sábado, 31 de outubro de 2020

Entre Mortes | 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


Davud é um jovem que cuida da mãe doente e que, ao sair com a namorada para comprar maconha, mata um homem que xingou sua companheira de vadia. Na fuga desta seita que vende erva, tem um Doutor e que quer sua morte, o rapaz faz uma viagem por um Azerbaijão muçulmano, onde lhe acontecem várias aventuras e acaba presenciando várias mortes.

O país acaba sendo mostrado como um reduto machista e opressor das mulheres, onde os homens se arvoram como donos das vidas de suas esposas, irmãs e mães. É um ambiente bem patriarcal e tradicionalista.


Ficha Técnica
Título original e ano: Sepelenmis Ölümler Arasinda, 2020. Direção: Hilal Baydarov.  Roteiro: Hilal Baydarov e Rashad SafarElenco: Orkhan Iskandarli, Rana Asgarova, Huseyn Nasirov, Samir Abbasov, Kamran Huseynov, Maryam Naghiyeva, Kubra Shukurova. Gênero: Drama. Nacionalidade: México, Azerbaijão, EUA. Trilha Sonora Original: Kanan Rustamli. FotografiaElshan Abbasov. Edição: Hilal Baydarov. Produzido por: Pluto Films. Duração: 88 min.
O roteiro é muito confuso. O subtexto místico com seitas, Doutor, escolhidos é ridículo e até mesmo risível. As mortes encenadas são terríveis de tão mal feitas. O filme não demonstra qual o seu propósito, sendo uma salada de road movie, love story, gangues, assassinato, não conseguindo juntar estas tramas a contento.

Os atores são tenebrosos. Parece que nada no filme funciona. Tecnicamente, a película deixa muito a desejar. Nem todo cineasta consegue ser transcendente, místico, filosófico e interessante. Infelizmente, esse é o caso do diretor Hilal Baydarov. Uma hora e meia de um filme que não acrescenta nada ao espectador. A única vantagem é que para muitos este pode ser o primeiro filme do Azerbaijão (co-produzido com os Estados Unidos e o México) que estarão assistindo na vida. Pena que o resultado do um filme foi tão ruim. 

Nota: 2/10.

Sessão Perspectiva Internacional

SERVIÇO

Assista online todos os filmes a Mostra na plataforma ou também nos sites do SESC SP e SPCINEPLAY.

Ingressos a R$6,00

Exibições DRIVE IN

BELAS ARTES DRIVE-IN |Memorial da América Latina – Entrada pela Rua Tagipuru s/no. – Portão 2. Valores de Ingresso: R$60,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 100 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação. Valores de Ingresso: R$65,00 para carro com até 4 pessoas

CINESESC DRIVE-IN | Sesc Parque Dom Pedro II Unidade Sesc Parque Dom Pedro II – Praça São Vito s/n | Centro Valores de Ingresso: R$40,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 30 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação.

Site e Redes Sociais da Mostra SP:

www.mostra.org
Instagram@mostrasp
Twitter@mostrasp
Facebookhttps://www.facebook.com/mostrasp/
Youtube: https://www.youtube.com/user/mostrasp

Walden | 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


Em uma Lituânia em processo de ruptura com o comunismo, a jovem estudante secundarista Jana (InaMarija Bartaité) conhece Paulius, um típico badboy que, vindo de uma família quebrada, atua como cambista para se manter e até alcançar certa elevação social. Desde o primeiro momento, o filme evidencia que o governo vigente não é nada tolerante com a prática, o que desperta ainda mais dúvidas quanto ao porquê de uma personagem que é apresentada como certinha e boa aluna se envolver com um jovem marginal. O questionamento persiste, já que a obra não se debruça sobre os sentimentos da protagonista. De repente, Jana está trocando rublos para gringos em hotéis junto a seu novo namorado.

O longa mescla cenas do casal supostamente apaixonado a trechos de Jana décadas depois. De volta a sua cidade natal depois de uma vida em Paris, a mulher tenta encontrar os rastros de seu antigo relacionamento. Há uma certa obsessão em rever um lago em que os dois visitaram juntos e ela fala, tanto com culpa quanto com nostalgia, sobre procurar Paulius ou Lukas, seu amigo em comum. E essa nostalgia de uma juventude perdida é o que o filme tem de mais interessante. No entanto, a oportunidade de explorar o sentimento é desperdiçada com uma filmagem apática. E a dupla de adolescentes, que já tinha pouco carisma, dão lugar a uma linha temporal contemporânea com ainda menos encanto.


