Prévio aviso aos amantes de gatinhos, cuidado com o excesso de fofura! O anime original da Netflix''Nakitai Watashi wa Neko wo Kaburu'' é um encanto para quem gosta desses felinos adoráveis. Produção japonesa de 2020 que estreou em junho passado na plataforma brasileira, o longa conta com 105 minutos de duração e é uma estória romântica e fantástica como só os japoneses sabem fazer., simbólico e com as tradições xintoístas de espíritos e os adolescentes tímidos de suas narrativas.
Mas tais clichês não tiram o encanto desta película tão romântica.
Miyo (voz de Mirai Shida) é uma adolescente espevitada e atrapalhada, apelidada de “Musa Geringonça”, e completamente apaixonada pelo sério colega de escola Hinode (voz de Natsuki Hanae), que não dá a mínima para ela. Essa indiferença de Hinode não impede Miyo de tentar conquistá-lo de todo jeito, mesmo que de maneiras completamente inapropriadas e desajeitadas, que divertem os colegas de escola. Até que ela consegue sucesso de uma maneira mágica, transformando-se no gatinho Taro, a quem seu apaixonado não resiste, afinal, ele é um amante de pets.
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Ficha Técnica
Título original e ano: Nakitai Watashi wa Neko wo Kaburu, 2020. Direção: Jun'ichi Satô; Tomotaka Shibayama. Roteiro: Mari Okada. Elenco: Mirai Shida, Natsuki Hanae, Hiroaki Ogi. Gênero: Animação/Drama/Romance. Nacionalidade: Japão. Trilha Sonora Original: Mina Kubota. Fotografia: Shinya Matsui. Direção de arte: Takamasa Masuki e Yusuke Takeda. Departamento de animação: Yumi Ikeda. Disponível na: Netflix. Duração: 1h45min. CLASSIFICAÇÃO: Livre.
No desenrolar do filme, não falta a carga dramática que os nipônicos adoram dar a seus desenhos animados, chamados animes. Os dois adolescentes têm problemas familiares, passados traumáticos, perdas afetivas e dificuldades de comunicação. Mas também não faltam momentos encantadores e engraçados, como as trapalhadas de Miyo, o relacionamento de Hinode com seu gato Taro, as aventuras dos dois na escola e na Ilha dos Gatos.
Será que os dois adolescentes vão dar o próximo passo e começar a namorar nas suas formas humanas? O mundo mágico pode ser perigoso e os espíritos, além de oferecerem ajuda, podem querer surrupiar algo valioso. E Hinode e Miyo aprendem isto da maneira mais difícil, tendo que lidar com o Vendedor de Máscaras.
O traço do desenho é muito bonito, os cenários são detalhistas e o mundo espiritual dos gatos é belíssimo. A dose romântica pode ser um pouco exagerada aos olhos brasileiros, mas a solução é embarcar no conto de amor. Os sentimentos exacerbados e a dramaticidade gritante fazem parte intrínseca aos animes e divertem pra caramba! Esse mundo mágico xintoísta é um detalhe a mais que encanta pelo seu exotismo. O roteiro, mesmo que tenha clichês em grande quantidade, conduz a narrativa de forma segura. Não revoluciona o gênero, contudo diverte e encanta na medida certa.
Assistam! Pois ter contato com outras formas narrativas é sempre refrescante. Os animes há décadas nos entretém e essa mágica estória de amor juvenil não vai decepcionar.
Esta é uma história de amor. Mas não aquele amor jovem e romântico, perfeito e lindo, como estamos acostumados a ver nos filmes. Aqui o sentimento se mostra real. E, como tal, é sofrido, duro, cruel. É aquele amor de cumplicidade que faz valer os votos e promessas matrimoniais até as últimas consequências.
Jean-Louis Trintignant é Georges e Emmanuelle Riva é Anne. Juntos viveram toda uma vida e agora desfrutam a aposentadoria em seu amplo apartamento. Aproveitam momentos simples como um café juntos, ouvir música, que é a paixão de ambos, ou frequentar concertos de música clássica. Parecem apaixonados como se ainda fossem jovens.
Música e cultura marcaram a vida deste casal e isto pode ser notado na decoração do apartamento. Livros, CDs clássicos, e quadros. Móveis de madeira denotam requinte. Em tudo há o toque de pessoas cultas e de bom gosto.
