A Maldição do Espelho, Aleksandr Domogarov


Um problema grande no cinema, e que não se aplica só a ele, é a tentativa de encontrar a galinha dos ovos de ouro em forma de filme. A natureza industrial já o fez nascer dentro, e profundamente, do conflito entre as aspirações artísticas e o sucesso de público. Como filmes são muito caros de fazer, o retorno financeiro precisa ser garantido, o que acaba gerando algumas fórmulas do que se imagina que vá dar em dinheiro. O terror é um gênero muito claro em suas intenções e mecanismos, o que torna muito real o perigo de surgirem histórias e direções repetitivas.

A Maldição do Espelho é uma produção que sucumbe a tal medo caminhando então em terreno mais seguro. E este temor, ou estranheza, se mostra ao descobrirmos que esta é uma tentativa de franquia russa, pois é continuação de um filme de 2015 (Queen of Spades: Dark Rite, de Svyatoslav Podgaevskiy) com a mesma entidade maligna e com uma sinopse bastante similar também. E a tentativa de deixar as escolhas mais familiares se estende à distribuição brasileira que trouxe cópias dubladas em inglês para o país.

A adolescente Olga (Angelina Strechina) e o pequeno Artyom (Daniil Izotov) ficam órfãos depois que a mãe deles morre afogada. Mandados para um colégio interno, Artyom começa a ter visões com a mãe enquanto Olga vive seu trauma perto dos amigos desajustados e rebeldes. Depois que Artyom entra na parte interditada do casarão, Olga e os amigos vão atrás dele e descobrem o espelho com marcas macabras. Mas o nerd do grupo (Vladimir Kanuhin) estava junto a eles e para alertar dos perigos do espelho, ele conta o que eles não podem fazer: falar o nome da bruxa por três vezes e fazer um pedido. Mas é claro que todos fazem seus pedidos.


O título em português e o que se espera de terrores adolescentes já nos dão o que precisamos para apenas sentar e apreciar a obra. A Maldição do Espelho cai sobre todos que fizeram seus pedidos, um por um, e, depois de um ceticismo inicial, o grupo precisa lutar contra a própria irresponsabilidade. Nesse meio tempo, são apresentadas as origens da Rainha de Espadas, a bruxa assassina de crianças. Mas a história corre tanto entre as maldições, que não nos importamos tanto com esses personagens que estão morrendo e o espaço de tela para desenvolvimento é dividido entre o flashback bruxa desamparada e as loucuras de Artyom.

Quando tudo já está em seu devido lugar, apenas esperamos o esquema se desenrolar. E isso, neste caso específico, traz mais vantagens que prejuízos. A honestidade da película é tamanha que em certas cenas parece dizer para o público adolescente e/ou o espectador adulto para que beije a sua paquera mesmo, ou que brinque com o susto que o amigo levou. Quando entramos no terceiro ato, uma ação direta e corajosa de Olga dá um novo gás pelos próximos minutos — o que inclusive dá a deixa para o punch final do filme com cara de gancho para um terceiro. (Contudo, é breve e acaba decepcionando um pouco, pra falar a verdade.)


A Maldição do Espelho, apesar de uma continuação, funciona sozinho, ou seja, tem uma narrativa fechada em si mesma. Mas com o modelo esquemático adotado pelo filme, não tinha como ser muito diferente. Para os fãs de filmes de terror, aqueles que adoram os sustos e maldições sem torcer o nariz, este pode ser um longa interessante para ver o que a Rússia anda produzindo dentro do gênero. Quem estiver a procura de um filme para um encontro descompromissado com certeza terá assunto para quebrar o gelo durante o lanche. 
Trailer


Ficha Técnica
Ficha Técnica

Titulo original e ano: Pikovaya dama. Zazerkale, 2019. Direção: Aleksandr Domogarov Jr. Roteiro: Maria Ogneva. Elenco: Daniil Muravyov-Izotov, Angelina Strechina, Vladislav Konoplyov, Anastasia Talyzina, Alyona Shvidenkova, Vladimir Kanukhin. Gênero: Terror. Nacionalidade: Rússia. Fotografia: Aleksey Strelov. Trilha Sonora Original: Sergei Stern. Edição: Vladimir Markov. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 83 minutos. Classificação indicativa: 16 anos.

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Escrito por Marisa Arraes

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