Ficha Técnica
Título original e ano: Walden, 2020. Direção:Bojena Horachova. Roteiro: Bojena Horachova, Marc Cholodenko e Julien Theves. Elenco: Ina Marija Bartaite, Laurynas Jurgelis, Fabienne Babe, Andrzej Chyra, Mantas Janciauskas, Nele Savicenko, Povilas Budrys. Gênero: . Nacionalidade: França, Lituânia. Trilha Sonora Original: Benjamim Esdraffo. Fotografia: Eitvydas Doskus, Agnès Godard. Edição: François Quiqueré, Anne Benhaïem.  Produzido por: Sedna Films. Duração: 85min.
Outro fator interessante, mas que não chega a ser explorado de fato é o pano de fundo político. Os personagens constantemente falam sobre um novo país que está surgindo, mesmo que o espectador presencie que o desejo da migração ainda é visto como o caminho a ser trilhado. Paulius tem críticas fortes ao regime em vigor e à elite nacional. E vê-se uma polícia em ação que é no mínimo hábil. Porém todas essas são questões jogadas no ar. Walden é uma promessa não concretizada.

SERVIÇO

Assista online todos os filmes a Mostra na plataforma ou também nos sites do SESC SP e SPCINEPLAY.

Ingressos a R$6,00

Exibições DRIVE IN

BELAS ARTES DRIVE-IN |Memorial da América Latina – Entrada pela Rua Tagipuru s/no. – Portão 2. Valores de Ingresso: R$60,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 100 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação. Valores de Ingresso: R$65,00 para carro com até 4 pessoas

CINESESC DRIVE-IN | Sesc Parque Dom Pedro II Unidade Sesc Parque Dom Pedro II – Praça São Vito s/n | Centro Valores de Ingresso: R$40,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 30 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação.

Site e Redes Sociais da Mostra SP:

www.mostra.org
Instagram@mostrasp
Twitter@mostrasp
Facebookhttps://www.facebook.com/mostrasp/
Youtube: https://www.youtube.com/user/mostrasp

Malmkrog | 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Malmkrogfilme co-produzido entre Romênia, Suécia, Servia, Macedônia do Norte e Bósnia-Herzegovina. e se dá em quase três horas e meia de duração e é uma extensa peça filosófica. Ambientada numa mansão de campo, por volta de 1879, reúne aristocratas russos em longas conversas sobre o cristianismo, a guerra, a Europa, a civilização, o papel da Rússia e a Bíblia. São três damas e dois cavalheiros falastrões que, em palestras densas e cheias de ideias, expõem os preconceitos e diatribres de uma classe que logo seria morta ou exilada com a revolução comunista de 1917. Para complementar o cenário, há um general moribundo na casa e toda uma tropa de serviçais, cuja função é servir os aristocratas nas refeições e nos seus mínimos caprichos.

Esta película tem um roteiro baseado em livro de Vladimir Solovyov, filósofo russo do século XIX que foi uma das inspirações para os personagens de Os Irmãos Karamazov, de Dostoiévski. Inclusive, eles eram amigos íntimos. Daí se vê a complexidade e estofo intelectual deste filme, os diálogos são brilhantes e os argumentos intelectuais trocados entre os palestrantes são fascinantes.


Ficha Técnica
Título original e ano: Malmkrog, 2020. Direção e roteiro: Cristi Piui - adaptação do livro de Vladimir Solovyov. Elenco: Frédéric Schulz, Richard, Agathe Bosch, Diana Sakalauskaité, Marina Palii, Ugo Broussot, István Téglás. Gênero: Drama histórico. Nacionalidade: Romênia, Suécia, Servia, Macedônia do Norte, Bósnia-Herzegovina. Fotografia: Tudor Panduru. Edição: Dragus Apretri, Andrei Iancu e Bogdan Zarnoianu. Figurino: Oana Paunescu. Produzido por: Mandragora, Iadasarecasa. Duração: 03h21min.
Mas três horas e meia de diálogos densos acaba por tornar a experiência aqui muito cansativa. E nesse ponto, o diretor Cristi Puiu não dá refresco ao espectador. Os atores interpretam um debate acalorado, com muita ironia e gracejos, e as teses defendidas entre eles são complexas e representam discussões que realmente aconteciam entre os russos no final do século XIX. A Europa tem um papel civilizatório no mundo e pode colonizar o restante dos continentes? A guerra é moralmente justificável? O cristianismo desempenha algum papel relevante na sociedade? Qual é o papel da Rússia nesse universo de conflitos? Teses defendidas com paixão entre os debatedores e que findam numa explosão de violência.

