terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Frozen 2, de Chris Buck e Jennifer Lee


O sucesso estrondoso do reino de Arendelle com seus segredos e magia não poderia ficar apenas em um filme. Afinal, é muito comum que as animações infantis sejam consumidas pelas famílias até que a próxima chegue e a anterior seja esquecida. Mas Frozen acabou se mostrando um marco e alçou Elsa, Anna e Olaf à “classe A” dos personagens Disney ao lado de Simba e Mulan. A canção Let it Go (ou Livre Estou, na versão brasileira) ficou gravada para sempre na cabeça de todos os pais com filhos nessa faixa etária e a animação entrou de vez no imaginário mainstream.

Era natural uma continuação e até que ela demorou para sair: são seis anos entre as duas produções. Essa demora pode ser vista como um cuidado da Disney em tratar um universo que já nasceu tão rico e tão querido. Toda a história familiar das irmãs, os misteriosos poderes de Elsa e a magia que dava vida aos seres em volta do reino eram um prato cheio de possibilidades para uma continuação. E tudo isso é explorado nesta sequência onde ainda descobrimos um pouco mais desse universo aclamado.



Trailer



Ficha Técnica


Titulo original e ano: Frozen II, 2019. Direção: Chris Buck, Jennifer Lee. Roteiro: Jennifer Lee - com argumentos de Chris Buck, Kristen Anderson-Lopez, Robert Lopez, Marc Smith. Vozes originais de: Idina Menzel, Kristen Bell, Josh Gad, Jonathan Groff, Evan Rachel Wood, Sterling K. Brown, Alfred Molina. Gênero: Aventura, comédia, animação. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Christopher Beck. EdiçãoJeff Draheim. Distribuição: DISNEY/BUENA VISTA. Duração: 01h43m.
Depois de um “chamado” sobrenatural que põe em risco a vida no reino, Elsa sai numa jornada para desvendar os segredos que compõem o lugar e marcam o seu povo. É a própria natureza que a obriga a pular fora de sua zona de conforto com a irmã, o namorado desta e o bonequinho de neve Olaf. As várias manifestações da natureza são pontos-chave do filme e são trabalhadas de maneira muito madura ao não corresponderem a um bem e a um mal clássicos. Elsa e Anna precisam lidar com a própria história e, portanto, consigo mesmas para entender o que acontece em seu reino e como resolver o desequilíbrio. Essa visão sobre o ciclo da vida e dos elementos é interessante e cresce muito quando o filme nos apresenta a comunidade da floresta, baseados visual e filosoficamente nos povos originários americanos. 


Infelizmente, todas essas boas ideias acabam parecendo apenas superficialmente pelo decorrer do filme, sem muita profundidade em nenhum campo. Aliás, pouca coisa tem algum peso em Frozen 2 e até mesmo Kristoff, o namorado de Anna e peça importante na primeira aventura, fica de lado aqui. Conhecemos melhor Elsa, Anna e a história da família, mas as novas personagens são apenas trampolins para que a trama avance ou se resolva quando necessário.

A sensação é que os seis anos de espera foram dedicados à tecnologia de animação já que o filme tem um visual impressionante. A cena no mar é melhor e mais empolgante que muitos filmes da Marvel (é bom admitir que Elsa é muito mais uma super-heroína que uma princesa Disney) e as texturas, luzes e sombras do estúdio chegaram a um patamar técnico que eu acredito ser difícil que alguém alcance. Por isso, o chamado que tira nossas protagonistas do reino e a resolução dos problemas parece corrida. Depois que elas entendem o problema, ele já começa a ser resolvido.

Frozen 2 é um filme mais bonito plasticamente que o primeiro, mas com uma narrativa um pouco mais preguiçosa. Apesar de comentar temas muito mais interessantes que o original, meia hora a mais faria muito bem à história e nos faria lembrar do filme com mais carinho e envolvimento afetivo com essa extensão da mitologia de Arendelle.

02 de janeiro nos cinemas

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Minha Mãe É Uma Peça 3


O ator Paulo Gustavo é um fenômeno sem igual! Um dos únicos atores brasileiros que encontrou sucesso na tevê fechada - claro, paralelo as suas peças no Teatro. Na tevê desde 2006, mesmo ano em que Dona Hermínia, um dos seus personagens mais divertidos, estrearam no palco em 'Minha Mãe É Uma Peça', ele chegou a participar de episódios de séries como 'A Diarista, Minha Nada Mole Vida e até Sítio do Picapau Amarelo. Em um canal da tevê fechada já foi protagonista de diversas séries, em uma delas, se transvestia de inúmeras pessoas e mostrava o quão versátil e talentoso é (220 Volts, Multishow). Esteve também em várias temporadas da série 'Vai Que Cola' e recentemente protagonizou 'A Vila'.

Mas é com Dona Hermínia que o ator atinge o coração da família brasileira quando homenageia a mãe de forma tão engraçada e contagiante. Entrega ao público uma família que muitos se identificam onde a matriarca é uma verdadeira leoa pelas crias e não leva desaforo para casa em nada na vida. Pentelha a filha que ama comer, vive ligando para o mais velho que mora longe e demonstra total apoio pelas escolhas do filho que se diz gay.

O filme se tornou realidade após a peça ter enorme demanda, obviamente, mas na telona Dona Hermínia encontrou um público tão gigantesco que a levou para aventuras hilárias no mundo cinematográfico por duas vezes. Agora o ciclo se fecha com o terceiro filme da personagem tendo que lidar com a partida de seus passarinhos para seus próprios ninhos. 

O elenco das iniciativas anteriores retorna em peso e conta com Herson Capri, Rodrigo Pandolfo, Mariana Xavier, Samantha Schmültz, Patrycia Travassos, Stella Maria Rodrigues e Alexandra Richter. A direção continua de Susana Garcia e o roteiro é assinado por Paulo Gustavo - que não só criou o personagem como é quem a vive nas telas. 

Trailer

Ficha Técnica


Título original e ano: Minha Mãe É Uma Peça, 3. Direção: Susana Garcia. Roteiro: Paulo Gustavo - Beaseado em peça assinada por Gustavo. Elenco: Paulo Gustavo, Herson Capri, Rodrigo Pandolfo, Mariana Xavier, Samantha Schmültz, Patrycia Travassos, Stella Maria Rodrigues e Alexandra Richter. Gênero: Comédia. Nacionalidade: Brasil. Produção: Migdal Filmes e DOWNTOWN FILMES. Co-produção: TELECINE, Globo Filmes, Universal Pictures, Paramount Pictures. Ditribuição: Downtown Filmes. Duração: 105min. Classificação: 12 anos. 
Se na primeira vez que vimos Dona Hermínia, tivemos uma apresentação geral da família, da sua relação não só com as crianças, mas com o ex marido, com a tia, com o pessoal do prédio em que vive e também com as irmãs, da segunda vez a mulher apareceu tentando cuidar dos filhos que tentavam dar seus primeiros passos rumo a vida adulta e até chegou a ser apresentadora de tevê. Agora, estes últimos realmente seguiram seus caminhos e Hermínia tem de lidar com o casamento dos filhos e sua então nova vida sem eles a todo o tempo. O marido, Carlos Alberto (Capri), passa também a morar perto de Hermínia, aliás no mesmo edifício e no mesmo andar. As irmãs ainda são suas fiéis confidentes e a nova sogra do filho Juliano (Pandolfo) promete uma boa competição quando o quesito é 'agradar'. 

Mas o que ela mal sabe é que Hermínia agora tem tempo de sobra e não vai deixar barato. 


A trama pela terceira vez consegue envolver o espectador e fazê-lo se divertir como se fosse a primeira. Com um texto simples, carismático e h-i-l-á-r-i-o assistimos Dona Hermínia esbanjar amor e muita brasilidade. Se os filhos não estão mais lá, ela pentelha a empregada, o pessoal na feira,  o porteiro, as velhinhas que leva para os bailes e até a irmã. Se o ex marido aparece, ela também não deixa baixo e coloca ele no bonde. 

Tentando se intrometer na nova vida dos filhos fica chateada por que eles finalmente impõem limites, mas ainda assim, ela aparece para ajudar quando eles menos esperam e causa aquele alvoroço.

É bom também ver Dona Hermínia se divertindo. Viajando para fora do Brasil e passando vergonha em um inglês tosquissímo ou indo com as irmãs para o tão sonhado casamento do filho.


Há sim uma conveniência extrema nas resoluções dos conflitos durante a película, contudo, para o tipo de proposta que a comédia tem qualquer previsibilidade se encaixa perfeitamente.

