Jia Zhang-Ke é o diretor mais conhecido da sexta geração do cinema chinês. Desperta paixões e ganha prêmios mundo afora, levando a alcunha por muitos de melhor cineasta em atividade atualmente. Independente dessas comparações de quem é o melhor ou não, sua obra singular chamou a atenção do nosso Walter Salles, de Central do Brasil, a ponto de induzi-lo a realizar o documentário 'Jia Zhang-Ke: Um Homem de Fenyang' para enaltecer o trabalho desse mestre chinês. E será que Zhang-Ke merece toda essa horda de fãs ardorosos? Sim, sua obra fala por si só.
Dito isto, um dos filmes do diretor que deve ter sua atenção é o longa 'As Montanhas Se Separam', lançado em 2015 lá fora. A película é um drama poderoso que busca abordar as transformações na China, através das mudanças na vida de alguns chineses, ligados por sentimentos de amor, mágoa, saudade e desenraizamento. Uma China que, a passos largos de desenvolvimento econômico, deturpa suas tradições e exila seus habitantes, causando dor em todos os envolvidos nessas mutações radicais. A produção teve distribuição no Brasil pela Imovision e está disponível na plataforma GLOBOPLAY (ver aqui).
Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: Shan re gu ren, 2015. Direção e roteiro: Jia Zhang-Ke. Elenco: Tao Zhao, Jing Dong Liang, Yi Zhang, Zishan Rong. Gênero: Drama. Nacionalidade: China, França, Japão. Trilha Sonora Original: Yoshihiro Hanno. Fotografia: Nelson Lik-way Yu. Edição: Matthieu Laclau. Direção de arte: Qiang Liu. Distribuição: Imovision. Duração: 2h06min.
O filme se passa em três arcos temporais: 1999, 2014 e 2025. Em 1999, a jovem Tao (Zhao) tem que escolher entre o amor de seus dois melhores amigos: o modesto mineiro Liangzi (Dong Liang) e o ambicioso homem de negócios Zhang (Yi). Em 2014, a divorciada Tao tem que lidar com a morte de alguém próximo e se aproximar de seu filho criança Daole (Rong), que mora com o pai. Em 2025, o desenraizado Daole, agora com o nome Dollar, mora na Austrália; sem falar chinês e em plena crise existencial, afasta-se do pai e envolve-se com a professora de chinês.
Ligando estas passagens de tempo, há sequências tocantes no roteiro que se repetem, envolvendo chaves, lembrando ao expectador que há sempre uma casa onde se pode voltar. Refletem todo o desconforto de um país que passou por mudanças rápidas no século XXI, tornando os chineses estrangeiros em seu próprio país, apátridas e angustiados num mundo que não conseguem compreender. Mas há um lar e para ele se pode regressar.
As cenas que mostram cerimônias tradicionais do país são belas, mas sempre provocam a inquietude de presenciar algo que se está perdendo, paralelas a uma modernidade que salta aos olhos. Subjacente a esses fatos, a violência por trás desses acontecimentos está presente em vários pontos da estória: fogos de artifício, explosões, quedas e armas, motivos recorrentes que perpassam várias sequências. Os atores, a montagem e a fotografia são boas, mas o excepcional aqui é a narrativa.
O roteiro é muito bem elaborado. As micro tristezas por que passam essas pessoas são o reflexo das macro transformações pelas quais a China do século XXI está atravessando. E o desfecho levanta a dúvida: é possível voltar às raízes? Música do Pet Shop Boys começa e termina o filme, criando essa ilusão de um ciclo, uma serpente que morde o próprio rabo. As reflexões desse talentoso diretor revelam um cronista sensível das mudanças históricas desta China dinâmica e brutal. Ansioso pelos próximos filmes dele! Assistam!
Nota: 4/5.
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