A grande ironia, retratada muito bem no desenrolar da estória, é que quem faz essa dinâmica funcionar não são os aristocratas arrogantes, mas os serviçais que, nos seus afazeres domésticos e vulgares, servem as refeições, preparam os chás e bebidas, satisfazem todos os desejos dos ricaços e acodem o moribundo general nos seus momentos de dor. Mesmo assim, os trabalhadores também replicam os vícios da época, com autoritarismo entre eles, violência em alguns casos e um rigor excessivo no desejo de perfeição.

Cristi Puiu, é excelente diretor, e um dos principais representantes do movimento New Wave Romeno, tendência cinematográfica que tem que ser acompanhada de perto, pois está gerando grandes filmes. Malkrog é para se ver e rever assim apreendendo seus conceitos com mais clareza, já que a maneira como fora filmado criou cansaço e alguns argumentos se perderam no caminho. Os diálogos profundos demandam muita atenção. Como cinema, poderia divertir mais...

Nota: 6/10.

SERVIÇO
Exibições DRIVE IN

BELAS ARTES DRIVE-IN |Memorial da América Latina – Entrada pela Rua Tagipuru s/no. – Portão 2. Valores de Ingresso: R$60,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 100 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação. Valores de Ingresso: R$65,00 para carro com até 4 pessoas

CINESESC DRIVE-IN | Sesc Parque Dom Pedro II Unidade Sesc Parque Dom Pedro II – Praça São Vito s/n | Centro Valores de Ingresso: R$40,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 30 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação.

Site e Redes Sociais da Mostra SP:

www.mostra.org
Instagram@mostrasp
Twitter@mostrasp
Facebookhttps://www.facebook.com/mostrasp/
Youtube: https://www.youtube.com/user/mostrasp

Nadando Até o Mar se Tornar Azul | 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


Em Nadando Até o Mar se Tornar Azul, Jia Zhangke traça um panorama socioemocional das últimas décadas da China através de entrevistas com escritores locais, sobretudo poetas. Apesar da seriedade de falar sobre as mudanças políticas e sociais de todo uma nação, a proposta de Jia se desenvolve de forma despretensiosa. Os escritores falam sobre suas infâncias, suas famílias e seus anos de formação. Se isso forma um perfil do país, é apenas consequência de um bom roteiro, direção e edição.

Entretanto, por mais competente que seja a condução do projeto, este esbarra em algumas barreiras. Uma delas é a questão nacional. O filme pode servir a nós brasileiros como um passo em direção a esse mundo. Mas há coisas que a grande maioria de nós não conseguirá identificar conforme os autores citam com a maior naturalidade. Outro empecilho é estar o longa a mercê dos entrevistados. Por mais que sejam pessoas interessantes com falas bem editadas, fica nítido que foram elas próprias que escolherem o que iriam relatar. E alguns relatos não são cativantes. Simples assim.


Ficha Técnica
Título original e ano: Yi  zhi  you dao  hai shui bian lan, 2020. Direção: Jia Zhang Ke. Roteiro: Jia Zhang Ke e Jiahuan Wan. Entrevistados: Pingwa Jia, Yu Hua, Liang Hong, Huifang Duan. Gênero: Documentário. Nacionalidade: China. Fotografia: Nelson Lik-wai Yu. Ediçãokomg Jing-Lei. Produzido por: Tao Zhao. Duração: 01h52min.   Kong Jing-Lei
Contudo, o todo é agradável. A exposição da revolução cultural e da separação da população entre urbana e rural através de cinco gerações diferentes nas falas das personagens nos lembram da forma mais humana possível que qualquer regime político há de afetar cada um de seus cidadãos de formas que muitas vezes não são previstas ou planejadas. E que a construção de um país vai muito além de seu governo.