Ao fim da saga, o criador da personagem dedica a produção aos familiares. A mãe é sempre a estrela e tem um vídeo dela aos créditos, mas o interessante aqui é que Gustavo abriu seu mundo e mostrou ao público também como sua família cresceu e o marido, Thales Bretas, que apareceu também no segundo filme, dá as caras em um das cenas e nas fotos de agradecimentos com os filhos do casal.

Minha Mãe É Uma Peça 3 é ainda melhor do que os dois primeiros filmes e merece um público ainda maior, então não perca essa estréia mega estréia e leve a família inteira para assistir. 

Avaliação:  Três corações valentes e meia personalidade forte  (3,5/5).

Hoje nos cinemas

See Ya!

B-

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Confira como foi a noite de premiação do Prêmio eSports Brasil 2019




Battle Royale mobile dominou a premiação com troféus para organização, atletas e personalidades 

Em uma noite marcada pelo domínio do Free Fire, o Prêmio eSports Brasil celebrou e gratificou, nesta última quinta-feira (19), as principais personalidades dos esportes eletrônicos deste ano em um evento contagiado por muita emoção na presença dos apresentadores Nyvi Estephan e Lucas Gutierrez

O destaque da noite foi o jogador de Free Fire, Nobru, que conquistou três prêmios e ainda contou com o direito de pedir música no Fantástico em uma chamada feita pelo próprio Tadeu Schmidt. O atleta do Corinthians levou para casa os prêmios de melhor jogador de Free Fire – categoria nova deste ano -, Craque da Galera e Atleta do Ano. As conquistas do jogo não pararam por aí, o Battle Royale da Garena conquistou todas as categorias de votação popular, sendo elas: melhor streamer, melhor caster, melhor jogo, melhor organização e craque da galera. 

Entre os premiados por votação do júri, os destaques vão para CamilotaXP, que conquistou o troféu de Personalidade do Ano, após uma trajetória de sucesso como apresentadora do Circuito Desafiante de League of Legends e de Free Fire, e para o consagrado atleta de League of Legends, BrTT, que foi campeão brasileiro pelo Flamengo e disputou o campeonato mundial. 

Esta edição também contou com novas categorias de premiação, sendo elas, melhor jogador de Fighting Games, apresentado pelo lutador de MMA, Júnior Cigano, melhor jogador de Free Fire e melhor jogador de Outras Modalidades. A categoria de Futebol Virtual contou com a presença de Milton Leite, narrador dos canais SporTV, para entregar o troféu para Guifera

A cerimonia também trouxe as apresentações musicais do rapper Rincon Sapiência, do grupo Haikaiss e da funkeira Lexa que animaram a plateia. Ainda tivemos momentos bastante emotivos, como o vídeo promocional das Garotas Mágicas (assista aqui), realizado em parceria com a Puma, além de vídeos promocionais sobre a inclusão nos esportes eletrônicos. 

O evento rolou com ativações de empresas como Lenovo, Banco do Brasil e Domino’s, esta que apresentou em seu stand um jogo de realidade aumentada que desafiou os participantes a montar a melhor pizza no menor tempo possível. 

Confira a lista completa de todos os ganhadores do Prêmio eSports Brasil 2019:

Melhor atleta de Rainbow Six:

João “HSNamuringa”
Leonardo “Astro”
Rafael “mav”

Melhor atleta de card games:

Carlos “Jabaiano”
Davi “Fled”
Lucas “Rase”

Melhor atleta de Fighting Games:

Diego “Dark”
Raphael “Zenith”
Renato “DidimoKOF”


Melhor atleta de mobile games:

Pedro Roberto “Beto”
Maick “NoMercy”
William “Marinaul”

Melhor atleta de Dota 2:

Anderson “444”
Leonardo “Mandy”
Rodrigo “Lelis”

Melhor atleta de futebol virtual:

Felipe “Mestre”
Guilherme “GuiFera”
Henrique “Zezinho”

Melhor atleta de Battle Royale:

Andrey “and1FPS”
Igor “DrakoNz”
Nicolas “Nicks”

Melhor atleta de Free Fire:
Bruno “Nobru”
Carlos “FIXA”
Vinicius “ViniZx”

Melhor atleta de Overwatch:

Felipe “liko”
Gabriela “Win98”
Murilo “murizzz”