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Ficha Técnica
Título original e ano: Amour, 2012. Direção e Roteiro: Michael Haneke. Elenco: Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, Jean-Louis Trintignant, William Shimell, Alexandre Tharaud, Ramón Agirre, Rita Blanco, Carole Franck. Gênero: Drama. Nacionalidade: França, Austria e Alemanha. Edição: Nadine Muse e Monika Willi. Fotografia: Darius Khondji. Distribuição: IMOVISION. Disponível no: GLOBOPLAY. Duração: 2h07min.
Toda trama da história se passa entre as paredes dessa casa, que vai se transformando aos poucos em um ambiente lúgubre e pesado. Pequenos lapsos de memória e alguns apagões mostram que algo não vai bem com Anne. Um derrame deixa um dos lados de seu corpo paralisados. A princípio, George tem a sensação que é uma situação passageira, que Anne irá se recuperar e ele dará conta de cuidar dela. Mas os prognósticos médicos dizem o contrário.
A primeira cena do filme já nos antecipa qual será o desfecho. A triste realidade da vida. Mas ainda não temos como prever quão impactante será este final. As cenas do dia a dia são de intensa dor e tensão. A verdade nua e crua da velhice. Não há dignidade, privacidade. A total perda da autonomia e da liberdade.
George e Anne já não tinham uma relação muito amistosa com a filha Eva, papel vivido pela atriz Isabelle Rupert, e o genro. Com a chegada da doença essa relação tornou-se ainda mais conturbada. A filha quer intervir no tratamento, porém por morar longe não tem a real dimensão do problema, o quão tenso e pesado está sendo para seus pais. Parece ser difícil se colocar no lugar do outro. O sofrimento é único e intransferível.
Num dado momento George pergunta à Anne se ela faria o mesmo por ele. A resposta é fria e incisiva - você não está como eu. Michael Haneke, diretor do longa, nos insere em uma intimidade tão chocante que chega a doer.
''Dói, dói!'' - Repete aquela senhora em uma cama hospitalar, que agora dá um ar triste ao apartamento já sem vida ou cuidados. Onde dói? Continuar viva, dói!
Uma pomba insiste em entrar, como as pombas que habitam os mausoléus e museus.
Cenas duras são balanceadas pela ternura de um afago de mãos envelhecidas, um olhar amoroso.
Devemos destacar as atuações, impressionantemente reais. Maquiagem excelente, transmite a passagem do tempo e o sofrimento e cansaço marcados na pele.
Um filme impactante em vários sentidos. Prepare-se para refletir automaticamente sobre como será sua velhice. ''Estamos prontos para isso? A fragilidade e limitações que nos aguardam no ocaso da vida?'' A solidão será vista sob outra ótica.
O próprio Amor ganhará novos contornos depois deste filme.
Impressionate e cruel. um filme para ser digerido lentamente como a própria narrativa o pede.
Amor foi indicado ao Oscar de Melhor Filme e Melhor filme Estrangeiro (submetido pela Austria), em 2013, levando a estatueta nesta categoria na tão ilustre premiação. Também foi indicado para Melhor Diretor, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Original.
A dica é assista,mas quando estiver emocionalmente forte e bem!
Jia Zhang-Ke é o diretor mais conhecido da sexta geração do cinema chinês. Desperta paixões e ganha prêmios mundo afora, levando a alcunha por muitos de melhor cineasta em atividade atualmente. Independente dessas comparações de quem é o melhor ou não, sua obra singular chamou a atenção do nosso Walter Salles, de Central do Brasil, a ponto de induzi-lo a realizar o documentário 'Jia Zhang-Ke: Um Homem de Fenyang' para enaltecer o trabalho desse mestre chinês. E será que Zhang-Ke merece toda essa horda de fãs ardorosos? Sim, sua obra fala por si só.
Dito isto, um dos filmes do diretor que deve ter sua atenção é o longa 'As Montanhas Se Separam', lançado em 2015 lá fora. A película é um drama poderoso que busca abordar as transformações na China, através das mudanças na vida de alguns chineses, ligados por sentimentos de amor, mágoa, saudade e desenraizamento. Uma China que, a passos largos de desenvolvimento econômico, deturpa suas tradições e exila seus habitantes, causando dor em todos os envolvidos nessas mutações radicais. A produção teve distribuição no Brasil pela Imovision e está disponível na plataforma GLOBOPLAY (veraqui).
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Ficha Técnica
Título original e ano: Shan re gu ren, 2015. Direção e roteiro: Jia Zhang-Ke. Elenco: Tao Zhao, Jing Dong Liang, Yi Zhang, Zishan Rong. Gênero: Drama. Nacionalidade: China, França, Japão. Trilha Sonora Original: Yoshihiro Hanno. Fotografia: Nelson Lik-way Yu. Edição: Matthieu Laclau. Direção de arte: Qiang Liu. Distribuição: Imovision. Duração: 2h06min.
O filme se passa em três arcos temporais: 1999, 2014 e 2025. Em 1999, a jovem Tao (Zhao) tem que escolher entre o amor de seus dois melhores amigos: o modesto mineiro Liangzi (Dong Liang) e o ambicioso homem de negócios Zhang (Yi). Em 2014, a divorciada Tao tem que lidar com a morte de alguém próximo e se aproximar de seu filho criança Daole (Rong), que mora com o pai. Em 2025, o desenraizado Daole, agora com o nome Dollar, mora na Austrália; sem falar chinês e em plena crise existencial, afasta-se do pai e envolve-se com a professora de chinês.
Ligando estas passagens de tempo, há sequências tocantes no roteiro que se repetem, envolvendo chaves, lembrando ao expectador que há sempre uma casa onde se pode voltar. Refletem todo o desconforto de um país que passou por mudanças rápidas no século XXI, tornando os chineses estrangeiros em seu próprio país, apátridas e angustiados num mundo que não conseguem compreender. Mas há um lar e para ele se pode regressar.
As cenas que mostram cerimônias tradicionais do país são belas, mas sempre provocam a inquietude de presenciar algo que se está perdendo, paralelas a uma modernidade que salta aos olhos. Subjacente a esses fatos, a violência por trás desses acontecimentos está presente em vários pontos da estória: fogos de artifício, explosões, quedas e armas, motivos recorrentes que perpassam várias sequências. Os atores, a montagem e a fotografia são boas, mas o excepcional aqui é a narrativa.
O roteiro é muito bem elaborado. As micro tristezas por que passam essas pessoas são o reflexo das macro transformações pelas quais a China do século XXI está atravessando. E o desfecho levanta a dúvida: é possível voltar às raízes? Música do Pet Shop Boys começa e termina o filme, criando essa ilusão de um ciclo, uma serpente que morde o próprio rabo. As reflexões desse talentoso diretor revelam um cronista sensível das mudanças históricas desta China dinâmica e brutal. Ansioso pelos próximos filmes dele! Assistam!
Disponível no catálogo da menina Netflix (ver aqui), a co-produção entre Argentina e Espanha, foi exibida no Festival de Veneza, em 2016, e aclamada com o 'Golden Lion' de Melhor Ator para Oscar Martinez. Ainda naquele ano, também foi responsável por encerrar o Festival do Rio e foi o comentário em muitos outros.
A película pode até passar despercebida para alguns, mas a nossa sugestão é clara: Assista!! Isto porque é possível dizer que você sofrerá um impacto super agradável e positivo com ela e sairá indicando a todos os amigos.
Dirigida por Mariano Cohn e Gastón Duprat, esta obra, que a princípio parece simples, se revela instigante e reflexiva, ao tocar o dedo em algumas feridas que todos já sentimos em algum momento da vida. Soberba, renegar o local de onde veio, orgulho.
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Ficha Técnica
Título original e ano: El Ciudadano Ilustre, 2016. Direção: Mariano Cohn e Gastón Duprat. Roteiro: Andrés Duprat. Elenco: Oscar Martinez, Dady Brieva, Nora Navas, Andrea Frigerio, Manuel Vicente, Emma Rivera, Marcelo D'Andrea, Belén Chavanne. Gênero: Drama, Comédia. Nacionalidade: Argentina, Espanha. Trilha Sonora Original: Toni M. Mir. Fotografia: Jerónimo Carranza. Figurino: Laura Donari. Distribuição: Cineart Filmes. Duração: 01h58min.
Tudo começa com o escritor Daniel Montovani (Martinez) recebendo a premiação máxima da vida de qualquer autor - o Prêmio Nobel de Literatura. Qualquer outro se sentiria lisonjeado com a premiação. Não ele.
Daniel, em trajes simples,vai a premiação, mal cumprimenta todos na cerimônia e ao agradecer faz um discurso que choca a plateia o que evoca aquele momento de silêncio constrangedor!
Para ele, ser reconhecido é como chegar ao fim da carreira, uma verdadeira sentença de morte em sua veia criativa. Após tal júbilo só lhe restará colher os louros e aceitar que seus livros se tornaram algo que o grande público é capaz de digerir. Não há crítica ou questionamento em obras que se tornam populares. E, para ele, o papel de um bom escritor é incomodar e fazer o leitor pensar.
A partir deste dia sua vida se torna monótona e tudo que lhe resta são convites para eventos e palestras. Que são canceladas um a um. Até que chega um convite de sua cidade natal - Salas. Uma pequena província argentina de onde Daniel se despediu 40 anos atrás para nunca mais voltar. Aliás, ele conseguiu sair de Salas, porém seus personagens, não. Ademais, ele ser agora agraciado com o título de "Cidadão Ilustre", na cidade pela qual nutre rancor e desprezo, não cai muito bem mesmo.
Para ele, ser uma figura ilustre é ser uma espécie de herói, que se tira do armário, limpa-se a poeira para que se apresente em algum evento cultural, fale algumas frases famosas e, depois volta-se a guarda-la no armário.
Rever antigos amigos, amores, a vida pacata de um lugar que parece não ter evoluído com o passar dos anos causa um grande impacto em Daniel.
Viver tanto tempo na Europa fez de Daniel uma pessoa muito mais crítica, com outra visão de mundo. Assim, todo aquele culto à celebridade de forma rústica e interiorana causa um choque cultural no autor. É perceptivel ainda que conciliar as memórias do passado com a vivencia adquirida nos anos que viveu fora de Salas o causa um certo estranhamento. Mas por um lado, Daniel ainda sente, embora negue, um certo carinho saudosista dali. Contudo, ele agora é um cidadão do mundo.
"Realidade ou ficção. Que importa. A realidade não existe, mas sim interpretações. O que chamamos de verdade, nada mais é que uma interpretação que prevaleceu sobre outras!"
A fotografia é impecável em mostrar as casas simples, ruas de terra, vida de cidade pequena e habitantes humildes.
Daniel é um personagem dúbio e em muitos momentos do filme é impossível se afeiçoar a ele. Porém ele também demonstra ser sentimental e consegue conquistar nossa simpatia. Uma tarefa árdua o definir e, exatamente por isso, o personagem se torna tão interessante. E pensando bem, muitas vezes nos colocamos no lugar do escritor quando negamos nossas origens e assumimos a vida em um mundo globalizado e impessoal, com uma cultura que não nos pertence.
"A palavra cultura sai da boca das pessoas mais ignorantes, estúpidas e perigosas."
Com um desfecho impactante ''O Cidadão Ilustre'' pode confundir criador e criatura e mostra-se perfeito em sua narrativa.
O filme do diretor Andrew High lançado em 2015 cutuca as feridas até então inexistentes do casal Kate (Charlotte Rampling) e Geoffrey (Tom Courtenay). Kate está planejando uma festa para comemorar seu 45º aniversário de casamento, porém uma semana antes da celebração, Geoff recebe uma carta da Suíça, nessa carta uma notícia: O corpo de sua ex namorada, Katya, morta num acidente enquanto escalava há mais de 50 anos foi encontrado numa geleira e as autoridades acreditam que Geoff é o parente mais próximo.
O que fazer perante a essa notícia? De início eles tentam se consolar de forma realista, pois como o acidente aconteceu muitos anos atrás certamente décadas de constante felicidade conjugal fez-se esquecer esse romance de curto período. Mas conforme os dias vão passando, Geoff e Kate são assombrados de maneiras diferentes.
Geoff de forma implícita cai numa crise de reminiscências. Ele volta a fumar,
desenterra memórias e fotografias que lembram a sua ex que às vezes
chama de "minha Katya" e até cogita viajar para Suíça na intenção de
reconhecer o corpo encontrado.
Já Kate, se pergunta constantemente como ela pode ficar com ciúmes de
alguém que está morto há meio século. Isso parece completamente
irracional, e ainda assim é inegável que Katya, mesmo morta, está no meio
do relacionamento dos dois. De forma sutil ela está nos livros que Geoff não
consegue ler, na falta de filhos e fotos que o casal não tem e até na música
do primeiro encontro dos dois.
A trama não é um filme sobrenatural, mas o fantasma da ex falecida traz
consigo a implicação de uma vida totalmente diferente. O retorno de Katya
distorce e desvenda o próprio tempo que faz Kate questionar, se ela
estivesse viva, como seria sua vida? Ela estaria comemorando 45 anos de
casamento com quem? De forma bem tocante, Kate se dá conta que sua
vida casada com Geoff foi uma farsa e que muitas verdades foram omitidas
durante anos a fio.
A jornada de Kate é o principal interesse do filme, conforme as cenas
acontecem, podemos identificar as câmeras sempre enquadrando nela e
principalmente em cada olhar lançado pela atriz, trazendo uma carga
dramática inesquecível. Rampling não precisou de muitas falas para mostrar
o seu potencial de atriz veterana, pois suas expressões faciais foram
fundamentadas e suficientes para o desdobramento da trama. A indicação ao
Oscar como melhor atriz em 2016 foi merecidíssima.
Tom Courtney trabalha bem seu personagem. Em algumas cenas ele parece
um pouco vago em suas falas, mas é relevável partindo da premissa de que
todo marido em um casamento longo deve ser e então ele o faz muito bem, já que conseguimos sentir sua confusão interna entre o passado e o presente.
“45 anos” é um retrato íntimo, comovente e lindamente contido de um
casamento abalado até o âmago por coisas não ditas. Apesar de ser um
filme curto, a carga de sentimentos pode cansar um pouco quem assiste por
conta de algumas cenas pacatas e silenciosas. O crescimento da história é
feito sem pressa para absorção da narrativa por completo.
É impossível o enredo não te transportar para situações de comparação.
Quem nunca nessa vida já se sentiu inseguro em relação à outra pessoa? E
essa pessoa nem precisa estar abaixo de 7 palmos para sentir empatia
pelas dores de Kate.
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Ficha Ténica
Título original e ano: 45 Years, 2015. Direção e Roteiro: Andrew Haigh. Elenco: Charlotte Rampling, Tom Courtenay, Dolly Wells, Geraldine James, David Sibley. Gênero: Drama. Nacionalidade: Reino Unido. Fotografia: Lol Crawley. Edição: Jonathan Alberts. Design de Produção: Sarah Finley. Figurino: Suzie Harman. Distribuição: Imovision. Duração: 93 minuroa. Classificação: 12 anos.
Ao final de abril a rede de TV britânica BBC, em parceria com a plataforma estadounidense Hulu, lançaram a série 'Normal People' em seus players e não demorou sequer dois dias inteiros para a produção chegar ao topo dos trending topics de assuntos mais comentados nas redes sociais. Adaptada do livro homônimo da irlandesa Sally Rooney, obra lançada no Brasil ano passado pela editora Companhia das Letras (ver aqui), a série narra o encontro entre dois jovens irlandeses e a paixão que aflora desse encontro.
Ela é Marianne Sheridan (Daisy Edgar-Jones), a menina inteligente e solitária que vive em uma baita mansão, e ele é Connell Waldron (Paul Mescal), o rapaz tímido que joga futebol, tira boas notas e é uma baita paisagem aos olhos. Os dois estão chegando ao fim do ensino médio e se conectam exatamente quando os dilemas da vida adulta estão por vir para tirá-los de suas zonas de conforto ou darem à eles a chance de se encontrarem.
A direção do show fica por conta de Lenny Abrahamson (O Quarto de Jack e Frank) e Hettie Macdonald (Doctor Who) e o roteiro vem a três canetas, a própria Sally, que é uma das produtoras da série, e também Mark O'Rowe e Alice Birch. Trazendo à tona dramas pessoais, romance, amizade, comunicação e n outros assuntos, Normal People merece muito o seu tempo. Ah, e prepare um caixa de lencinhos, okay?!
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Ficha Técnica
Título Original e ano: Normal People, 2020. Direção: Lenny Abrahansom e Hettie Macdonald. Roteiro: Sally Rooney, Mark O'Rowe e Alice Birch. Elenco: Daisy Edgar-Jones, Paul Mescal, Desmond Eastwood, Sarah Greene, Aislín McGuckin, Frank Blake, India Mullen, Eliot Salt, Eanna Hardwicke, Sean Doyle, Fionn O'Shea, Niamh Lynch, Meadhbh Maxwell, Lean McNamara, Liz Fitzgibbon, Sebastian de Souza, Muiris Crowley, Lauryn Canny, Lancelot NCube. Gênero: Drama, Romance. Nacionalidade: Reino Unido. Fotografia: Suze Lavelle e Kate McCullough. Edição: Nathan Nugent e Stephen O'Connell. Direção de Arte: Irene O'Brien. Design de Produção: Lucy van Lonkhuyzen. Figurino: Lorna Marie Mugan. Cabelo e Maquiagem: Sonia Dolan, Sharon Doyle e Emma Moffat. Trilha Sorona: Stephen Rennicks. Produção: Element Pictures. Duração: 12 Episódios/30min. Streaming: BBC (Reino Unido), HULU (Estados Unidos), STARZPLAY (América Latina).
Este texto pode conter spoilers
As séries britânicas são conhecidas por serem curtas e não entregam tantos episódios, assim, Normal People (que em tradução literal significa 'Pessoas Normais') não se distancia muito dessa realidade e vem bem editadinha nos seus 12 episódios com duração de 30 minutinhos pelas mãos da dupla Nathan Nugent e Stephen O'Connell. Há uma clara mudança de tom pelo andar da produção e isso faz toda a diferença. Ela se inicia com a introdução da vida escolar dos protagonistas em seus últimos meses de 'ensino médio', digamos assim. Essa fase dura por três capitulos e dali seguimos para a vida nova já na faculdade e em outra cidade. Afinal, eles saem do interior de Dublin para a capital e assistimos gradualmente o crescimento de cada um deles na tela e também o enfrentamento de questões como depressão, ataques do pânico, traumas de infância, bullying, relações amorosas, e etc. Aliás, as situações postas ali fazem com que o público se identifique e sofra junto com esse casal tão complicado e apaixonante.
Vivida pela inglesa Daisy Edgar-Jones com muita delicadeza e solidez, Marianne é espevitada, sagaz e revida todo controle possível sobre sua vida, até mesmo o advindo de seus professores. E é assistindo isto de longe que Connell, papel do estreante Paul Mescal, fica encantado pela moça e tendo a chance de frequentar a casa dela, pois a mãe dele, vivida pela excelente Sarah Greene, é diarista por lá, inicia um tipo de amizade com a garota. Marianne não tem amigos. Inclusive, sofre bullying do grupo que anda com Connell e também das garotas que querem namorá-lo. Outro adendo as diferenças entre os dois é que se o rapaz tem uma boa relação com a mãe e estes levam uma vida simples, Marianne é o total oposto. Sua mãe, Denise, papel de Aislín McGuckin, tem uma postura fria e conservadora e fecha os olhos para as atitudes grotescas do filho Alan, performance forte do ator Frank Blake.
Mas a principio é a relação entre os dois jovens que ganha espaço na série e é Marianne quem dá o primeiro passo. Um dia, após a aula, ela diz na lata que está afim dele e o desconcerta. Isto porque o garoto teme que seu grupo de amigos não entenda a relação muito bem e, apesar de começar a ter sentimentos por ela, quer manter tudo no sigilo. Ela concorda e é, aliás, a mesma quem dá a idéia.
Por certo tempo, tudo vai razoalvemente bem e até conversas sobre o futuro começam a rolar. Ela sugere à ele que tente 'Letras' na Trinity College, em Dublin, já que ele não se vê estudando para ser advogado e ela está confiante que irá para Dublin estudar Ciências Políticas. A relação do dois, porém, sofre um abalo cismico já que o baile de formatura vai se aproximando e o fim das aulas também, o que não parece mudar é a vontade de Connell de permanecer vendo a garota em segredo, mesmo após uma noitada na balada onde percebe o mulherão que ela é.
O desabrochar de Marianne na balada
Claro, alguém sai ferido desse primeiro contato e quando eles voltam a se encontrar novamente estão em outro universo: o da faculdade. Ali, o jogo vira. É Marianne quem parece se dar melhor e ser mais sociável. Até namorado popular ela tem, mas fica baqueada ao reencontrar Connell e é ao tentarem se perdoar pelo passado que começam a construir um futuro. Se permitem ficar juntos de novo, tentam ser amigos, mas há ainda muito a se resolver. Ela com os traumas familiares e ele com a falta de equilíbrio para tomar decisões e criar uma voz para si mesmo, além das questões sociais que envolvem dinheiro e status.
