É impressionante a capacidade que alguns filmes têm de não despertar empatia alguma. Aprendiz de Espiã é um deles. Pra começar, ninguém do elenco principal emana algum carisma. E quando por “ninguém” eu quero dizer nem mesmo uma criança de nove anos, fica claro que isto não é culpa dos atores, mas um problema da direção.
Claro que o roteiro também tem sua parcela de responsabilidade. A criação de personagens consegue ser bastante desastrosa e inconsistente. O filme se inicia com uma sequência que tende criar identificação com Sophie, vivida pela atriz mirim Chloe Coleman. Para isso, o longa-metragem a retrata como uma menina madura e sensível, sem muito tato social e desprezada pelos colegas de escola.
No entanto, essa personagem é descartada no instante em que a protagonista entra em contato com os dois espiões J.J. (Dave Bautista) e Bobbi (Kristen Schaal) no andar de cima de seu apartamento. No lugar desta, surge outra Sophie. Uma que não tem medo de ameaça alguma e é apta para ser cruel com adultos perigosos através de palavras e atos insensíveis.
Quando o tio da menina surge como um vilão frio e propenso ao assassinato, não conseguimos como público temer pela vida da pequena. Primeiro porque ela não demonstra medo até estar amarrada dentro de um avião prestes a cair de um precipício. Segundo porque, honestamente… não nos importamos com ela. Assistindo ao filme, fica claro que ela não existe. Não há um segundo de imersão em que esqueçamos deste fato e consigamos sofrer e vibrar junto a essa família.
Direção e roteiro tentam fazer com que a criança seja fofinha e engraçada, inteligente e frágil e acaba não conseguindo transmitir nada disso. Ela é a criança que chora e sai correndo quando tem uma demonstração de que J.J. não estará a seu lado ou é a que manipula e chantageia ele até quase fazê-lo chorar?
“Ah, mas é só um filme para divertir”. Pois é também o que eu esperava. Mas nem o humor funciona. É incompreensível a decisão de trazer um humorista do calibre de Ken Jeong para desperdiçá-lo em um papel sério e tão pequeno. Kristen Schaal é um problema a parte. Se a humorista não funciona nem nos contextos atrapalhados e desconfortáveis típicos da única personagem que sabe interpretar, por que tentar fazê-la performar em cenas dramáticas? O sofrimento é tão falso que não toca ninguém e o descabimento é de um tipo de ridículo que não chega a gerar comicidade.
O humor que de fato funciona é o da dupla de vizinhos Carlos e Todd (Devere Rogers e Noah Danby). É escrachado, é clichê… mas funciona. O papel que a obra inteira deveria ter. Mas assim como Jeong, eles ganham apenas pontas.
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: My Spy, 2019. Direção: Peter Segal. Roteiro: Erich Hoeber, Jon Hoeber. Elenco: Dave Bautista, Kristen Schaal, Ken Jeong, Parisa Fitz, Henley, Greg Bryk, Chloe Coleman, Nicola Correia Damude, Noah Dalton Danby, Michelle McLeod, Laura Cilevitz. Gênero: Comédia. Nacioalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Dominic Lewis. Fotografia: Larry Blanford. Edição: Jason Gourson. Distribuição: Diamond Films. Duração: 100 min.
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