Outras modalidades:

Juan “JSChritte” - TFT
Michel “foox” - Point Blank
Leandro “frzgod” – Paladins


Melhor atleta de CS:GO:

Gabriel “Fallen”
Kaike “KSCERATO”
Yuri “Yuurih”

Melhor atleta de League of Legends:

Felipe “brTT”
Bruno “Goku”
Rodrigo “Tay”

Atleta revelação do ano:

Everton “UBiTa” - Free Fire
Luca “LuKid” - Rainbow 6
Samuel “Level Up 007” - Free Fire

Personalidade do ano:

Alan “Alanzoka”
Camilota XP
Gaules

Melhor streamer do ano:

Alan “Alanzoka”
Lucio “Cerol”
Felipe “YoDa”
Alexandre “Gaules”
Neto “Netenho”

Melhor caster do ano:

Ana Paula “Ana Xisdê”
Bruno “BrunoClash”
Diniz “Gruntar”
Nicolas “Nicolino”
Diego “Toboco”


Melhor jogo do ano:

CS:GO
Fortnite
Free Fire
League of Legends
PUBG







Melhor organização do ano:

Corinthians Free Fire
Flamengo eSports
INTZ
LOUD
paiN Gaming

Craque da Galera:

Bruno "Nobru" Goes (Free Fire)
Felipe "brTT" Gonçalves (LoL)
Felipe "YoDa" Noronha (LoL)
Heverton "ShariiN" Nobre Marinho (Free Fire)
Samuel "Level Up 007" Lima (Free Fire)

Atleta do ano:

Bruno "Nobru" - Free Fire


É isso pessoal!

Nos vemos na próxima!

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Agradecemos a Domino's Pizza pelo convite e por toda a atenção e carinho conosco. 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

É hoje o Prêmio eSports!


Acontece nesta quarta-feira (19), no auditório Simon Bolívar, no Memorial da América Latina, em São Paulo, a terceira edição do Prêmio eSports Brasil, e o evento promete parar toda a sociedade gamer. Na noite de gala do evento, 19 categorias, entre as quais Técnicas e Populares, vão ser premiadas. 

São elas: 


 Os ganhadores das categorias técnicas passaram pela avaliação de um #superjuri, claro.


E o voto popular decide também alguns dos prêmios. Os fãs ainda podem interagir dentro do site da premiação e pontuar em cada interação. Basta se cadastrar e seguir as regrinhas. 


Bem, o evento de premiação será exibido hoje à noite pelo canal Sportv3. Precisamente, a partir das 21 horas. As redes dos apoiadores e também dos patrocinadores terão inúmeras postagens sobre o prêmio. 

Nós do WANNA BE NERD fomos convidados a ir ao evento pela Domino's Pizza. Nossos representantes serão os jornalistas Pedro Orsolini e Isabela Gadelha

Nos acompanhem nas redes sociais e em breve tem postagem aqui sobre os ganhadores. 

Para maiores informações sobre tudo que rola no eSports e o nome de todos os indicados, visite  o websitehttps://premioesportsbrasil.com.br/

See Ya!


B- 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Entre Facas e Segredos, de Rian Johnson (com spoilers)


Muito comum entre os anos 40 e 60, muito por conta dos romances populares e das histórias pulp, as tramas policiais no estilo whodunit são aquelas em que um crime é cometido, normalmente um assassinato, e a trama gira em torno de descobrir quem fez ('who has done it?', afinal) para que seja punido. Além de ser um formato datado no cinema americano, esse tipo de narrativa policial foi sofrendo alterações e revisões pela história do cinema uma vez que as tramas maniqueístas foram saindo de moda e o mundo se mostrava cada vez mais complexo e cheios de nuances. Entre Facas e Segredos é uma dessas tentativas de brincar com esse subgênero policial.

Na comédia, Rian Johnson reúne um elenco estrelado com nomes já renomados na indústria há décadas como Jamie Lee Curtis e Christopher Plummer, e novos medalhões como Lakeith Stanfield e Chris Evans. Daniel Craig interpreta o usual detetive protagonista dessas histórias, num tom cômico levemente idiota que nos faz estranhar com sua voz afetada no início, mas que logo soa natural. 