A proposta escolhida pelo diretor cai fácil na armadilha do documentário estilo “cabeças falantes”. Em alguns pontos Jia consegue contornar a vulgaridade desta convenção com bons enquadramentos nas entrevistas e sequências de imagens cotidianas que justamente retratam as faces urbana e rural da China. Mas fica difícil fugir disso durante as quase duas horas de longa e a monotonia de tal composição acaba comprometendo um ritmo mais aprazível.

SERVIÇO

Assista online todos os filmes a Mostra na plataforma ou também nos sites do SESC SP e SPCINEPLAY.

Ingressos a R$6,00

Exibições DRIVE IN

BELAS ARTES DRIVE-IN |Memorial da América Latina – Entrada pela Rua Tagipuru s/no. – Portão 2. Valores de Ingresso: R$60,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 100 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação. Valores de Ingresso: R$65,00 para carro com até 4 pessoas

CINESESC DRIVE-IN | Sesc Parque Dom Pedro II Unidade Sesc Parque Dom Pedro II – Praça São Vito s/n | Centro Valores de Ingresso: R$40,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 30 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação.

Site e Redes Sociais da Mostra SP:

www.mostra.org
Instagram@mostrasp
Twitter@mostrasp
Facebookhttps://www.facebook.com/mostrasp/
Youtube: https://www.youtube.com/user/mostrasp

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

O Nariz ou A Conspiração dos Dissidentes | 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


Dmitri Shostakovitch foi um importante compositor russo do século XX. Nascido em 1906 e falecido em 1975, ele atravessou várias fases da história soviética, inclusive o período stalinista. Dentre suas obras, temos a ópera O Nariz, cujo enredo foi retirado do conto do escritor russo Nikolai Gogol. Essa ópera e seu criador foram perseguidos por Stalin e seu conhecido ódio aos dissidentes, aos quais acusava dos mais variados crimes. O crime de Shostakovitch veio a ser considerado formalista em 1929.

Essa animação russa divide-se em duas partes. Na primeira, O Nariz, encena a ópera de mesmo nome, de teor cômico, que mostra as desventuras de um russo que perde tal parte do corpo humano e nas suas procuras por ele, encontra-o como um Ministro de Estado, muito importante e influente. Este conto de Gogol figura em várias listas de melhores contos de todos os tempos por causa de sua verve satírica e inventividade, que destrói e ridiculariza toda a sociedade russa do século XIX. A segunda parte da animação, que é A Conspiração dos Dissidentes, mostra, com muito humor negro, a perseguição do ditador Stalin aos intelectuais dissidentes, com estatísticas de fuzilamentos, torturas e exílios em campos de concentração na Sibéria. Ali só há sofrimento e dor!


Ficha Técnica

Título original e ano: Nos ili zagovor netakikh, 2020. Direção: Andrey Khrzhanovskiy. Roteiro: Andrey Khrzhanovskiy eYuriy Arabov - baseado no conto de Nikolai Gogol. Gênero: Animação. Nacionalidade: Russia. Trilha Sonora Original: Dmitri Shostakovitch. Edição: Taissia Krugovykh. Departamento de Som: Artem Fadeyev. Design de Produção: Marina Azizyan. Duração: 80min.

A animação, para adultos, é altamente inventiva e cola numa tapeçaria gigante vários estilos de traçados, com diversas homenagens a filmes, pinturas e outros desenhos russos, apresentando até mesmo cenas retiradas de peliculas daquele país ou de personagens reais, entre fotos e arquivos. É uma quantidade de informações gigantesca e, nessa hora, o espectador fica um pouco perdido, pois algumas referências ele conseguirá captar, outras é bem possível que não. Este desenho animado até disperta a sessão do aclamado Bacurau, de Kleber Mendonça, para quem não é brasileiro. Afinal, fica difícil entender as várias referências que o filme faz à cultura brasileira, como o ciclo do cangaço, as pornochanchadas, o cinema marginal, etc. Em estilo similar, esta animação poderia ser muito mais rica e compreensível se todos entendessem mais da cultura russa. As menções a Gogol, Eisenstein, Babel, Chagall, são mais brandas de se captar. Mas e as que não se consegue descobrir?

Resultado estético belíssimo, linda trilha sonora da ópera de um gênio russo da música clássica, mas  vale dizer que a animação, cujo roteiro e referências não se consegue compreender na totalidade, passa a sensação de que o público deve ter mais conhecimento de mundo. 

Nota: 7/10.

O filme fará parte da ''Competição Novos Diretores'' na Mostra SP.

SERVIÇO
Exibições DRIVE IN

BELAS ARTES DRIVE-IN |Memorial da América Latina – Entrada pela Rua Tagipuru s/no. – Portão 2. Valores de Ingresso: R$60,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 100 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação. Valores de Ingresso: R$65,00 para carro com até 4 pessoas

CINESESC DRIVE-IN | Sesc Parque Dom Pedro II Unidade Sesc Parque Dom Pedro II – Praça São Vito s/n | Centro Valores de Ingresso: R$40,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 30 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação.

Site e Redes Sociais da Mostra SP:

www.mostra.org
Instagram@mostrasp
Twitter@mostrasp
Facebookhttps://www.facebook.com/mostrasp/
Youtube: https://www.youtube.com/user/mostrasp

Em Meus Sonhos | 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


O que será de um filhote sem sua mãe? Esta é a pergunta que o filme tenta responder de maneira infantil. Tarik perdeu ambos os pais e sua memória em um acidente de carro. Agora, deve morar em uma aldeia tradicional da Turquia com seus avós. Sua dificuldade de adaptação é mostrada de forma breve conforme ele briga com outras crianças da aldeia e com o contraste de seus hábitos e horários. Enquanto seus avós acordam com o nascer do sol, Tarik dorme manhã adentro e ouve da avó ao acordar: “Enquanto dorme, o diabo cospe em seu rosto”. 

A partir daí, a nova vida do menino é narrada de maneira episódica, com destaque para momentos na companhia de um burrinho que também perdeu os pais devido a um acidente de carro (sim, esta é a falta de sutileza nas analogias) e do maluco local, que parece ter perdido a sanidade junto com a esposa, falecida. Algumas das cenas se assemelham a esquetes e não parecem ter qualquer relação com o foco do filme, como o trecho em que alguns homens da aldeia seguem um companheiro até umas dunas para rezar para que chova. Nestas, também é difícil decifrar se a intenção é cômica ou dramática. 


Ficha Técnica
Título original e ano: Bir Düs Gördüm, 2020. Direção e roteiro: Murat Çeri. Elenco: Harun Reha Pakoglu, Recep Çavdar, Nevzat Yilmaz, Ferda İşil, Ismail Hakkı Ürün. Gênero: Family. Nacionalidade: Turquia. Duração: 90min.
A direção de arte tem um conceito interessante, mas ao invés de infiltrar-se de maneira sutil na trama, grita sua substância em todas as cenas, forçando a audiência a enxergá-la antes de qualquer outra coisa, já que as roupas urbanas do menino (praticamente um uniforme) destoam de todos os outros personagens e a dicotomia estética entre os sonhos e a realidade é óbvia a ponto de não deixar em pé qualquer subjetividade. 

Por vezes, quando trata-se de uma língua muito estranha aos ouvidos, como a turca é para a maioria de nós, torna-se difícil dizer o que é uma má atuação e o que é apenas a estranheza de ouvir algo que destoa de tudo que estamos acostumados. No longa Em Meus Sonhos, fica fácil distinguir, pois a sofrível direção de elenco não se apresenta só nas falas, mas no trabalho corporal e nas máscaras de tristeza, alegria (e loucura) que os atores vestem. Seria compreensível se isso afetasse apenas o elenco mirim coadjuvante, mas nem o protagonista tampouco os adultos escapam do diagnóstico. 

Contudo, cabe dizer que o filme tem uma cadência leve e não é difícil de assistir, apesar da qualidade ruim. E se algo vale a pena nele, é a fotografia das paisagens turcas.

O filme fará parte da ''Competição Novos Diretores'' na Mostra SP.


SERVIÇO

Assista online todos os filmes a Mostra na plataforma ou também nos sites do SESC SP e SPCINEPLAY.

Ingressos a R$6,00

Exibições DRIVE IN

BELAS ARTES DRIVE-IN |Memorial da América Latina – Entrada pela Rua Tagipuru s/no. – Portão 2. Valores de Ingresso: R$60,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 100 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação. Valores de Ingresso: R$65,00 para carro com até 4 pessoas

CINESESC DRIVE-IN | Sesc Parque Dom Pedro II Unidade Sesc Parque Dom Pedro II – Praça São Vito s/n | Centro Valores de Ingresso: R$40,00 para carro com até 4 pessoas Capacidade: 30 carros Horários e Classificação indicativa: consulte a programação.

Site e Redes Sociais da Mostra SP:

www.mostra.org
Instagram@mostrasp
Twitter@mostrasp
Facebookhttps://www.facebook.com/mostrasp/
Youtube: https://www.youtube.com/user/mostrasp

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Cracolândia | 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


O filme dirigido por Edu Felistoque é realmente um documentário para se assistir e sair pensando sobre a situação crítica que se tornou a Cracolândia em São Paulo. Investigando, analisando comparando e tentando colocar na tela milhares de perspectivas, desde usuários e ex- usuários, a psicólogos, sociólogos, cientistas políticos, pesquisadores, ativistas, juízes, coordenadores de programas anti-drogas, policiais, chefes e assessores do departamento de saúde da capital paulistana a muito outros, a produção não só questiona, como também dá soluções e até exibe como casos internacionais similares foram resolvidos na Suíça e na Noruega, países com alta taxa de desenvolvimento econômico

Para aqueles que não estão ligados na programação da mostra, CRACOLÂNDIA tem exibição hoje, às 20 horas, direto da plataforma do Sesc Digital e merece muito a sua atenção.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Cracolândia, 2020. Direção: Edu Felistoque. Diretora assistente: Marina Franzolim. Produtora e Assistente de direção: Antônia Levy. Gênero: Documentário. Diretora e diretores de fotografia conceitual: Elisa Souza, Willian Prado, Edu Felistoque. Operadoras e operadores de câmera: Elisa Souza, Bettina Hanna, Marina Franzolim, Victor Dias Willian Prado. Operador de câmera de frente: Oslaim Brito/Canal Brito.Técnico de Som Direto: Marcos Ventura. Editor Offline: Gab Felistoque. Montadora e montador – Corte final: Raffy Dias e Edu Felistoque.Montadoras – Primeiro e segundo cortes: Sarah Trevisan, Marina Franzalim. Supervisor de Color Grade: Marco Oliveira (Core). Colorista: Leco. Criador de trilha sonora original: Guilherme Picollo. Desenhistas de som e mixadores: Guilherme Picollo, Lucas Costabile. Finalizadora: Marina Franzolim. Produtora e Produtores Executivos: Denise Castelano, Júlio Meloni, Victor Dias, Sergio Martinelli, Edu Felistoque, Eduardo Cattai. Produção: Felistoque Filmes. Coprodução: Spcine. Distribuição: O2 PlayDuração: 87'

O filme se inicia comparando imagens que exemplificam o crescimento acelerado que essa terra de ninguém teve dos anos 80 até os dias atuais. Número que hoje chega a 3000 pessoas circulando pela área por dia, uma massa com um pouquinho de fermento que virou um problema enorme. O narrador então diz que o assunto sempre gera polêmica ou sempre é deixado de lado por ser um incômodo e deixar os ânimos das pessoas muito a flor da pele, o que faz muito sentido já que a sociedade se sente atacada, mas não faz nada para resolver.


Passamos por todo o documentário com a companhia do cientista político Heni Ozi Cuckier  e este nos leva a assistir suas conversas com profissionais da área da saúde ou do campo da educação, segurança pública, governo e afins. Ele revela que a situação tem dois lados claros o da assistência social a quem vive ali e o da repressão onde se pensa em bater, prender e punir tais pessoas. Porém ele aponta que é preciso pensar como um todo na segurança pública e então ouvimos um policial civil relatar como os oficiais ao tentarem fazer entradas na Cracolândia são atacados - e mais a frente é revelado que equipes de saúde também sofrem do mesmo mal. Fala-se também na questão do crime organizado comandar o local e até levar pessoas sequestradas para lá ou ainda drogas e armas e mesmo que uma base policial esteja ali perto a dificuldade de combater e erradicar a Cracolândia é óbvia pela perca do controle.


Ao vermos discursos políticos de ex-prefeitos da cidade de São Paulo ou até do atual governador, João Dória, sentimos como nenhuma daquelas falas realmente entende o problema e sabe como tratar dele. Sejam tais políticos de qualquer corrente ideológica. Na sequência, escritores, psiquiatras e sociólogos apresentam dados estatísticos sobre como o craque afeta uma quantidade grande de pessoas e não só os usuários como suas famílias sofrem com essa situação. Abordam também os problemas graves que ele cria a partir do tráfico da droga como o aliciamento desses usuários que até chegam a se prostituir para consumi-lo e como ele também atrai pessoas de distintas idades e sexos.




É explicado que a droga em si é uma variação da cocaína sendo que aquela se injeta ou se cheira e o craque se fuma. Este provoca uma sensação muito intensa e que tende a exigir daquele que o experimenta a necessidade de mais e mais, pois o escapismo que surge dali traz prazer. Por isso, a conversa chega ao ponto da prevenção e de como as pessoas a margem da sociedade precisam ter acesso a cultura, lazer e ainda orientações espirituais. Algo que muitos daqueles que ali estão talvez nunca tiveram. 


A Cracolândia despertou o interesse de muita gente e é interessante ver como algumas ONGs tentam trabalhar em prol da defesa daquelas pessoas e do seu direito a escolha, mentalidade que pode ser complicada de se relacionar ao falar de indivíduos que não tem mais o controle da própria vida. O ativista responsável pela ONG ''Craco Resiste'' também compara o uso do craque ao álcool e traz pontos controversos e muitas vezes difíceis de se salvar. 


Se temos todo um grupo preocupado e debatendo um assunto tão relevante, vez ou outra, ouvimos relatos escabrosos de usuários da droga e de como eles avaliam suas jornadas ou do que viram dentro da Cracolândia - abortos, prostituição, estupro, roubo, tentativa de assassinato e etc. Sua relação perdida com familiares também é pauta aqui.

E quando se fala no quadro jurídico do que acontece, é lembrado como as leis no país por anos começaram a suavizar a vida do traficantes, principais donos do lugar. Logo, se entende que impunidade virou moda e começou-se a alimentar essa rede até porque a droga é um negócio que gera lucro. Outro quadro que se comenta e se critica é o papel da mídia e do cidadão comum. A primeira sempre focando nas ações violentas realizadas ali e o segundo muitas vezes revelando se sentir mais protegido pelo crime organizado do que necessariamente pela polícia. O papel a primeira, é fácil. Vender jornal sempre foi importante e o trabalho da polícia nem sempre é tão estrategicamente pensando no social dai se vê o porquê a fala das pessoas comuns.


O filme tem uma visão bem detalhista e apresenta ideias práticas, fala de intervenção, apresenta dados de outros países onde foram criadas clinicas para o uso controlado de drogas e prevenção a doenças e surtiu um efeito positivo, até mesmo reduzindo o uso, porém lá o número de usuários também já era menor, diferente do que vemos aqui. Consegue discorrer ainda sobre como as mudanças constantes dos programas do governo não tem credibilidade e nem mesmo quem é atendido acredita nele e que só com uma politica integrada é que esse cenário pode chegar a ser menos aterrorizante.

Portanto, é importante refletir sobre como aquele usuário quando sai do seu lugar de escória e tenta retornar a sociedade é julgado e não se sente nem um pouco seguro ali. Nem menos tem uma mão amiga. Assim, seria necessário reconhecer a doença grave que temos em nosso país e humanizar aquelas pessoas. Saber de cada um ali o que eles realmente precisam. Além de olhar fundo e verificar se a sociedade também faz autoanálise da sua pouca ação diante disto tudo. 

Felistoque tem em sua filmografia os filmes: Zagati (2001, 26ª Mostra), Soluços e Soluções (2001), Musicagen (2007, 29ª Mostra), Trilhos Urbanos (2007), Inversão (2010) e Insubordinados (2013, 38ª Mostra). Também produziu o filme 400 Contra 1 - Uma História do Crime Organizado (2010), de Caco Souza, e dirigiu a série Bipolar (2010) e aqui com entrega um filme racional e equilibrao.


Serviço:

CRACOLÂNDIA – 44ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA EM SÃO PAULO

ESTREIA 29 DE OUTUBRO, ÀS 20h

Um filme de Edu Felistoque

See Ya!
B-