O filme do diretor Andrew High lançado em 2015 cutuca as feridas até então inexistentes do casal Kate (Charlotte Rampling) e Geoffrey (Tom Courtenay). Kate está planejando uma festa para comemorar seu 45º aniversário de casamento, porém uma semana antes da celebração, Geoff recebe uma carta da Suíça, nessa carta uma notícia: O corpo de sua ex namorada, Katya, morta num acidente enquanto escalava há mais de 50 anos foi encontrado numa geleira e as autoridades acreditam que Geoff é o parente mais próximo.
O que fazer perante a essa notícia? De início eles tentam se consolar de forma realista, pois como o acidente aconteceu muitos anos atrás certamente décadas de constante felicidade conjugal fez-se esquecer esse romance de curto período. Mas conforme os dias vão passando, Geoff e Kate são assombrados de maneiras diferentes.
Geoff de forma implícita cai numa crise de reminiscências. Ele volta a fumar,
desenterra memórias e fotografias que lembram a sua ex que às vezes
chama de "minha Katya" e até cogita viajar para Suíça na intenção de
reconhecer o corpo encontrado.
Já Kate, se pergunta constantemente como ela pode ficar com ciúmes de
alguém que está morto há meio século. Isso parece completamente
irracional, e ainda assim é inegável que Katya, mesmo morta, está no meio
do relacionamento dos dois. De forma sutil ela está nos livros que Geoff não
consegue ler, na falta de filhos e fotos que o casal não tem e até na música
do primeiro encontro dos dois.
A trama não é um filme sobrenatural, mas o fantasma da ex falecida traz
consigo a implicação de uma vida totalmente diferente. O retorno de Katya
distorce e desvenda o próprio tempo que faz Kate questionar, se ela
estivesse viva, como seria sua vida? Ela estaria comemorando 45 anos de
casamento com quem? De forma bem tocante, Kate se dá conta que sua
vida casada com Geoff foi uma farsa e que muitas verdades foram omitidas
durante anos a fio.
A jornada de Kate é o principal interesse do filme, conforme as cenas
acontecem, podemos identificar as câmeras sempre enquadrando nela e
principalmente em cada olhar lançado pela atriz, trazendo uma carga
dramática inesquecível. Rampling não precisou de muitas falas para mostrar
o seu potencial de atriz veterana, pois suas expressões faciais foram
fundamentadas e suficientes para o desdobramento da trama. A indicação ao
Oscar como melhor atriz em 2016 foi merecidíssima.
Tom Courtney trabalha bem seu personagem. Em algumas cenas ele parece
um pouco vago em suas falas, mas é relevável partindo da premissa de que
todo marido em um casamento longo deve ser e então ele o faz muito bem, já que conseguimos sentir sua confusão interna entre o passado e o presente.
“45 anos” é um retrato íntimo, comovente e lindamente contido de um
casamento abalado até o âmago por coisas não ditas. Apesar de ser um
filme curto, a carga de sentimentos pode cansar um pouco quem assiste por
conta de algumas cenas pacatas e silenciosas. O crescimento da história é
feito sem pressa para absorção da narrativa por completo.
É impossível o enredo não te transportar para situações de comparação.
Quem nunca nessa vida já se sentiu inseguro em relação à outra pessoa? E
essa pessoa nem precisa estar abaixo de 7 palmos para sentir empatia
pelas dores de Kate.
Trailer
Ficha Ténica
Título original e ano: 45 Years, 2015. Direção e Roteiro: Andrew Haigh. Elenco: Charlotte Rampling, Tom Courtenay, Dolly Wells, Geraldine James, David Sibley. Gênero: Drama. Nacionalidade: Reino Unido. Fotografia: Lol Crawley. Edição: Jonathan Alberts. Design de Produção: Sarah Finley. Figurino: Suzie Harman. Distribuição: Imovision. Duração: 93 minuroa. Classificação: 12 anos.
Disponível no GLOBOPLAY e por encomenda na LOJA IMOVISION.
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