Aliás, tantos elementos são dispostos no início do filme que a sensação que dá é que Johnson não dará conta de tantos personagens, suas relações familiares, seus trejeitos e esquisitices. Além da cronologia do crime ocorrido, é claro. Harlan Thrombey (Christopher Plummer) é um famoso escritor policial e dono de uma popular editora literária. Em seu aniversário, Harlan convida a família toda para sua comemoração, mas depois da festa, ele comete suicídio. Mas quando o morto é podre de rico, é preciso investigar. É aí que a polícia vem fuçar a vida da família do morto sob a consultoria de Benoit Blanc (Daniel Craig).


Trailer

Dentro dessa salada de informações, importante para que o espectador fique na dúvida entre tantos elementos e conecte os pontos sozinhos, parece que Johnson (que  também é roteirista) vai se perder. Mas assim como a voz afetada de Blanc, começamos a nos afeiçoar e compramos a história. O uso da comédia é interessante nesse sentido justamente por ser uma revisão de um gênero, mais do que antigo, antiquado. Todavia, Johnson revisa também a estrutura da narrativa, quando uma reviravolta no filme nos faz até mesmo questionar se aquilo vai dar certo. E  até que dá muito certo e conseguindo funcionar também no humor, que é bastante esquisito, mas que sabe captar um clima geracional corrente na internet. 


Entre Facas e Segredos é um filme americano daqueles que os Estados Unidos não fazem mais. Ao homenagear um estilo específico, Rian Johnson conseguiu imprimir também um clima como os dos grandes clássicos dos EUA. Produções como Tubarão, Goonies ou Intriga Internacional fechados em si mesmos e cada uma como tentativa de uma narrativa coesa e americana. Não sei se Hollywood funciona mais dessa maneira sem a pretensão de existir pela award season.

Hoje nos cinemas

Crime Sem Saída


21 Bridges já chega aos cinemas carregado de expectativas, afinal é produzido pelos irmãos Anthony e Joe Russo, responsáveis pelo filme de maior bilheteria dos últimos tempos - Vingadores: Ultimato.
Além disso, traz no elenco Chadwick Boseman que encarnou o herói Pantera Negra e aqui é o protagonista Andre Davis, um policial que procura seguir os passos de seu pai morto em serviço quando este ainda era garoto.

Também no elenco estão J.K. Simmons como o Capitão Matt McKenna, Sienna Miller como a policial do grupo anti-drogas Frankie Burns, Stephan James como um dos criminosos Michael Trujillo e Taylor Kitch como o segundo assaltante Ray Jackson.

Dirigido pelo mesmo diretor de alguns episódios de Game of Thrones e The Tudors, Brian Kirk, espera-se que este seja um filmão daqueles, todavia, apesar do time de peso citado, este não chega a ser aquele tipo de filme do qual nos lembraremos como algo excepcional. E sim como boa diversão para uma tarde qualquer.


Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: 21 BRIDGES, 2019. Direção: Brian Kirk. Elenco: Chadwick Boseman, J.K. Simmons, Sienna Miller, Taylor Kitsch, Stephan James, Keith David. Gênero: Ação, suspense, Policial. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Alex Belcher e Henry Jackman. Fotografia: Paul Cameron. EdiçãoProdução: Anthony Russo, Joe Russo, Mike Larocca, Gigi Pritzker, Chadwick Boseman, Logan Coles. Empresa produtora: STX Films, MWM Studios, Huayi Brothers. Distribuição: Galeria Distribuidora. Duração: 100’. Classificação indicativa: 14 anos.
Após um assalto que, a princípio seria sem grandes consequências, o policial Davis se vê obrigado a dar a ordem de fechar as 21 pontes que dão acesso à ilha de Manhattan, em Nova York, para que ele e sua parceira possam encontrar e prender dois homens que assassinaram policiais.


Desde o princípio a trama já se mostra um tanto quanto previsível. Não que isto faça de Crime Sem Saída um filme ruim. Até é possível gostar de algumas reviravoltas que a trama apresenta, mesmo não sendo nenhuma novidade para o tipo de roteiro que se constrói. Por outro lado, as cenas de ação são o carro chefe aqui e se destacam.

Como a reputação do policial Davis não é das melhores o plano não é assim tão fácil de ser colocado em prática. Principalmente quando se descobre que toda a corporação tem o rabo preso. 


Apresentando as questões psicológicas que justificam o envolvimento de todos com o crime em níveis diferentes, ''os vilões'' aqui são bem mais inocentes que os ditos "mocinhos". Fato este que torna o filme bem verossímil.

As cenas de suspense e ação farão com que os fãs do gênero se deliciem e como adicional vale saber que o título original traz veracidade com as ligações de entrada e saída de Manhattan, há realmente 21 pontes por lá, porém, quatro destas ligações são túneis.

Crime sem Saída entra em cartaz nesta quinta-feira (12)

Confira!!

Uma Mulher Alta, de Kantemir Balagov


Fim do ano é um momento especial para o cinema, os blockbusters diminuem e se inicia a temporada de lançamentos cults. Aliás, muitos dos filmes estrangeiros que chegam nessa época são a escolhidos pelo seu país para representá-lo na categoria de Melhor Filme Internacional na academia.

Um destes - e talvez um dos melhores da lista de longa estrangeiros - é Uma Mulher Alta, um filme russo dirigido por Kantemir Balagov e ganhador de quinze prêmios, entre eles 'Um Certo Olhar', premiação paralela que ocorre no Festival de Cannes, de melhor diretor. Enquanto muitas das produções deste ano focam em fazer um comentário sobre o mundo moderno, esta vem para falar sobre a guerra. Especificamente, o período pós-guerra, onde já não existe um conflito armado, mas sim uma vida problemática e diferente para aqueles que precisam ir em frente, após viver um período tão traumático.

A película de Balagov é inspirada no livro escrito por Svetlana Alexievich ''War Does Not Have a Woman's Face'' (ver aqui) e conta a história de Iya (Viktoria Miroshnichenko) e Masha (Vasilisa Perelygina), duas ex-militares que moram em Leningrado, hoje São Petersburgo, em 1945, uma cidade que durante um período de três anos sofreu um cerco durante a segunda guerra mundial. As duas mulheres têm de lidar com os vários efeitos que a tragédia provocou não só na cidade, mas em nelas mesmas. Iya com seus problemas médicos ligados a um ferimento na cabeça e Masha em sua incapacidade de conseguir viver uma vida normal em um local tão caótico.

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: Dylda, 2019. Direção: Kantemir Balagov. Roteiro: Kantemir Balagov e Aleksandr Terekhov - inspirado no livro de Svetlana Alexievich ''War Does Not Have a Woman's Face''. Elenco: Viktoria Miroshnichenko, Andrey BykovIgor Shirokov, Konstantin Balakirev e Vasilisa Perelygina. Gênero: Drama. Nacionalidade: Rússia. Trilha Sonora OriginalEvgueni GalperineFotografiaKseniya SeredaEdiçãoIgor Litoninskiy. Distribuição: Supo Mungam Films. Duração137 minutos.
O filme tem ritmo lento e se dá forma contemplativa, porém, ao mesmo tempo é palco para o acontecimento de milhares de situações acontecendo para prender a atenção do público. Logo nos primeiros minuto, uma grande tragédia acontece, e o acontecimento acaba sendo a motivação das duas personagens por todo o longa. O destaque que se enxerga aqui é o uso excelente do som e também doa fotografia em tons esverdeados e beges. Juntas, aliás, ambas as técnicas criam perfeitamente a sensação que era se viver em uma  cidade completamente destruída e todo ela dá um novo olhar ao filme e auxilia na representação do estado mental das protagonistas. Durante os momentos onde Iya está ‘travada’ graças ao seu ferimento, por exemplo, o som fica ecoante e distante, com um tom agudo contínuo, criando agonia e um sentimento ruim que ajuda a estabelecer a complexidade e falhas de caráter das personagens.


Uma Mulher Alta pode ser considerado um drama pesado, ainda assim extremamente tocante. Há nele a menção das tragédias sofridas no período de guerra sem sequer exibir cenas fortes do ocorrido. Ademais, a vida destas duas mulheres são suficientes para mostrar a mensagem claramente, e ao mesmo tempo o filme apresenta alguns temas que ajudam ainda mais a realizar elas como pessoas reais.

HOJE NOS CINEMAS

domingo, 8 de dezembro de 2019

Kindred - Octavia E. Butler


Sabe aquele meme que teve origem no twitter quando Roberta Miranda afirmou que “olhava para o teclado e não sabia o que dizer, apenas sentir”? É assim que me sinto após terminar a leitura de “Kindred – Laços de Sangue” de Octavia Butler (ver aqui), publicado no Brasil pela editora Morro Branco.

Octavia Estelle Butler nasceu em Junho de 1947 em Pasadena, na California. Sua mãe trabalhava como doméstica e ver a hostilidade com que ela era tratada por seus patrões brancos, despertou em Butler consciência da forte segregação racial que assola a sociedade. Octavia era tímida e sofria de dislexia, o que fazia dela um alvo fácil para bullies. Foi então que a jovem começou a se refugiar na biblioteca da cidade e se apaixonou por revistas de ficção cientifica. Butler vendeu suas primeiras histórias nos anos 70, quebrando barreiras em um gênero tão dominado por homens. Vencedora de diversos prêmios importantes, em 1995 ela se tornou a primeira escritora de ficção científica a ganhar o prestigiado “MacArthur Grant”.

Kindred não é um livro tão grande. Sua linguagem não é rebuscada e os olhos saltam de uma página para outra com facilidade. Porém, apesar de ser, em termos práticos, uma leitura fácil é, paradoxalmente, extremamente angustiante. E doloroso.

A história nos apresenta a Dana, uma escritora negra do ano de 1976. Um dia, ela sente uma tontura muito forte e se vê transportada para um rio, onde uma criança se afoga. Ela consegue salvar o menino, mas a atitude dos pais da criança para com ela não é nada menos que hostil. Assustada, ela volta para casa, onde encontra o marido confuso com o fato de que ela estava em um cômodo da casa e segundos depois apareceu em outro canto e toda molhada. Pouco tempo depois, acontece de novo. Não demora muito para que Dana perceba que não está mais no século XX, mas nos Estados Unidos pré- guerra civil. Dana vê seu destino entrelaçado a do filho de um senhor de escravos e precisa agora de alguma forma tentar sobreviver aos horrores do regime escravocrata.    

Meu conhecimento sobre história é limitado, porém a descrição de Butler dos costumes da época soam bastante realistas. Fica clara a extensa pesquisa que a autora fez para trazer autenticidade à história. A exposição da condição sub-humana dos negros na época, seus anseios por liberdade em meio aos maus tratos que vivenciam é de revirar o estomago. Dói ser lembrado que a história foi construída com o derramar de sangue e o flagelo de tantas pessoas. Dói ainda mais a realização de que as marcas da escravidão perduram; é uma ferida que continua aberta. A escravidão acabou, mas o racismo permanece vivo e pulsante, ainda subjugando milhões de pessoas. Usando o elemento de viagem no tempo apenas como pano de fundo, o livro escancara a violência de nossa história e clama para que aprendamos com os erros do passado.


Alguns outros temas permeiam a narrativa de Kindred. É uma história muito rica, cheia de nuances. As dinâmicas entre os personagens se mostram extremamente complexas. Principalmente a relação entre os protagonistas. É algo tóxico, que acaba se tornando mais uma forma de prisão para Dana. Quanto mais Rufus cresce, mas um senhor de escravos cruel e inescrupuloso ele se torna. Porém, ainda existe nele um amor por aqueles com quem ele cresceu. Mas é um amor codependente, que permeia o controle. Assim, sendo destinada a ser a salvadora de Rufus, Dana passa a nutrir sentimentos conflitantes ao jovem. São sentimentos que transpõem da personagem ao leitor. É fácil odiar Rufus, porém Butler não permite que ele se torne um arquétipo de vilão, nos desafiando a sentir algum tipo de empatia. Mas ela também não perdoa as atitudes daquele, se recusando a justificá-las. Seria possível para Dana salvar sua alma? Até que ponto alguém é fruto do seu meio, ou apensas genuinamente mal? As provocações que os livro trás são inúmeras.

“Kindred” é uma leitura marcante e necessária. Principalmente em uma época onde o racismo, neonazismo, fascismo, misoginia etc. se levantam como “questão de opinião”; “eu sou conservador”, eles argumentam e nos arrastam de volta a opressão do passado. Basta! A obra de Octavia E Butler nos adverte da necessidade de lutar para que a história não se repita.

Ficha Técnica
ISBN: 9788592795207
Páginas: 448 páginas
Peso: 590 gramas
País: Estados Unidos
Autor: Octavia E. Butler
Gêneros: Ficção Científica
Tradução: Carolina Caires Coelho