mais longa e, com isso, com mais possibilidade de reviravoltas. Escolhe-se o gênero de ação com o intuito de abranger um público maior, mas a tentativa de crítica social atrapalha o caminho do gênero cinematográfico. Não é que longas do gênero não possam tratar de temas sérios, mas do jeito que o roteiro se desenha, soa como se este usasse de tais temas para se provar como valioso. Todos eles, portanto, são apenas jogados e pouco discutidos.
A linha narrativa sobre terrorismo que inicia o drama do filme surge como checkpoint dos tipos de violência que nos envolve em 2019. Mas Carcereiros apenas diz que isso existe, sem que outras violências na real possibilitem a existência desse tipo de ataque. Para ser justo, não é mesmo o intuito do filme dissecar a hostilidade que joga corpos em prisões, mas se você não quer tocar no assunto, não finja que isso trará seriedade ao projeto. A figura do terrorista até pode passar batida já que ela funciona apenas como ponto de partida para o drama. Mas a segunda reviravolta, já no terceiro ato, fecha o discurso da produção e reforça essa aparência de seriedade em meio à ação que não se sustenta.
Esse descompasso de tons entre a tentativa de seriedade do sistema prisional brasileiro e a ação cinematográfica é o mais marcante no filme. Carcereiros – o Filme se pauta num “isentismo” político (afinal é um filme de ação popular) que finge não tomar partido e bater em quem “merece”. O Estado é bandido, os políticos são bandidos, bandido é bandido, mas os agentes carcerários são a justiça. Querendo ou não, é o reforço de que a punição dos que estão à margem da lei é o único caminho para lidar com a violência. E é aqui que ficam tão perigosas as imagens de arquivo do início: elas denunciam o inferno que é um presídio, mas funcionam muito mais para preparar o terreno de guerra que o longa quer mostrar. Adriano precisa continuar, é seu trabalho, afinal.
Carcereiros – o Filme é um longa de ação que se perde no caminho entre entreter e levantar questões. Ao tentar criar uma atmosfera de denúncia do descaso do Estado quanto a seus presos e a seus agentes, Belmonte fica em cima do muro e esquece que o debate em volta disso tudo está em outro lugar. No meio disso, a ação até empolga em alguns momentos, mas soa caótica e corrida, se utilizando de truques do gênero e do imaginário dos videogames. Por essa razão, o filme de Belmonte parece muito mais como um episódio especial mais longo do que com um filme de cinema.
28 de Novembro nos Cinemas
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