Quando o arco dela caminha para entendermos as violências que ela se deixa sofrer - namorados e familiares abusivos - o de Connell desvia para a terapia. Isto se deve pela pouca confiança que o rapaz encontra nessa fase de transição, pelo pouco tato em se deixar ter intimidade em público com a amada e ainda pela perda brusca de amigos queridos que o fazem perceber estar deprimido. Ao desenrolar do tempo, fica evidente que mesmo que ambos estejam em outros casos amorosos, eles precisam do laço que se formou entre eles e, estando longe ou perto, é essa relação de amizade que os conforta em momentos difíceis e que sempre os deixarão unidos.
Sarah Greene e Desmond Eastwood entregam performances distintas e espetaculares
Normal People foi filmada ano passado e chegou para nós em um momento de dificuldade extrema. Ainda assim, a série tem o poder de nos fazer sentir inúmeras emoções e acalentar nossos corações. Rooney escreveu um roteiro mais afiado que seu próprio livro. Um que com a ajuda de Birch e O'Rowe é um excelente texto adaptado. Sendo parecido ao original, mas diria que é até melhor. Na direção, Lenny e Hettie são cruciais para o bom desenvolvimento visual da série. Ele já trouxe aos cinemas filmes incríveis como o indie Frank, estrelado por Michael Fassbender, e o indicado ao Oscar 'O Quarto de Jack'. Ela vem de experiências na direção de séries, uma delas a fantástica Doctor Who. Juntos os diretores no trouxeram frescor e cenas muito bem coordenadas. Desde as mais simples até as que o casal protagonista está fazendo sexo - tudo orientado por uma coach especialista no assunto. Uma característica que logo se percebe na direção é como ela nos leva a ver o mundo dos dois usando os enquadramentos e imagens estabilizadas. Vemos muitas das cenas onde Connell e Marianne estão andando e a câmera foca no que eles estão olhando o que nos proporciona conhecer o mundo deles mais de perto. Há takes íntimos de inúmeras formas e o auxilio nos deixa ir fundo nas almas desses dois irlandeses tão intrigantes.
E sim, que performances incríveis Daisy e Paul nos presentearam. Ela tem cerca de seis produções em sua filmografia. Chegou a trabalhar na série 'War of The Worlds' (FOX, 2019) e tem um semblante parecido com o de Anne Hathaway. Ele era ator de teatro quando conseguiu o papel e deve muito em breve estar ligado a diversos trabalhos pela brilhante atuação aqui. Outros atores que dão show em seus papéis são Sarah Greene, que faz a mãe consciente e justiceira de Connell, Desmond Eastwood, que interpreta o amigo de quarto de Connell na faculdade, Fionn O'Shea, que vive um dos namorados pedantes de Marianne e pode ser visto no filme LGBTQ 'Dating Amber', temos também Sebastian de Souza que está em ''The Great'' e aqui interpreta o namorado com ego bem inflado e ainda Frank Blake que faz um dos piores irmãos da face da terra em cena.
Normal People nos traz um ar requintado dos filmes 'indies' com uma fotografia fenomenal e que se destaca do inicio ao fim por tons que seguem a dramaturgia e o que ela quer dizer - cores esverdeadas, cores quentes, cores neutras. Se no livro, o tempo é contado de uma forma diferente, na série cabelo e maquiagem conseguem nos convencer da idade que os personagens tem e não podemos reclamar nada dos atores escolhidos. O palco dos eventos se passam em Dublin, Itália e também Suécia e esse giro faz bem ao crescimento de Marianne e Connell. Outro ponto super positivo é a trilha sonora (escute aqui) e, claro, a lista de canções (escute aqui e aqui) que soa em cada episódio (algumas vão ficar nos seus ouvidos por dias). Realmente, a produtora teve um cuidado enoooorme em cada detalhe e fica impossível não cair de amores pela série (repare que rola até uma certa homenagem aos brasileiros que vivem na Irlanda, pois ao fundo de uma das cenas na Trinity College, ouve-se alguém falar português).
O fim da série é daqueles de te deixar esmagada no chão por meses, mas não deixa de ser perfeito e real. Algo que uma produção desse nível sabe entregar muito bem.
É impossível não se emocionar com essa série e querer comentar até com o vizinho da sua tia no zoom. Então, corra para maratonar e coloque o papo virtual em dia.