Entre Facas e Segredos, de Rian Johnson (com spoilers)


Muito comum entre os anos 40 e 60, muito por conta dos romances populares e das histórias pulp, as tramas policiais no estilo whodunit são aquelas em que um crime é cometido, normalmente um assassinato, e a trama gira em torno de descobrir quem fez ('who has done it?', afinal) para que seja punido. Além de ser um formato datado no cinema americano, esse tipo de narrativa policial foi sofrendo alterações e revisões pela história do cinema uma vez que as tramas maniqueístas foram saindo de moda e o mundo se mostrava cada vez mais complexo e cheios de nuances. Entre Facas e Segredos é uma dessas tentativas de brincar com esse subgênero policial.

Na comédia, Rian Johnson reúne um elenco estrelado com nomes já renomados na indústria há décadas como Jamie Lee Curtis e Christopher Plummer, e novos medalhões como Lakeith Stanfield e Chris Evans. Daniel Craig interpreta o usual detetive protagonista dessas histórias, num tom cômico levemente idiota que nos faz estranhar com sua voz afetada no início, mas que logo soa natural. 

Aliás, tantos elementos são dispostos no início do filme que a sensação que dá é que Johnson não dará conta de tantos personagens, suas relações familiares, seus trejeitos e esquisitices. Além da cronologia do crime ocorrido, é claro. Harlan Thrombey (Christopher Plummer) é um famoso escritor policial e dono de uma popular editora literária. Em seu aniversário, Harlan convida a família toda para sua comemoração, mas depois da festa, ele comete suicídio. Mas quando o morto é podre de rico, é preciso investigar. É aí que a polícia vem fuçar a vida da família do morto sob a consultoria de Benoit Blanc (Daniel Craig).


Trailer

Dentro dessa salada de informações, importante para que o espectador fique na dúvida entre tantos elementos e conecte os pontos sozinhos, parece que Johnson (que  também é roteirista) vai se perder. Mas assim como a voz afetada de Blanc, começamos a nos afeiçoar e compramos a história. O uso da comédia é interessante nesse sentido justamente por ser uma revisão de um gênero, mais do que antigo, antiquado. Todavia, Johnson revisa também a estrutura da narrativa, quando uma reviravolta no filme nos faz até mesmo questionar se aquilo vai dar certo. E  até que dá muito certo e conseguindo funcionar também no humor, que é bastante esquisito, mas que sabe captar um clima geracional corrente na internet. 


Entre Facas e Segredos é um filme americano daqueles que os Estados Unidos não fazem mais. Ao homenagear um estilo específico, Rian Johnson conseguiu imprimir também um clima como os dos grandes clássicos dos EUA. Produções como Tubarão, Goonies ou Intriga Internacional fechados em si mesmos e cada uma como tentativa de uma narrativa coesa e americana. Não sei se Hollywood funciona mais dessa maneira sem a pretensão de existir pela award season.

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Escrito por Marisa Arraes

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