O documentário ''17 Quadras'' revela gravações caseiras que acompanham o dia a dia da família Sanford, um núcleo de origem afro mais carente que enfrenta um desafio enorme: a luta contra a violência doméstica gerada pelo vício. O título remete à distância entre a casa da família e o Capitólio. Tanto fisicamente como as percepções de realidade do estilo de vida.

As cenas da vida real foram gravadas por duas décadas e tem palco nas comunidades pobres estado-unidenses a sudeste de Washington, acontecidos não tão distantes do que vemos nas periferias brasileiras, aliás. Este recorte impactante é com certeza importante quando falamos do contexto das vidas negras terem valia e também direciona nosso olhar para as crueldades que a desigualdade socioeconômica inflige nesta classe.

Anos e anos de gravação, iniciado em 1999, fazem com que nossos olhos percebam as mudanças físicas e também do espaço em que os Sanford residiam, ademais, as conexões ganham destaque quando sofrem alterações e talvez até por sua perda. A edição acaba por registrar quatro gerações da família e a sequência cria um roteiro com sentido e justificativa que se exibe de forma crítica e bem encaixada.

Ficha Técnica

Título original e ano: 17 Blocks, 2019. Direção: Davy Rothbart. Roteiro: Davi Rothbart e Jennifer Tiexeira. Elenco: Emmanuel Durand Jr., Akil Smurf, Denise, Cheryl Sanford, Justin Sanford, Denise Sanford-Durant. Gênero: Documentário. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Nich Urata. Fotografia: Zachary Shields. Edição: Jennifer Tiexeira. Produzido por: Rachel Dengiz e Jennifer Teixeira. Duração: 01h36min.

Temos então os irmãos Emmanuel Durand Jr. e também Akil 'Smurf', o primogênito. A dupla gosta de jogar basket, mas belo dia o pequeno Emmanuel recebe uma câmera e se propõe a filmar a intimidade da família. Não demora muito e todos estão envolvidos nas filmagens e quase mil horas de gravação são produzidas para depois de bastante tempo ganhar finalização e cortes certeiros sobre toda a vida desta família.

A mãe Cheryl nos contempla com um relato emotivo, pois vai visitar a casa onde passou sua infância e juventude e mesmo que tenha tido um nível melhor de vida ali, suas escolhas e o mundo violento que começou a fazer parte alteraram drasticamente seu futuro. Há também um funeral em cenas sequentes e a cronologia dos ocorridos vão se dando aos poucos para que então saibamos quem veio a falecer e a causa. Cheryl é a personagem que se joga nas drogas como um escape de uma vida difícil e triste, sem ao menos pensar como a escolha não entrega aos filhos um bom modelo. Assim, vemos que Smurf abandonou os estudos, se juntou a más companhias e segue as mesmas escolhas da mãe. O irmão Emmanuel, que detêm características diferentes de personalidade e vê o que ocorre a família como algo ruim, escolher estudar, se formar, entra para uma profissão nobre como a de bombeiro e constrói suas próprias familia.

Aliás, Emmanuel tem maior protagonismo na história e é tido como aquele que poderá quebrar o ciclo vicioso ao qual seu clã parece estar destinado e vai de contra a regra que diz que os erros dos pais se repetem nos filhos, mas ainda assim é complicado dizer a dor e as tragédias pessoais não o dará justificativas para seguir o mesmo caminho.

Cenas fortes que as crianças não deveriam presenciar deixarão seu coração apertado, porém, sem tentar culpar ou julgar os personagens, o filme traz uma boa dose de respeito e os sentimentos que vemos contornar os personagens torna a história mais sensível pedindo mais aceitação e até perdão. O que faz o ser humano lidar com seu passado, presente e futuro com

Avaliação: Três abraços fortes (3/5).

mostrasp

domingo, 18 de outubro de 2020

17 Quadras | 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário