O Escândalo


Não tivesse em sua equipe nomes de peso para a indústria, tanto na frente quanto atrás das lentes e provavelmente na produção, O Escândalo não seria lembrado por premiação alguma. Apesar de contar uma importante história contemporânea, roteiro e direção erram a mão e são parcialmente salvos apenas pela relevância do tema e a competência de suas atrizes.

Nicole Kidman e Charlize Theron vivem respectivamente as jornalistas reais Gretchen Carlson e Megyn Kelly, duas das maiores responsáveis pela condenação de Roger Ailes, ex-magnata da emissora norte americana Fox News, pelo assédio sexual de dezenas de mulheres.

À Margot Robbie coube interpretar Kayla, uma personagem inventada para representar todas as funcionárias não-famosas da empresa que sofreram com os crimes do chefe de televisão. Mas Kayla é um estereótipo grotesco. E Margot fez jus ao papel que lhe foi entregue, dando vida a uma caricatura de patricinha sem massa cefálica. Aliás, várias outras personagens secundárias são retratadas dessa forma.


Mesmo ao ignorar a personagem mais jovem, o roteiro é uma confusão. O filme não se decide em quem focar e também não consegue apresentar um multiprotagonismo bem balanceado, de forma que o espectador não consegue se ancorar emocionalmente em ninguém.

Porém, o pior erro do filme é sua impessoalidade. Os fatos são apresentados com certo rigor jornalístico, como se esta fosse apenas mais uma obra de redação. A direção parece neutra diante das cenas, objetiva. O Escândalo não mergulha no drama de nenhuma de suas personagens. (Exceto em uma cena ao fim do filme, em que Kayla revela um segredo e enfim dá alguma personalidade à sua personagem. Diga-se de passagem, uma das poucas cenas boas do filme).

O lugar de um longa como este deveria ser justamente o de emocionar para convencer, o de mostrar sofrimentos reais para provar um ponto, para apelar para a humanidade da audiência. No entanto, o diretor Jay Roach (que fez carreira na comédia) focou-se tanto em criar personagens femininas fortes que tornou-as apáticas às suas próprias tragédias.



Todos esses pontos fracos do filme culminam em uma pergunta: se urgia tanto expor ao mundo uma história real tão recente por conta de sua pertinência, por que não deixar que mulheres a contassem? Acredito que nenhuma mulher sobreviveu a uma carreira em Hollywood sem uma história de assédio, mesmo as roteiristas e diretoras. Pois então, que elas tocassem o projeto. Mulheres que sofreram isso na pele jamais seriam capazes de entregar tamanha bomba como trabalho final.
Trailer

Ficha Técnica
Título Original e ano: Bombshell, 2019. Direção: Jay Roach. Roteiro: Charles Randolph. Elenco: Charlize Theron, Margot Robbie, Nicole Kidman, Kate Mckinnon, John Lithgow, Malcolm Mcdowell, Connie Britton., Allisson Janey, Mark Duplass. Gênero: Drama, Biografia. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Theodore Shapiro. Fotografia: Barry Ackroyd. Edição: Jon Poll. Figurino: Colleen Atwood. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h49min.
Nota da editora:
Na última semana, a jornalista Megyn Kelly liberou um vídeo (assista aqui) resposta em seu canal no youtube, contando com a participação das vítimas e seu marido, Doug Brunt, sobre o que sentiram com o filme. Fica a dica!

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Escrito por Luana Rosa

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