Os nomes de peso de Matt Damon e Christian Bale chamam mais atenção para Ford vs Ferrari que o título ou o plot do filme. A obra, dirigida por James Mangold (Garota Interrompida, Johnny & June e Logan), aposta em um tema de nicho, que não conversa com qualquer espectador. E se aos atores coube ser o chamariz, coube à direção a tarefa hercúlea de prender a audiência por duas horas e meia, tentando fazer conversas sobre motores e freios de carro soarem interessantes. Por isso o roteiro apela para o que pode ser universal e tocar a audiência: a temática da paixão pelo que se faz.
De um lado temos Ken Miles (Bale), um mecânico turrão e reativo, que não leva desaforo pra casa. O típico trope chamado de white trash. Quando não está trabalhando em sua oficina, gosta de correr em pequenas corridas. E conhece tanto sobre carros que sabe a hora exata de acelerar, frear, passar a marcha e a melhor estratégia para cada veículo, a depender de suas peças. Do outro, Carroll Shelby (Damon), ex-piloto que agora vende carros devido a um problema de saúde. Mas sua paixão pelas corridas continua. E Shelby se projeta em Miles quando este corre, vendo na pista aquilo que ele também foi: alguém com vocação. A amizade dos dois surge desta mútua admiração e reconhecimento.
Bale e Damon trabalham pela primeira vez juntos, mas quase chegaram a contracenar em 'Batman: O Cavaleiro das Trevas' (2008), quando Damon recebeu proposta para interpretar 'Duas Caras'. |
Porém, a trama do longa só acontece porque a Ford está preocupada com seu rendimento e decide, em uma jogada de marketing, começar a fabricar carros de corrida para, como a Ferrari, passar a ser um objeto de desejo, não apenas um utilitário. No entanto, para criar esse status, é necessário não apenas construir o veículo, mas vencer a corrida. E para isso é preciso um bom piloto. É aí que Shelby e Miles se encaixam.
A história que envolve paixão, dinheiro, teimosia, relações de trabalho e de sabotagem são interessantes. O que torna o filme cansativo são as cenas da Le Mans, a grande corrida de vinte e quatro horas que acontecia durante os anos 60. Definitivamente bem dirigidas, porém, cansativas. A repetição de planos de passadas de marcha e ultrapassagens podiam poupar até meia hora de filme.
Não se pode dizer que a tarefa de Mangold de segurar a audiência foi cumprida. A junção de um tema de nicho com glorificação de um universo tipicamente masculino onde a velocidade e o risco significam liberdade, deixam parte do público de fora (há apenas uma personagem feminina, por exemplo. E seu tempo de tela é mínimo). Trazer as empresas Ford e Ferrari como personagens só piora a situação.
Por mais que se faça uma mea culpa, colocando os personagens corporativos como homens gananciosos que só se importam com o dinheiro, em contraponto à autenticidade de Shelby e Miles, no fim das contas são as marcas que levam o título. São elas que se sobressaem, figurando como o totem da sociedade americana vs o totem da sociedade italiana.
A interpretação tão comentada de Bale, que novamente perde peso para estar em um papel, realmente é impressionante. Uma pena que está fora do tom do em relação ao restante do elenco. Enquanto todos focam em uma atuação mais naturalista (e vale mencionar o destaque do ator mirim Noah Jupe), Bale ruma para o hiper-realismo da caricatura.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Ford vs Ferrari, 2019. Direção: James Mangold. Roteiro: Jez Butterworth, John-Henry Butterworth e Jason Keller. Elenco: Matt Damon, Christian Bale, Caitriona Balfe, Jon Bernthal, Noah Jupe, Josh Lucas, Ray Mckinnon, JJ Feild, Jenelle Mckee, Wyatt Nash. Gênero: Drama, Ação, Biografia. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Marco Beltrami e Buck Sanders. Fotografia: Phedon Papamichael. Edição: Andrew Buckland, Michael McCusker e Dirk Westervelt. Figurino: Daniel Orlandi. Direção de Arte: Maya Shimoguchi. Distribuição: 20th Century Fox. Duração: 02h32min.
14 de Novembro nos Cinemas
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